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Opinião: A segurança alimentar em tempos de crise

Por a 10 de Agosto de 2022 as 14:57

Ana Machado_SGS PortugalPor Ana Machado, Certification Product Manager da SGS Portugal

Diariamente recebemos, através dos noticiários, relatos de dificuldades do mercado em dar a melhor resposta às conformidades legais ou às exigências do cliente final. Hoje, o caminho percorrido pelos produtos alimentares é muito longo e, por isso, torna-se essencial controlar desde a produção até ao momento em que chegam às nossas mesas, garantindo o seu correto embalamento, armazenamento, transporte e distribuição.

A garantia da qualidade e segurança ao longo de toda a cadeia de abastecimento é, cada vez mais, um desafio, sendo necessário ter uma visão holística da mesma em tempo real, garantindo o cumprimento dos requisitos, bem como identificar, monitorizar e avaliar possíveis melhorias. Todos os intervenientes no processo, sejam eles produtores, distribuidores, retalhistas, têm de estar atentos para validar e exigir a máxima qualidade. Assim, a correta gestão do risco associado à trajetória dos produtos alimentares ao longo de toda a cadeia de abastecimento assegura melhores negócios às organizações, permite o cumprimento das obrigações legais e contratuais, e, por fim, salvaguarda a proteção dos consumidores.

Com o objetivo de melhorar a segurança das cadeias de abastecimento, foi desenvolvido o documento normativo ISO 28000 que permite às organizações estabelecerem um sistema global de gestão da segurança da cadeia de abastecimento. Este trata-se de uma avaliação das condições de segurança em que operam, determinando se estão a implementar as medidas de segurança adequadas, bem como o cumprimento de outros requisitos regulamentares aplicáveis. As organizações devem implementar todos os mecanismos e processos para dar resposta às necessidades resultantes da avaliação de segurança realizada.

Os constrangimentos causados pela crise mundial, e em especial na Europa, levam as organizações a recorrerem, cada vez mais, a recursos e fornecedores geograficamente distantes. Em grande medida, devido à disponibilização de mão de obra e recursos naturais mais vantajosos do ponto de vista económico. Todavia, paralelamente, apresentam mais riscos para a segurança alimentar. Por este motivo, é imperativo que as organizações selecionem e avaliem os seus fornecedores de modo a cumprirem os requisitos regulamentares e as boas práticas quanto aos objetivos da qualidade e segurança alimentar. Com o agravamento da situação sociopolítica tornar-se-á ainda mais escassa a rede de fornecedores que cumprem com os requisitos europeus. Acrescido desta problemática, é ainda importante a acreditação ser desenvolvida por organismos de referência e reconhecidos nos referenciais de segurança alimentar, na medida em que essa avaliação tem de ser realizada de forma independente, competente e imparcial.

Paralelamente, as organizações enfrentam também outros desafios à segurança alimentar que se prendem com as diversas dificuldades ao nível do transporte e do abastecimento verificadas nos últimos meses, que levam a uma escassez de ingredientes e matérias-primas já certificadas, mas também a uma maior preocupação com a higiene e validade das mercadorias devido ao atraso nos envios. Estas dificuldades têm um forte impacto na capacidade produtiva das organizações que, por causa da pandemia, já enfrentavam alterações ao nível da oferta/procura.

Para além das dificuldades já conhecidas, a nova realidade trouxe ainda imperativos no sentido da restruturação das cadeias de abastecimento, bem como dos hábitos de consumo. O futuro passa, assim, por uma maior capacidade de resiliência, flexibilidade e agilidade, para que as organizações consigam lidar mais facilmente com as disrupções e eventuais crises mundiais.

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