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Migração de consumo de óleo para azeite será marginal

Por a 13 de Maio de 2022 as 18:07

laurel-g56111129f_640A Ucrânia, conhecida como o celeiro da Europa, é o principal fornecedor de óleo alimentar a Portugal. Com a guerra naquele país, os preços deste produto subiram em flecha e há quem acredite que poderá haver, por parte do consumidor, uma transferência de consumo para o azeite. Mas, será mesmo assim? A Sovena, um dos principais produtores portugueses do “ouro líquido”, afirma que, em março, houve alguma migração de consumo de óleo para azeite, mas, segundo a empresa, trata- -se de um efeito temporário com pouca expressividade a nível global.

A Ucrânia tem uma produção marginal de azeite, ocupando um dos três últimos lugares entre os países produtores de azeite, com olivais que, no conjunto do país, não somam mais de 100 hectares. “Os atuais olivais na Ucrânia são apenas uma pequena amostra daquilo que há mais de 100 anos o setor olivicultor chegou a ser”, lembra João Cortez de Lobão, proprietário da Herdade Maria da Guarda. Mas, o mesmo não ocorre com o óleo alimentar, dado que o país da Europa do Leste é responsável por cerca de 10% da produção mundial e cerca de 21% do óleo de girassol produzido no mundo. Face a isto, é fácil de antecipar “um cenário em que vai haver escassez de óleos alimentares a preços acessíveis como até aqui”. Aliás, afirma João Cortez de Lobão, já se começa a sentir, nos mercados internacionais, a pressão em alta dos preços nos óleos alimentares, que teve como consequência também um aumento da cotação dos azeites. !”Pode-se dizer que os preços do óleo alimentar no corrente ano estão cerca de 30% mais altos do que o registo de valores médios do ano de 2021”, constata o proprietário da Herdade Maria da Guarda.

No caso específico de Portugal, o nosso país é um caso particular, dado que“ boa parte da sua produção de azeite é baseada em olivais regados (provavelmente somos o país do mundo que percentualmente tem mais olivais regados), o que permite uma produtividade elevada e, assim, uma maior estabilidade de produção, denota João Cortez de Lobão. “Tendo estabilidade numa produção elevada de azeite, tendo também uma qualidade superior e, além disso, estabilidade de produção, observamos aqui um conjunto de fatores que protegem os olivicultores portugueses da instabilidade internacional provocada com este conflito militar entre dois países que nos estão fisicamente próximos”, acrescenta. Quanto ao facto de ainda não se sentir a pressão nos preços dos azeites que encontramos no supermercado, o proprietário da Herdade Maria da Guarda dá uma explicação simples: o azeite que encontramos nas prateleiras da grande distribuição foi embalado com base em negócios feitos no final da campanha anterior. No entanto, é provável que, em breve, este movimento de subida de preço nos negócios de azeite a granel venha a ter impacto no azeite embalado e, assim, no consumidor final.

Henrique Herculano ,diretor de operações e marketing da Cooperativa de Moura e Barrancos, acrescenta que não é fácil prever nem que redução terá o consumo de óleo – pela sua pouca disponibilidade e consequente subida de preço – nem em que medida este poderá ser substituído pelo consumo de azeite, já que, apesar de terem aplicações semelhantes em diversas circunstâncias, noutras não deixam de ser produtos diferentes – o óleo raramente é utilizado em cru, tal como raramente se frita em azeite virgem extra.

Haverá, no entanto, na opinião do responsável, uma substituição parcial, fenómeno que normalmente se verifica em momentos de baixos preços no azeite, nomeadamente no produto que junta azeite refinado e virgem, procurado como alternativa ao óleo alimentar. Opinião partilhada pela Sovena que afirma que, após um período inicial de disrupção das cadeias logísticas do girassol e de subida de preços dos óleos alimentares, a situação tenderá a normalizar-se. “Haverá seguramente uma alteração do mix de óleos alimentares, com crescimento das opções de menor custo, e só marginalmente migração de consumos para azeite”, disse fonte oficial da Sovena, em declarações ao Hipersuper.

Se há algumas incertezas quanto à evolução dos preços, o mesmo não ocorre no que diz respeito ao abastecimento do mercado. Portugal é o nono maior produtor de azeite e o certo é que, afirma Henrique Herculano, não existem, de momento, razões para crer que o abastecimento de azeite possa ser afetado. Mesmo porque, acrescenta, a última campanha registou uma produção de azeite recorde. Os últimos dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), referentes ao período entre 28 março e 3 abril 2022, apontam para uma produção de 2,25 milhões de hectolitros em 2021, o que representa um aumento de 46% face a 2019, o segundo melhor registo desde 1915. Para este ano, as perspetivas são boas. A haver alguma condicionante que afete a produção não será, seguramente, a guerra na Ucrânia, mas, sim, a seca, nomeadamente nos olivais de sequeiro.

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