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O Douro vive de História e de histórias

Por a 13 de Maio de 2022 as 17:36

lavradoresdefeitoria-210716-8837Mais do que o vinho, o que se traz da região do Douro Vinhateiro é a experiência e o lado pessoal de com quem se contatou. Algo que a Quinta do Pôpa e a Lavradores de Feitoria bem sabem. A prova está nas respetivas estratégias de expansão do negócio

São duas histórias completamente diferentes, mas ambas assentam num termo simples, mas poderoso: família. O trabalhar em conjunto para um mesmo objetivo tendo por base um percurso em comum. No caso da Lavradores de Feitoria esse é um feito ainda mais curioso porque quem integra o projeto não são membros da mesma família (de sangue). Na verdade, a Lavradores, que comemora 20 anos de existência, é uma empresa produtora que resulta da união 53 acionistas, dos quais 16 “lavradores”, então proprietários de 18 quintas (hoje são 20), localizadas em três sub-regiões, com cerca de 600 hectares de vinha.

Depois de 20 anos a laborar em casa alheia, a Lavradores de Feitoria inaugurou, no ano passado, a sua adega, localizada em Sabroso, numa Quinta do Medronheiro, comprada, em 2008, especificamente a pensar nesse sonho e na implementação de uma produção biológica. Um sonho com quase duas décadas de existência.

Para a concretização do projeto, a empresa investiu, revelou Olga Martins, CEO da Lavradores de Feitoria, cerca de 3,5 milhões de euros. Valor que engloba a compra da quinta, obra, equipamentos e honorários. O projeto esteve a cargo do arquiteto Belém Lima e foi pensado, de raiz, para, caso seja necessário, permitir a expansão.

A majestade da adega vê-se ao longe, quer pelas linhas retas, quer pelo material utilizado. Aqui, impera a cor do xisto da vinha. Uma opção, segundo a Lavradores, selecionada quer pelo custo como pela eficiência térmica, que, associada à produção de energia, gerada pelos painéis fotovoltaicos, e ao tratamento de águas para a vinha, avolumam a estratégia de sustentabilidade da empresa.

A realização de um sonho com quase 20 anos e que vai permitir que a empresa tenha maior controlo sobre os seus vinhos e a expansão do negócio. Isto porque até aqui a Lavradores usava uma adega “emprestada” na Zona Industrial de Paço. Onde, essencialmente faltava espaço. Algo que na nova “casa” há de sobra. Só para se ter uma ideia a nova adega tem 3.775 metros quadrados de área, onde se inclui uma linha de engarrafamento com capacidade para engarrafar 20 mil garrafas por dia. De tal forma que a Lavradores agora passa a “oferecer” esse serviço como mais uma fonte de rendimento. A isto acrescenta-se uma capacidade de vinificação de 1.500 pipas e um armazenamento com capacidade para 300 mil litros. Mas o melhor é que, caso seja necessário, a empresa pode expandir estas capacidades, dado que isso foi tido em conta aquando da escolha da localização e da modelação do edifício. Como refere Olga Martins, há condições para aumentar a adega de forma estruturada e integrada na paisagem.

Na nova casa há um maior controlo (aliás, controlo total) sobre o envelhecimento dos vinhos, quer em barrica quer na garrafa, mas também a entrada num novo negócio. O enoturismo.

A construção da adega tem mais consequências para além do controlo da produção e armazenamento do vinho. Traz, igualmente, novas fontes de rendimento, quer pelo aluguer da linha de engarrafamento quer pela abertura do enoturismo, com visitas personalizadas feitas por um “host” da terra, de nome Eduardo Ferreira. Além disso, a adega permite que a Lavradores de Feitoria encare com outros olhos a internacionalização dos seus vinhos. Hoje, a exportação representa cerca de 60% das vendas, com a Lavradores de Feitoria a estar presente em quase 30 mercados.

 

Quinta do Pôpa: história com 15 anos que vai para terceira geração

A compra da Quinta do Vidiedo, localizada em Tabuaço, no Douro deu-se em 2003, mas a ligação da família Ferreira ao mundo dos vinhos é muito mais antiga do que isso. A compra foi o concretizar de um sonho de José Ferreira, em homenagem ao seu pai, Francisco Ferreira, mais conhecido por “Pôpa”, que tinha o sonho de ter uma vinha no Douro. Daí o nome da marca e as várias referências visuais nos vários rótulos dos vinhos.

Até recentemente, a história deste produtor como que se resumia a três momentos chave: a construção da adega, a primeira vindima (ambas em 2007) e o primeiro vinho comercializado (2010). Com a pandemia e a ida, de forma permanente, para o Douro a família começou a pensar na próxima geração – a terceira – e no que queriam deixar para a mesma. O que se traduziu na aquisição da outra metade da quinta, assim como a decisão de avançar com o enoturismo e apostar na construção de um turismo habitação – ainda em fase de projeto.

A aquisição da outra metade, mais do que o valor, refere Stéphane Ferreira, CEO da Quinta de Pôpa, deu-se mais para “não deixar perder algo que estava perto de nós”. Com a particularidade do projeto, na sua globalidade, ter sido alavancado com capitais próprios.

A par do turismo, que até agora assentava na visita e nas provas, a par de refeições vínicas, passa agora a incorporar o edifício que ficava na outra parte da propriedade. Está em marcha um projeto de reconstrução, reabilitação e modernização da quinta, nomeadamente no sentido de ter uma unidade hoteleira.

O projeto, para já, ainda em fase embrionária, está a ser desenhado por um arquiteto duriense e por um profissional que está a prestar serviços de consultoria no sentido de perceber, efetivamente, os valores associados e qual a necessidade de quartos em função das pessoas, para “haver um rácio de equilíbrio”.

Trata-se de um “projeto que já estava a ser pensado e que ganhou mais forma quando, aquando da pandemia, pensámos mais nisso”, referiu Stéphane Ferreira, acrescentando que, “se a pandemia não tivesse acontecido, provavelmente já estaríamos a fazer qualquer coisa”.

As ações a pensar no preservar de um legado para a geração seguinte passam por uma aposta na sustentabilidade. Um dos primeiros passos aconteceu em abril, mais precisamente no dia 15, altura em que todos os funcionários da empresa e respetivas famílias plantaram uma horta biológica. Este é apenas mais um passo numa estratégia com medidas já implementadas. É o caso do aproveitamento da compostagem na vinha, da geração de energia através da utilização de painéis fotovoltaicos e na substituição das máquinas por outras a utilizar o sistema elétrico.

Feitas as contas a quinta tem hoje cerca de 40 hectares e a empresa produz cerca de 100.000 garrafas, das quais cerca de 60% destinam-se ao mercado externo (com destaque para o Canadá, Alemanha e Suíça) e as restantes 40% ao mercado interno.

A vinha que consta da metade adquirida vai permitir que a empresa compre menos uva – até aqui todas as uvas brancas eram adquiridas a terceiros, dado que a vinha da quinta apenas contempla castas tintas. A vinha foi, entretanto, plantada com a empresa a optar por Alicante Bouschet, Touriga Franca, Tinta Bastardinha, Tinta Francisca, entre outras castas.

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