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Pode um hipermercado ser o local onde obtemos bens de primeira necessidade, mas também energia?

Por a 6 de Maio de 2022 as 13:32

BasílioSimoes_cleanwattsPor Basílio Simões, presidente e cofundador da Cleanwatts

É fundamental que o retalho e a distribuição – tão importantes para a vida económica e das famílias – se assumam como um dos líderes em sustentabilidade e descarbonização. A ideia central pode passar por transformar os grandes espaços comerciais (supermercados, hipermercados e centros comerciais) em clientes-âncora para comunidades de energia locais, reforçando, assim, o seu papel de serviço à população. Usar os telhados destes espaços para produzir energia limpa, não apenas para as suas necessidades, mas também para fornecer à comunidade circundante: integrando os seus colaboradores e fidelizando os seus clientes, através da criação de uma Comunidade de Energia Renovável (CER) de que todos poderão fazer parte, consumindo a energia solar gerada em excesso nos telhados do seu supermercado de eleição. Por que não olharmos para um hipermercado como o local onde obtemos bens de primeira necessidade, mas também energia? Estes espaços passariam de simples consumidores de energia para produtores – criando uma alternativa ao mercado e uma fonte de receita adicional – e poderiam oferecer eletricidade limpa a partir de fontes renováveis, a preços mais baixos do que aqueles que são praticados pelas principais empresas do setor.

As CER surgem como resposta aos grandes desafios da transição energética: a necessidade de descarbonização do planeta e os elevados custos da energia. A sua proposta é a criação de uma comunidade sustentável, com centrais de produção de energia, onde todos os membros consomem energia verde, limpa, produzida localmente e a custos reduzidos. Deste modo, a energia não se desperdiça, pois quando o hipermercado está fechado a energia solar é consumida nas casas vizinhas. A esta comunidade podem também juntar-se membros que já tenham ou queiram instalar painéis solares nos seus telhados, cuja energia excedente será também partilhada e poderá, por exemplo, dar direito a descontos no supermercado, reforçando assim os laços entre o retalhista e os seus clientes.

É necessário impulsionar a transformação que garanta que as grandes cadeias atingem as metas de redução de emissões, em conformidade com o Acordo de Paris. Mas, também, que aproveitam o número crescente de oportunidades de negócio resultantes da transição para baixas emissões de carbono, tornando o seu negócio mais sustentável. Também no retalho e na distribuição está na hora de as empresas tomarem verdadeiras medidas para mitigar as alterações climáticas e criarem uma resposta coletiva e um modelo de futuro, capaz de responder a um dos maiores desafios do nosso tempo: a descarbonização da economia global.

A sustentabilidade ambiental deve ser um dos pilares da estratégia e já várias grandes cadeias de distribuição deram mostras, nos últimos anos, de o entender, através de ações concretas. A criação de um modelo de infraestruturas que permite que parte significativa da energia consumida seja em modelo de autoconsumo, havendo produção local de energia renovável e limpa, pode e deve ser adotada também no retalho e na distribuição. Mas há outras medidas a tomar. As grandes cadeias de distribuição estão a apostar em carregadores de veículos elétricos. Quem trabalha diretamente com o consumidor final deve consciencializá-lo para a sustentabilidade enquanto fator de decisão nas escolhas finais de consumo. E a disponibilização do carregamento, em locais onde os veículos possam ficar a carregar enquanto o cliente usufrui de serviços essenciais, como as compras no hipermercado, contribui para aumentar a atratividade da mobilidade elétrica, de baixo impacto ambiental.

O pacote legislativo apresentado pela Comissão Europeia prevê um conjunto de medidas para reduzir as emissões de dióxido de carbono em, pelo menos, 55% até 2030 e as CER são a resposta a este grande desafio da transição energética. Estes são os valores e as ambições para o planeta e o compromisso da redução da pegada carbónica deve ser assumido por todos. O futuro não espera e está já ao virar da esquina: o retalho e a distribuição não podem perder a oportunidade de fazer parte da revolução energética.

 

 

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