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Embalagens: preços vão aumentar

Por a 3 de Maio de 2022 as 10:49

AdobeStock_460682811Os custos associados à produção de embalagens não param de aumentar. Matérias-primas, energia, transporte. Não há fim à vista. As empresas investem na eficiência operacional para absorver estes aumentos, mas isso só é possível até determinado ponto

Os portugueses estão a gastar mais dinheiro no supermercado e a trazer menos produtos para casa. Em causa está um conjunto de circunstâncias que levaram a aumentos de matérias-primas nos últimos dois anos.

“Durante 2021, a principal razão foi um grande desequilíbrio entre a oferta de papel e a procura de produtos à base de papel em todo o mundo, com dois fatores estruturais, a substituição do plástico e o e-commerce como aceleradores da procura, e um fator conjuntural, a maior procura pontual devido à pandemia”, aponta Teo Pastor, diretor de marketing & vendas da Smurfit Kappa Espanha, Portugal e Marrocos.

Mas, esse não foi o único fator. Aliás, a causa mais recente prende-se com o aumento excecional de todos os custos de fabrico da matéria-prima, como o papel e cartão, devido, por um lado, à atual crise energética que afeta todos os setores, incluindo o papel e o cartão. “De facto, várias fábricas de papel na Europa pararam a produção ou encerraram”, explica o executivo. Por outro lado, deve-se à crise logística, que está a sofrer com a falta de motoristas profissionais e o aumento dos custos do petróleo e à atual crise geopolítica e ao bloqueio das relações comerciais com a Rússia, que conduziram à escassez de certas matérias-primas, acrescenta Teo Pastor.

A isto, Sandra Carvalho, diretora de marketing da Media Pack, acrescenta que a pandemia fez disparar os preços dos transportes devido às constantes restrições que se têm verificado e à escassez de cartão.

Já Ricardo Neto, diretor executivo da MPlastic, considera que o aumento das matérias-primas plásticas se deve maioritariamente à escassez e especulação pós-pandémica. “No entanto, o aumento do custo da eletricidade também contribuiu significativamente para este ponto, resultando no substancial aumento dos custos de fabrico de embalagens”, acrescenta.

No caso da Eurogrip, os transportes são o principal fator de aumento de custos porque, como revela Eugénio Bulhosa, web designer, a empresa depende em larga escala da importação. E os últimos anos foram os mais difíceis. A pandemia não só colocou constrangimentos nos transportes como inclusive levou ao encerramento de portos, o que provocou um grande impacto na rede logística mundial.

“A resina, o principal componente de custo de uma embalagem, registou um aumento um aumento superior a 50% em 2021, tendência que se manteve em 2022”, reflete Luís Almeida, CMO da Logoplaste, acrescentando que a estes custos há que contar, igualmente, com os da energia, dos transportes, da equipa, e inclusive dos equipamentos que necessitam de manutenção.

Quando questionado se, com a guerra na Ucrânia estas condicionantes irão permanecer, a resposta é rápida: “Vivemos um contexto em que a única certeza que temos é a incerteza”. Feita a análise ao panorama mundial, o executivo da Logoplaste salienta que existem muitos fatores que influenciam o custo dos materiais para a produção de plásticos: preços na produção na origem, a procura, a disponibilidade, os custos logísticos, a cotação do preço do petróleo, a supply-chain, entre outros. A guerra, naturalmente, traz ainda mais incertezas e, como a maioria dos plásticos está direta ou indiretamente indexado aos preços do petróleo, naturalmente, a guerra vai aumentar o risco de tendência de subida de preços dos materiais e dos custos da energia para a produção das embalagens plásticas.

Pedro Estrela, do departamento comercial da Penta Ibérica, é mais taxativo. Não só perspetiva a continuação do cenário inflacionista (e novos aumentos de preços) como afirma que os mesmos já estão a acontecer, nomeadamente no alumínio (25%), o Polipropileno (15%) e no PET (10%). Na mesma linha, Sandra Carvalho refere que a Media Pack já previu um aumento de cerca de 30% nos próximos meses. “Receamos que não pare por aqui”, confessa.

Estes aumentos e a incerteza sobre o futuro tem consequências no negócio. A Smurfit Kappa, por exemplo, revelou que, no último ano, teve de rever e ajustar o preço, em função do aumento dos custos associados à produção de papel e ao fabrico de embalagens.

Já a MPlastic revela que, em média, os preços das embalagens aumentaram cerca de 25%, desde o início até ao final de 2021. “Obviamente, esta relação não é a mesma para todos os produtos, porque temos uma amplitude de dimensões de embalagens muito alargada, desde os 100ml até aos 30L”, acrescenta Ricardo Neto.

Um aumento igualmente sentido pela Media Pack. Segundo Sandra Carvalho, os custos da empresa tiveram um aumento que rondou os 25%. No entanto, a Media Pack absorveu parte desse valor, não passando a totalidade dos mesmos para os clientes. A Eurogrip, por seu lado, embora tentasse absorver parte dos aumentos (sacrificando as margens) viu-se obrigada a transferir em 20% os custos para o mercado. Sendo que, explica Eugénio Bulhosa, a empresa tenta sempre fazer um comunicado prévio aos clientes a explicar (e justificar) o aumento.

 

É inevitável passar custos para os clientes?
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Para já, as empresas estão a absorver parte dos aumentos associados às matérias-primas, à energia e aos transportes. Mas, isso, só é viável até certo ponto. No caso da Mediapack, por exemplo, como refere Sandra Carvalho, “o aumento de custos é absorvido em parte na nossa margem para continuarmos a ser competitivos e minimizar o impacto nos nossos clientes, porém é impossível não projetar parte dos custos ao produto final”.

Ricardo Neto lembra que o “mercado está, infelizmente, estruturado de uma forma na qual quem sofre, em primeiro lugar, o aumento dos preços dos materiais são os transformadores. Desde 2021 que temos vindo a sofrer este efeito, sendo que uma parte substancial dos aumentos de custos na produção acabaram por ser suportados por nós”.

O responsável acrescenta que, apesar de se ter chegado a um ponto em que as empresas têm de transferir parte dos custos para o mercado, “ainda não conseguimos atingir as margens com que estávamos antes desta crise”.

Teo Pastor considera, por seu turno, que a área de embalagem também sofre com este aumento, que afeta tanto os fabricantes de embalagens como a indústria de produção que as utiliza. “A adaptação a aumentos de custos é muito difícil para qualquer tipo de empresa, independentemente do setor a que pertence”, refere.

Como ultrapassar esta situação? Otimizar as embalagens para ajudar os clientes a encontrar eficiências ao longo de toda a cadeia de fornecimento, proporcionando-lhes poupanças significativas para o negócio e benefícios importantes: menores custos de paletização, utilização perfeita da carga, melhora no espaço de armazém, transporte otimizado de cada envio ou a presença mais eficiente do produto no ponto de venda, responde o diretor de marketing & vendas da Smurfit Kappa. No caso da empresa, isso é possível porque tem uma equipa de mais de mil desenhadores, que trabalham de uma forma interligada para otimizar soluções e minimizar custos ao longo do processo. Uma equipa que depende, explica o executivo, da digitalização, através de ferramentas como o SupplySmart, que calcula a poupança potencial de todos os aspetos da cadeia de fornecimento para obter a melhor solução com o menor custo total, e o Paper to Box, um software que concebe a composição de papel mais adequada para obter o máximo desempenho sem perder qualidade, assegurando que tanto a composição do papel como o desenho da embalagem são adequados para a utilização requerida.

“Fizemos aquilo que consideramos ser o possível para travar, pelo menos de uma forma imediata, o aumento dos preços”, revela Sandra Carvalho, afirmando que a empresa, através de um esforço financeiro e logístico, optou por aumentar o stock de cartão para assegurar os preços nos próximos meses. “Ainda assim, sabemos que não é uma medida totalmente eficaz, já que os aumentos vieram para ficar e não serão ultrapassados até necessitarmos de adquirir novamente a matéria-prima”.

Ricardo Neto, por seu lado, alerta para o facto de a solução depender da interajuda de todos. “O trabalho não pode ser feito somente internamente, mas também externamente. Do lado dos fornecedores, procurando alternativas de materiais e origens que nos permitam manter a qualidade dos produtos, mas com novas soluções que nos permitam reduzir o impacto no custo dos materiais e energia. Do lado dos clientes, trabalhando otimizações nas embalagens existentes ou novas”, afirma.

O certo é que não há uma resposta única para travar esta escalada de preços. Se, para Pedro Estrela, tudo se resume a, para já, acabar com a guerra, Ricardo Neto considera que o número considerável de variáveis e incertezas torna difícil responder objetivamente a esta questão. “Para além do fator preço, a escassez obrigou-nos a um esforço adicional para garantir as matérias-primas necessárias e, consequentemente, para cumprir o que temos acordado com os nossos clientes. Isto porque, sem embalagem, não haverá decerto produto acabado à venda no mercado”, refere.

Sandra Carvalho, por outro lado, aponta que os principais causadores são fatores externos “que não conseguimos controlar e que influenciam e inflacionam os preços de toda a cadeia de valor”. Na mesma linha, Teo Pastor aponta que não está nas mãos da indústria parar a subida dos preços, uma vez que está ligada aos diferentes problemas e crises que estamos atualmente a viver, tais como energia, logística, geopolítica e a escassez de matérias-primas. “Na medida em que essas causas forem mitigadas, esperamos que a situação se reverta.”

Já Luís Almeida alerta que não há ganhos de produtividade que compensem os aumentos que se estão a registar. Não havendo uma solução única para travar a escalada de preços, o CMO alerta para a necessidade de encontrar novas fontes de energia. E perceber se vale a pena investir na energia nuclear. Mesmo assim, “só o tempo de implementação, estamos a falar de décadas”, pelo que não seria “a” solução para o problema atual.

 

Sustentabilidade e inovação de mãos dadas

Há atualmente uma maior consciência ambiental por parte do consumidor. E isso traduz-se na exigência de embalagens mais sustentáveis. E a verdade é que a indústria já está (há algum tempo) a trabalhar nessa matéria. Veja-se o caso da Smurfit Kappa Portugal (e restantes fábricas do grupo). Como explica Teo Pastor, a empresa tem feito investimentos significativos desde 2005 para tornar as suas operações mais sustentáveis. “Isto levou-nos a lançar a iniciativa ‘Better Planet Packaging’, que luta contra os resíduos no nosso planeta através de embalagens sustentáveis, concebendo soluções inovadoras e sustentáveis à base de papel que substituem as fabricadas em materiais menos sustentáveis”, explica, acrescentando que a empresa tem como objetivo atingir zero emissões líquidas de CO2 até 2050. “Ao reduzir as nossas próprias emissões e ao fornecer soluções otimizadas de embalagens à base de papel, podemos ajudar toda a nossa cadeia de valor e outros setores a reduzir a sua pegada de carbono e evitar o desperdício dos produtos dos clientes”, constata.

Sandra Carvalho, por seu lado, refere que todas as embalagens da Mediapack têm certificado FSC, o que garante o cumprimento de normas que respeitam uma gestão florestal que adota práticas sustentáveis. “Além disso, temos como objetivo até 2025 excluir a 100% o plástico das nossas embalagens e adotar uma personalização com tintas à base de água o que contribui de forma relevante para reduzir a pegada de carbono na embalagem”, acrescenta a executiva. Em termos de iniciativas, a empresa aposta, entre outras, na substituição de materiais com uma pesada pegada ecológica. Um exemplo? A esferovite que era comum utilizar para acondicionar produtos frágeis dentro das embalagens e que a empresa extinguiu por completo. “Temos vindo a direcionar para materiais biodegradáveis com uma excelente relação entre resistência e sustentabilidade”, aponta Sandra Carvalho.

Ricardo Neto assume que a sustentabilidade é um dos pilares fundamentais da MPlastic. “Recentemente, executámos um projeto, que contemplou a construção de uma unidade fabril e a aquisição de equipamentos de última geração que visam aumentar a eficiência energética e operacional. Prevemos ainda a curto prazo a instalação de uma unidade fotovoltaica com vista ao autoconsumo”, refere, acrescentando que, no caso da embalagem propriamente dita, têm explorado vários caminhos em diferentes estágios do processo. As várias iniciativas levadas a cabo pela empresa têm como objetivo maximizar o trinómio de usabilidade pelo utilizador, eficiência produtiva e sustentabilidade. “Na fase produtiva, os vetores passam a ser a otimização na seleção e distribuição do material da embalagem, com vista a reduzir a quantidade de plástico incorporada. O aumento da reciclabilidade das embalagens, não apenas da garrafa, mas do conjunto (tampa, rótulo, entre outras), reduzindo misturas de vários materiais, também tem sido uma medida tomada. Na questão das matérias-primas, a direção passa atualmente pela incorporação de reciclados pós-consumo e de utilização de alternativas biodegradáveis. Neste campo, é fundamental estudar e adaptar os processos produtivos a esta nova tendência e é neste sentido que temos vindo a desenvolver alguns trabalhos com universidades”, constata.

O certo é que as exigências dos consumidores estão a provocar alterações no mercado e na indústria. “Na questão da embalagem, existe uma tendência de procurar produtos mais eco-friendly, com incorporação de plástico reciclado ou utilização de matérias-primas biodegradáveis. No entanto, a questão do design é, sem dúvida, um dos fatores pelos quais somos procurados, porque é uma forma de os nossos clientes melhorarem e diferenciarem os seus produtos”, revela Ricardo Neto.

Já a Logoplaste procura, em primeiro lugar, reduzir a utilização de material nas embalagens. Minimizar o seu peso, mas manter todas as funcionalidades. A par do aumento da incorporação de material reciclado, o que “muitas vezes significa redesenhar as embalagens por completo”, termina Luís Almeida.

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