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José Galvão (Savills): As crises são catalisadoras

Por a 27 de Abril de 2022 as 10:26

José Galvão Savills PortugalJosé Galvão, director de agency retail da Savills Portugal

Nenhum setor de atividade gosta de crises. O retalho não é exceção. Depois de dois anos em contexto pandémico – com encerramentos de lojas, limitações regulamentares e alterações nas regras de acesso e horários de funcionamento – a oferta teve de adaptar-se à consequente alteração dos hábitos de consumo.

Após a crise sanitária, o mundo foi surpreendido com uma guerra. Os efeitos são globais. Ao aumento generalizado de preços e à inflação, soma-se o aumento das taxas de juro com impacto no investimento. Mais uma vez, os padrões de consumo irão sofrer alterações.

Em química, um catalisador é uma substância que aumenta a velocidade de uma reação. Em alguns setores da economia, como o retalho, estas crises são o catalisador da mudança que irá consolidar um novo paradigma. A crescente importância da digitalização e da sustentabilidade, e a conveniência como principal driver de consumo, trazem uma nova complexidade, mas também novas oportunidades de crescimento para o comércio a retalho.

Apesar do contexto, o setor tem demonstrado uma capacidade de adaptação surpreendente. Praticamente todas as atividades, da restauração aos serviços, da moda ao retalho alimentar, adaptaram-se e reviram os processos, produtos, preços e distribuição, de forma a lidar com os novos desafios.

O caso da restauração é paradigmático. Para responder aos desafios do confinamento e do teletrabalho, houve necessidade de evoluir para soluções de delivery e take away e de investir no comércio de proximidade. O aparecimento de dark kitchens é mais um exemplo da capacidade de adaptação que alguns operadores de restauração demonstraram em plena crise.

Também a distribuição alimentar revelou capacidade de adaptação e dinamismo nos últimos dois anos. Beneficiando da generalização do teletrabalho e das regras de confinamento, os operadores de retalho alimentar investiram em formatos de comércio de proximidade de forma a responder à principal necessidade dos consumidores: conveniência.

As principais marcas no setor de moda aceleraram os planos de investimento no e-commerce, de forma a dar resposta ao crescente peso nas vendas que o canal online passou a representar. O receio de “canibalização” de vendas nas lojas físicas foi ultrapassado e o canal online é hoje mais um canal de distribuição.

Nenhum setor de atividade gosta de crises. O retalho não é exceção. Mas as crises impulsionam e forçam a mudança. São catalisadoras. Os impactos em muitos operadores serão dramáticos, mas, quando a tempestade passar, o setor terá maior profissionalização, melhor qualidade, melhor serviço e maior consciência e responsabilidade sociais. E isso são boas notícias para todos.

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