Portuguesa Stratio entra em nova fase de crescimento global

A necessidade aguça o engenho, diz a sabedoria popular. E aqui, parece ser o caso. Depois de perderem um voo “muito importante”, porque o autocarro onde seguiam avariou, Rui Sales e Ricardo Margalho viram-se confrontados com a ideia de criar um mecanismo que permitisse prever todas as avarias dos automóveis, eliminado, ao mesmo tempo, paragens forçados que afetam o transporte de pessoas, mercadorias e bens essenciais em todo o mundo. Sempre com o mundo em perspetiva, Rui Sales e Ricardo Margalho lançaram, em 2017, a Stratio. A plataforma de manutenção preditiva de frotas, em tempo real, tem origem em Coimbra, mas, quatro ano após o seu lançamento, está implementada em cinco das dez maiores empresas de transporte do mundo. “O caminho levou-nos a desenhar e desenvolver tecnologia para manutenção preditiva para resolver este problema”, resume Rui Sales, presidente da tecnológica portuguesa, em entrevista ao Hipersuper.

No modelo de negócio desenhado pela tecnológica portuguesa, os clientes contratam um modelo de subscrição anual que lhes permite aceder à tecnologia, sem custos de aquisição de hardware e encargos adicionais.  Em 2019, na primeira ronda de investimento, a Stratio levantou três milhões de euros e aplicou a maior parte desse valor à investigação e desenvolvimento da tecnologia. “Em 2020, 65% do nosso orçamento foi dedicado à investigação e desenvolvimento”, exemplifica Rui Sales, afiançando que a empresa cresceu 2700% em “annual recurring revenue” desde a ronda inicial de investimento até à presente data.

Em novembro do ano passado, a empresa de Coimbra levantou mais 12 milhões de euros, numa ronda de investimento Série A, liderada pela Forestay Capital e que contou com a participação do anterior investidor Crane Venture Partners.

Com este investimento, a Stratio estabeleceu três objetivos: reforçar o negócio nos mercados onde já opera e entrar em novos países, como os EUA e a Alemanha, continuar a investir “fortemente” na tecnologia e contratar engenheiros, duplicando a equipa até ao final de 2022.

EXPANSÃO INTERNACIONAL
Quatro anos depois do lançamento da empresa, a Stratio está presente com a sua tecnologia em dez países europeus (Portugal, Espanha, França, Reino Unido, Irlanda, Holanda, Républica Checa, Dinamarca e Rússia). “Ainda há muita margem para crescimento nesta região”, constata Ricardo Margalho, CEO da empresa de Coimbra. Está ainda presente na América do Norte, América Latina e Ásia. São projetos ainda no início, mas com “enorme potencial” em mercados como o Canadá, a Austrália, Singapura, México e Brasil, avança o responsável. “A estratégia passa por acelerar a nossa atividade nestes mercados”.

A rápida expansão para várias geografias aconteceu à boleia dos clientes. “Muitos dos nossos clientes são grandes empresas com operações globais”, partilha Ricardo Margalho. “Na prática, temos estado a expandir as operações em conjunto com os nossos clientes que, depois de testarem a nossa solução e verem o retorno do investimento conseguido, acabam por decidir implementar a a tecnologia transversalmente nas suas frotas espalhadas pelo mundo”.

A tecnologia desenvolvida em Portugal é atualmente utilizada por empresas como a Keolis (que opera cerca 21.000 veículos em 13 países, da Índia aos EUA, e fatura mais de seis mil milhões de euros) e o ComfortDelGro Group (que opera 40.000 veículos em sete países, incluindo frotas em nove cidades chinesas).

“Estamos em negociações ativas com algumas das maiores empresas deste ‘espaço’ que já conhecem a nossa tecnologia e em muitos casos já a testaram e rapidamente perceberam o valor acrescentado. As perspetivas de entrada em novos mercados são muito boas e estamos bastante confiantes com a aceleração da nossa tecnologia na Europa, América do Norte, Ásia-Pacífico e América Latina”, avança o CEO.

AUMENTAR COBERTURA DA DETEÇÃO DE AVARIAS
O contínuo investimento na tecnologia é uma das principais alavancas do crescimento da Stratio. “É a inovação que explica o facto de sermos líderes de mercado e, para manter esta posição, é preciso continuar a permitir às empresas de transportes atingirem o seu principal objetivo: utilizarem a manutenção preditiva para nunca mais terem avarias que impactem o transporte de pessoas ou a entrega de produtos”, defende Rui Sales.

O presidente da tecnológica sublinha que a plataforma tem um grande impacto nas operações diárias de grandes frotas de camiões e autocarros. “Isso só é possível porque existe  uma combinação de Internet of Things (IoT) e Inteligência Artificial (IA) em tempo real e que resulta na produção de informação que ajuda os utilizadores da plataforma a tomar as melhores decisões possíveis no que respeita à manutenção dos veículos”. E dá um exemplo. “A decisão de fazer uma manutenção numa altura em que esse processo não afeta a rota em questão ou quando estão assegurados outros veículos para executarem um determinado trajeto”.

Parte do investimento vai ser, assim, utilizado para reforçar a capacidade de utilizar inteligência artificial para aumentar a cobertura para mais tipos de falha (mais componentes e sistemas dos veículos), assim como para construir todas as ferramentas que os gestores de frotas necessitam para “viabilizar financeiramente” a transição para frotas com zero emissões, resume o responsável.

DUPLICAR EQUIPA EM 2022
O terceiro grande objetivo é duplicar equipa, em 2022, para 120 trabalhadores. A maioria das equipas já trabalham em regime “remote first” há cerca de dois anos. A empresa opera dois escritórios (Lisboa e Coimbra) para quem tenha vontade e disponibilidade de trabalhar em regime híbrido. “As palavras de ordem têm sido flexibilidade e autonomia”, afirma Ricardo Margalho.

As contratações previstas para 2022 seguirão este modelo e o nosso foco será encontrar as melhores pessoas com as competências necessárias para os desafios que se aproximam, independentemente de onde estejam”, acrescenta. A empresa quer reforçar as várias competências de engenharia da Stratio: desde inteligência artifical, machine learning, data science/engineering, engenharia de software, sistemas embebidos e hardware,  até à gestão de produto. “Paralelamente, temos posições para as equipas de marketing, vendas e outras áreas que vão permitir acelerar bastante as nossas vendas e chegar a cada vez mais pessoas”, anuncia o CEO.

Artigo publicado na edição 398 do Hipersuper