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Os 12 temas que vão marcar a agenda do grande consumo em 2022

Por a 21 de Dezembro de 2021 as 15:33

SustentabilidadeO Hipersuper foi ao encontro de alguns dos principais protagonistas do setor do grande consumo, dos mais diversos setores de atividade, e resume em 12 tópicos as grandes tendências que vão influenciar o setor em 2022

Por Filipe Pacheco e Rita Gonçalves

1. A grande inflação

“Em 2022, uma elevada instabilidade nos custos das empresas conduzirá a uma forte tendência inflacionária”. Os alertas chegam de todos os setores de atividade do grande consumo. Alguns preços de produtos alimentares já subiram (casos dos cereais de pequeno-almoço, massas, óleo e azeite), outros vão aumentar até ao final deste ano e outros ainda no início e no decorrer de 2022. “Vamos ter um ano tenso”, vaticina Graça Mariano, diretora executiva da APIC (Associação Portuguesa dos Industriais de Carne), em declarações ao Hipersuper. É que a subida dos custos da energia, do transporte e das matérias-primas, como o cartão e o plástico, assim como as disrupções que têm vindo a afetar o normal funcionamento da cadeia de abastecimento, já estão e irão continuar a refletir-se, ao longo do próximo ano, nos preços praticados junto do consumidor final.

“Uma grande inflação irá afetar os produtos alimentares, em especial os que têm carne de porco”, avisa Graça Mariano, acrescentando que os atuais preços da carne de porco são insustentáveis e, até ao final do ano, irão certamente começar a subir. “Esta subida prende-se com o enorme incremento dos preços do cartão, do plástico, dos custos energéticos e de matérias-primas auxiliares”, justifica a diretora executiva da APIC.

Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), também está convicto de que o principal tema que irá marcar a agenda das empresas de grande consumo em 2022 será o do “previsível aumento dos preços dos bens agrícolas e alimentares, por via do aumento dos custos de produção, da energia e dos transportes”, à medida vai tendo lugar a retoma gradual do consumo para níveis da fase pré-pandemia.

O presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes, enumera, por sua vez, dois fatores principais que poderão condicionar a evolução do setor de grande consumo no próximo ano, em especial durante o primeiro trimestre. “Um desses pontos é, naturalmente, a evolução da pandemia e o outro é o aumento de preços relacionado com a escassez de algumas matérias-primas, fatores que irão implicar uma especial atenção nomeadamente nas estratégias de venda e nas políticas de preço”.

João Vieira Lopes chama ainda a atenção que a subida generalizada dos preços dos bens não é um problema exclusivo do setor alimentar. “No comércio não alimentar os problemas associados à falta de matérias-primas e às dificuldades logísticas, em setores como, por exemplo, o automóvel e os eletrodomésticos, poderão ter consequências sérias no desenvolvimento das atividades, penalizando empresas de menor dimensão ou lojistas independentes”.

2Disrupções na cadeia de abastecimento

O tema da disrupção da cadeia de abastecimento está intimamente ligado à tendência inflacionista destacada no ponto anterior. A escassez e a dificuldade de obtenção de matérias-primas, ingredientes, embalagens e outros bens intermédios essenciais à regular laboração da indústria, conjugados com a escassez de contentores, de barcos e custos e tempos de transporte sujeitos a especulação, são problemas que se irão manter em 2022, acredita Deolinda Silva, diretora executiva da Portugal Foods.

Embora a crise sanitária não esteja ultrapassada, com os seus efeitos ainda a fazerem-se sentir no mercado, a grande preocupação da fileira do grande consumo prende-se atualmente, na opinião de Pedro Pimentel, diretor geral da Associação Portuguesa dos Produtos de Marca, com a gestão dos impactos que as disrupções nas cadeias de abastecimento estão a provocar.

O diretor geral da Centromarca diz que ainda é cedo para dizer se os problemas relacionados com a cadeia de abastecimento são estruturais ou conjunturais. Sendo certo que o próximo ano será seguramente marcado pelos impactos das disrupções da cadeia de abastecimento e pela forma como inflacionarão os custos, podendo originar problemas de acesso a produtos, matérias-primas e materiais de embalagem, verifica-se por parte dos operadores do mercado uma verdadeira “corrida contra o tempo” para minimizar e corrigir esses problemas, “pelo que não é seguro se o seu efeito será marcadamente estrutural ou se, progressivamente, adquirirá contornos estruturais”.

A juntar a isso, “os efeitos económicos gerados ou ampliados pela pandemia vão também estar no topo das preocupações, pois quebras no nível de emprego ou a redução efetiva do rendimento disponível das famílias terão sempre um impacto negativo no mercado de grande consumo”, afirma Pedro Pimentel, em declarações ao Hipersuper.

Pedro Queiroz, diretor geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares, afirma estar a acompanhar de perto o desenvolvimento global do mercado de matérias-primas e a evolução dos custos, “com o objetivo de fazer parte de uma solução que deve passar pelo trabalho conjunto de toda a cadeia de valor, mas, acima de tudo, pela colaboração diplomática e económica entre os governos português e europeu”.

O diretor geral da FIPA acrescenta que tendo em conta a imprevisibilidade e a volatilidade que caracterizam atualmente o mercado, o melhor conselho que pode dar às empresas assenta na lógica do “be prepared”. “Ou seja, estarmos prontos para responder às mudanças que, mais do que nunca, podem acontecer literalmente de um dia para o outro e exigir novas formas de produzir, de chegar ao consumidor e de comunicar”.

3Saúde e conveniência: os drivers do consumo

A saúde, o bem-estar, a conveniência e a sustentabilidade serão os principais drivers de consumo no próximo ano. “Há uma clara aposta da indústria no desenvolvimento de produtores inovadores com formatos on-the-go, produtos free from (sem glúten, lactose e aromas artificiais) e produtos funcionais”, como são exemplo os probióticos e os enriquecidos em vitaminas e minerais, resume Deolinda Silva, diretora executiva da Portugal Foods, com base nos estudos desenvolvidos pela marca umbrela do setor agroalimentar nacional.

Em termos concetuais, estão a ganhar terreno os produtos e as marcas com políticas de responsabilidade ética, ambiental e social bem definidas, “uma vez que o consumidor é cada vez mais consciente no ato de compra”. As empresas devem apostar, por isso, em tecnologia que permita “a rastreabilidade dos produtos ao longo da cadeia de abastecimento e otimizar o relacionamento com o consumidor, garantindo transparência na informação e nos seus compromissos de responsabilidade ambiental, social e ética”, aconselha a responsável.

Segundo a diretora executiva da Portugal Foods, a embalagem é um dos alvos de maior investimento por parte da indústria nacional. “Não só pela sua função protetora, como pela sua intervenção no produto, quer seja na sua conservação quer seja na possibilidade de aportar novas características, mas também pela procura de soluções mais sustentáveis”, com menos plástico, biodegradáveis e recicláveis.

No que diz respeito ao consumidor português, este acentuará a preocupação com a aquisição de produtos made in Portugal. “Este é um cenário que temos vindo a observar, nos últimos anos, mas que a pandemia veio acelerar”, confirma Luís Mira, acrescentando que está a aumentar a consciência sobre as vantagens de consumir o que é nacional.

Gonçalo Lobo Xavier, diretor geral da Associação das Empresas de Distribuição (APED) acrescenta que o desejo de conveniência vai estar ainda mais presente na forma de estar do consumidor, “o que pressionará as marcas a adaptarem rapidamente as suas operações, à semelhança do que aconteceu em período de pandemia, tão caracterizado pela reinvenção e impulso das compras online”. O diretor geral da APED ressalva, no entanto, que isto não significa que a experiência em loja física irá diminuir. “Quer dizer, sim, que as compras feitas em todo o tipo de canais vão estar cada vez mais presentes, havendo um mix de utilização das ferramentas digitais e preferência por experiências em loja física”.

O diretor geral da FIPA fala no renascer de um consumidor que procura cada vez mais novos sabores, prazer e experiências na sua alimentação, fruto dos efeitos e das privações provocadas pela pandemia. Pedro Queiroz cita o World Food Innovation Barometer para indicar que, em 2020, dar resposta a este “novo consumidor” foi o principal motor (46,5%) da inovação na indústria agroalimentar.
O presidente da CCP, poe sua vez, acrescenta a tendência por parte do consumidor nacional da valorização de produtos com uma forte componente de serviço associado e de produtos mais sustentáveis ou associados a consumos mais saudáveis.

Uma das principais tendências na área da alimentação é a nutrição especializada e abarca os setores alimentar, de bebidas e suplementos alimentares. Marcas de grande consumo, fornecedores de ingredientes e retalhistas precisam de estar muito atentos às mudanças na forma como os consumidores encaram a relação entre a saúde e a alimentação no pós-pandemia, aconselhou Rick Miller, associate director of Specialist Nutrition, na Mintel, por ocasião da sua passagem pelo Porto para participar, como orador, na conferência internacional Dare2Change, organizada pela PortugalFoods, pelo Colab4Food e pelo INIAV.

De acordo com o estudo “Mintel’s Global Consumer trends 2022”, há três ideias a ter em conta quando se fala em nutrição especializada: Enjoyment Everywhere (prazer em todos os lugares), In Control (no controlo) and Climate Complexity (complexidade climática). A primeira ideia explica como os consumidores estão desesperados por experiências positivas, depois dos confinamentos a que foram sujeitos para combater a pandemia, e como anseiam explorar novas experiências no mundo virtual e físico. “Nos próximos 12 meses, os consumidores vão procurar marcas que os ajudem a escapar das más notícias relacionadas com saúde, procurando experiências positivas”, afirmou o responsável, em declarações ao Hipersuper.

No mesmo sentido, a ideia “In Control” descreve a forma como os consumidores procuram alguma estabilidade, depois de um período de incerteza que ainda não terminou. “As marcas de nutrição especializada podem capitalizar esse sentimento entre os consumidores, aumentando a transparência em torno dos ingredientes do produto, da eficácia do produto e da flexibilidade em opções de pagamento”, exemplifica Rick Miller.

Por último, a ideia de “Climate Complexity” que detalha como a preocupação dos consumidores com o clima atingiu o auge com a procura de soluções para reduzir a sua pegada de carbono. “Os consumidores procuram empresas que os ajudem a fazer escolhas conscientes enquanto compram: materiais de embalagem com menos plástico, com materiais recicláveis e produtos locais”, exemplifica o responsável da Mintel.

4. Sustentabilidade ética, ambiental e social

A sustentabilidade, nas vertentes ética, ambiental e social, estará certamente no topo das prioridades das empresas no próximo ano, até porque, como lembra Gonçalo Lobo Xavier, vão surgir novidades em matéria de legislação. “A otimização do processo de produção, a redução de recursos e energia, uma maior transparência na comunicação, assim como a diminuição da utilização de plástico, a reciclagem, o combate ao desperdício alimentar e a neutralização das emissões carbónicas vão estar na ordem do dia”.

Ter um propósito social tornou-se mandatório durante a pandemia e vai passar a fazer parte do comportamento e da seleção das marcas por parte do consumidor, aponta Marta Brito, responsável pelos estudos de mercado da direção de marketing da Central de Cervejas. Os consumidores são atualmente mais propensos “a optar por produtos que apoiam a comunidade e que contribuem para fazer mudanças positivas no mundo”. Segundo a responsável, são os millennials quem mais se preocupa com este tema. “São as entidades públicas, nacionais e internacionais, as grandes empresas e a população como um todo que têm maior responsabilidade de ter comportamentos sustentáveis”.

Graça Borges, diretora de comunicação, relações institucionais e sustentabilidade do grupo Super Bock, considera que a sustentabilidade assumiu um papel central na vida dos consumidores. “São cada vez mais atentos e exigentes e assumem comportamentos de consumo mais inteligentes e responsáveis, o que passa, por um lado, por adquirem produtos que revelem uma maior preocupação com o seu impacto ambiental e, por outro, apresentem uma composição mais natural, adequando-se aos estilos de vida cada vez mais ativos e saudáveis”.

Patrícia Falcão Duarte, secretário-geral da Fenazeites, chama ainda a atenção para o tema do aquecimento global e da falta de água. “O sul da Europa é uma das regiões mundiais mais afetadas pelas alterações climáticas, o que provoca uma grande seca e a consequente escassez de água”, alerta a responsável, ressalvando que todos estes fatores conjugados são uma fonte de preocupação para o setor da agricultura e concretamente para as cooperativas olivícolas e os olivicultores nacionais. “A agenda das nossas empresas associadas vai passar pela adaptação às alterações climatéricas, utilização sustentável da água, redução da utilização e produtos fitofarmacêuticos e adoção de práticas mais amigas do ambiente.

5. Online continua muito acima dos valores de 2019

O ano que está a terminar mostrou que o canal online acelera e desacelera em função da maior ou menor mobilidade dos consumidores, constata Pedro Pimentel. O diretor geral da Centromarca acredita que o ano de 2022 irá consolidar essa tendência. “O que vai fazer com que muitas iniciativas, mais ou menos oportunísticas criadas nos períodos mais críticos da pandemia, sejam agora sujeitas a testes de consistência e resistência”. Pedro Pimentel acredita que será a altura de “separar o trigo do joio”, mas também “de observar investimentos de consolidação e de entrada, de forma estruturada no canal digital (por exemplo, adotando uma política de aquisições) de operadores que não o fizeram apressadamente, na fase mais dura da pandemia.

João Vieira Lopes considera provável que, com o aumento do comércio online, fecharão portas algumas lojas de rua na área do retalho especializado. Ainda assim, esta “tendência será matizada pela crescente apetência dos consumidores por lojas de rua e atividades ao ar livre”.

O presidente da CCP acrescenta que a rápida transformação da logística associada às compras online manterá o ritmo de mudança em 2022, “com a entrada de novos operadores na gestão de dark stores, o aparecimento de novas plataformas logísticas de entregas colaborativas e ainda o desenvolvimento de espaços de recolha de produtos”.

A compra online parece ter ficado mais enraizada em determinadas categorias, como é o caso dos artigos para a casa, dos bens alimentares, roupa e livros, constata a responsável pelos estudos da direção de marketing da Central de Cervejas. “É cada vez mais relevante uma oferta híbrida e complementar entre o canal online e o canal offline”, sustenta Marta Brito.

6. O regresso às lojas físicas e a recuperação gradual do Horeca

2022 ficará marcado pelo regresso dos consumidores às lojas físicas, embora com uma redução do tempo passado no espaço físico, uma tendência que resultou da pandemia e que veio para ficar. Mas esse regresso não significa mais consumo no lar. Pelo contrário. “Estima-se que aumente o número de insígnias visitadas e que o consumo no Horeca recupere lenta e gradualmente”, afirma a diretora executiva da APIC. Registar-se-á, assim, transferência de consumo de dentro para fora do lar, com a redução do número de itens comprados no retalho. “Os consumidores vão fazer um planeamento mais consciente e organizado das suas compras com um foco crescente no custo-benefício”, considera Graça Mariano.

Na opinião de João Vieira Lopes, em termos de formatos de retalho, “continuaremos a assistir à expansão de alguns grupos (novos grupos a operar em Portugal) ou expansão das redes já existentes”, acrescentando que “poderão esbater-se as diferenças entre lojas discount e outros formatos, fruto da conjugação de fatores como o preço, mas também pelos fortes investimentos que as redes de retalho discount estão a fazer em Portugal”.

7Lojistas esperam recuperação

Depois de dois anos em que grande parte do retalho especializado esteve, por diversos períodos, encerrado, os lojistas esperam uma retoma do comércio em 2022. Mas com cautelas. E muitas. “Apesar dos sinais menos positivos que se verificam ao dia de hoje esperamos que, após dois anos desastrosos, possamos ter um 2022 globalmente positivo para o setor do comércio. Enquanto associação procuramos cuidar do presente dos nossos associados, sermos proativos para o futuro”, refere Miguel Pina Martins, presidente da Associação de Marcas de Retalho e Restauração (AMRR).

No entanto, a associação que representa os lojistas considera que ainda existem sinais de preocupação. “Estamos a terminar o ano 2021 com sinais que nos preocupam e que por isso geram incerteza e imprevisibilidade. Ainda assim, diria que os nossos associados têm demonstrado resiliência e capacidade de adaptação e inovação, pelo que esperamos que possamos ter, finalmente, um ano positivo para o comércio, quer físico, quer online, quer em centros comerciais, quer na rua”, acrescenta o responsável.

Para o futuro, o presidente da AMRR considera que há um tema “absolutamente essencial” a ser tratado. “Respeita à necessidade de uma regulação equilibrada, sadia, justa entre proprietários de centros comerciais e lojistas”, sentencia.

8Marcas da distribuição e atenção ao preço ganham força

Os bens de grande consumo estão a evidenciar bons níveis de crescimento, a atingirem 3,3% na quadrissemana de 11 de novembro a 7 de setembro, em comparação com igual período de 2020, quando o crescimento andou na ordem dos 6,5%, segundo dados da Nielsen. Tanto as marcas da distribuição como as marcas de fabricante demonstram, por esta altura, bom dinamismo. No entanto, o maior crescimento vai para as marcas de fabricante, que registaram uma subida de 3,8%, enquanto as marcas de fabricante registaram uma subida de 2,9%.

E há quem vaticine que, para 2022, as marcas de fabricante registem ainda mais ganhos em relação às marcas de fabricante. “As marcas da distribuição vão ganhar terreno”, diz Graça Mariano, diretora executiva APIC, acrescentando que estas voltarão a “ganhar quota de mercado”.

Neste momento, as categorias de alimentação, de higiene pessoal e de higiene do lar são as que estão a crescer a um ritmo superior às marcas de fabricante, constituindo as bebidas a exceção, território dominado pelas marcas de fabricante. Em higiene pessoal, as marcas da distribuição apresentam um crescimento de 6,2%, enquanto que as marcas de fabricante registaram uma subida de 2,4%. Na alimentação, o crescimento das marcas de fabricante fica marcado pela estabilidade, tendo as marcas de distribuição crescido 2,9%. Já na categoria de higiene do lar, que cresceu 1,7%, as marcas da distribuição registaram um crescimento de 4,4%.

Apesar do crescimento em valor no mercado dos bens de grande consumo neste final de ano, ainda se fazem sentir receios em relação aos efeitos da pandemia no setor do grande consumo para 2022. “Os efeitos económicos recessivos gerados ou ampliados pela pandemia vão também estar no topo das preocupações, pois quebras no nível de emprego ou a redução efetiva do rendimento disponível das famílias terão sempre um impacto muito negativo no mercado do grande consumo”, sublinha Pedro Pimentel.

O responsável da Centromarca acredita, por outro lado que 2022 “será, de forma ainda mais acentuada do que o habitual, um ano de competição agressiva – e de resultado incerto – entre as marcas de fabricante e as marcas próprias dos operadores do retalho”. “O contexto económico é muito relevante, mas essa competição será empolada pela concorrência, a esse nível, entre operadores do retalho e pelo comportamento mais dinâmico que é atualmente apresentado pelos operadores de discount, onde a marca própria assume uma preponderância, mas também um peso nas vendas, muito mais amplo do que nos operadores mais convencionais”, acrescenta.

Também vincando a crise que ainda se vive na economia portuguesa, Patrícia Falcão Duarte antecipa que os consumidores focarão muitas das suas escolhas baseados no preço dos produtos. “É possível que o consumo de azeite volte a retrair-se em virtude da crise que atravessamos. A grande maioria dos consumidores não privilegia a qualidade do azeite e desconhece a diferença entre um azeite extra-virgem e um azeite virgem. Num contexto de crise a escolha vai ser em função do preço e do grau de acidez”, diz.

Já Marta Brito diz que há hábitos adquiridos, durante a pandemia, que continuarão a ser importantes para os consumidores. “Há mais atenção aos gastos. Aos poucos vamos voltando à normalidade e perdendo o medo. Mas é certo que existem hábitos que vieram para ficar, nomeadamente a atenção aos preços”, diz a responsável pelos Estudos de Mercado da Direcção de Marketing da SCC.

Por outro lado, nas prateiras do supermercado tenderão a existir as mesmas práticas anteriores à pandemia. “As promoções voltarão aos níveis pré-pandemia”, esperando-se um aumento da “frequência e profundidade promocional”, antecipa Graça Mariano.

9. Escassez de mão de obra

A falta de mão-de-obra sente-se em vários setores de atividade, desde os transportes à restauração, passando também pela construção civil e pela agricultura. Neste último setor, a CAP considera que o problema é “grave e endémico”.  “Quase não se tem falado noutra coisa desde há meses, e não apenas no setor da agricultura: a falta de mão-de-obra é um problema grave e endémico, é um problema transversal a vários setores e regiões”, afirmou, recentemente, Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da CAP, em declarações à Lusa.

Uma das culturas que está a sentir a escassez de trabalhadores é a da da azeitona. “Existe uma interrupção no ciclo migratório da mão-de-obra, derivado da pandemia COVID-19, que está a afetar a campanha de apanha da azeitona”, afirma Patrícia Falcão Duarte.

Esta crise da falta de mão-de-obra está a sentir-se a nível internacional e assume grandes proporções no setor dos transportes. No Reino Unido a falta de mão-de-obra no setor dos transportes, que se calcula que seja de 100 mil trabalhadores, fez-se sentir a vários níveis. Devido à falta de camionistas, o Governo foi chamado a intervir e convocou militares para fazerem o abastecimento das bombas de gasolina. Mas a escassez de camionistas também teve repercussões nas prateleiras dos supermercados. Problemas logísticos de transportes fizeram com que muitos supermercados tivessem lineares sem produto.

Por cá, a situação não é tão grave. E não se assistirá a falta de produto nos supermercados, como garantiram, recentemente, num congresso da GS1 Portugal, responsáveis da distribuição e da indústria. Mas o que é certo é que o problema existe.

Em setembro, Anacleto Rodrigues, presidente do Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM), avisava que o problema tenderá a agravar-se. “Não há novos motoristas a entrar na profissão. Os que chegam são imigrantes que usam Portugal como ponto de passagem para ter documento para depois irem para o Norte da Europa onde as condições são mais atrativas e para onde muitos motoristas portugueses têm ido nos últimos anos”, referia o presidente do SIMM, em declarações à TSF. O responsável explicou, por outro lado, que o agravamento da situação esteve também relacionado com a pandemia e com o crescimento do comércio online, por obrigar a uma maior movimentação de camiões.

Por parte da Antram, o problema reside no excesso de burocracia da legislação europeia.

10. Pressão sobre os fornecedores do retalho

Graça Mariano considera que 2022 será marcado por um “aumento da concorrência no retalho transferindo essa pressão para os fornecedores e produtores”. O aumento dos custos em toda a cadeia de distribuição conduzirá, por outro lado, a uma perda de margem por parte dos fabricantes. Rui Miguel Nabeiro, o grupo Nabeiro – Delta Cafés, admitiu recentemente que os fabricantes terão de conviver, em 2022, com essa realidade. No congresso da GS1, realizado recentemente, disse que a pressão passará para o lado dos fabricantes para acomodar a inflação. “Não seria realista se não estivesse preocupado com este tema. Vemos fornecedores a pedir aumentos de 30%. Como é que se acomoda aumentos de 30%? Depois, naturalmente, não é possível passar isso para o consumidor”, afirmou.

Por isso, para os responsáveis da distribuição está fora de hipótese transferir, na totalidade, o aumento dos custos para os preços praticados ao consumidor final.  Temos de encontrar processos mais simples para não passar tudo para o consumidor. Não seria correto da minha parte, com o papel que tenho no mercado, fazer uma passagem só para a distribuição. A indústria aumenta, por exemplo 20%, e eu aumento 20% na prateleira? Não é esse o nosso papel, não é o nosso propósito. Todos temos de encontrar soluções para que isto não aconteça”, afirmou, na mesma ocasião, Pedro Cid, CEO da Auchan Portugal.

Ainda assim, dada a realidade atual do aumento dos custos em toda a cadeia de valor, o consumidor final sentirá um aumento do preço dos produtos nas prateleiras em 2022. Somos um setor que procura sempre a eficiência, queremos ser eficazes na logística, sustentáveis do ponto de vista das emissões, mas este equilíbrio torna-se impossível de sustentar com custos incomportáveis nos transportes, combustíveis, etc. Tarde ou cedo, por muita eficiência que haja, vamos ter de refletir no consumidor final o valor. É inevitável”, afirmou, recentemente, em entrevista ao Dinheiro Vivo, Gonçalo Lobo Xavier.

O secretário-geral da APED não encontra, no entanto, razões para que haja um aumento da tensão nas negociações entre a distribuição e os fabricantes e produtores. “Acreditamos que os vários intervenientes na cadeia quererão corresponder às necessidades do consumidor e zelar pela manutenção de uma boa relação entre custo e valor da oferta. Consideramos que é da responsabilidade de todos trabalhar para uma maior eficiência do negócio, sem prejudicar o consumidor, estando conscientes do bom senso que deve pautar sempre neste tipo de decisões”, afirma Lobo Xavier, em declações ao Hipersuper.

O responsável evoca ainda as práticas regulatórias para colocar de parte uma eventual tensão entre as partes. “Deve dizer-se aliás que, não só o sector tem em prática um Código de Boas Praticas para a cadeia de valor, como a transposição da Directiva Europeia de boas práticas comerciais e para a qual a APED e o sector deram fortes contributos e estão confortáveis com a sua aplicação, reforçará este entendimento para bem de todas a cadeia e consequentemente, para o bem do consumidor”, acrescenta o secretário-geral da APED.

A Centromarca tem uma posição diferente em relação às negociações entre a distribuição e os fabricantes. “O final de 2021 e os primeiros meses de 2022 serão especialmente duros neste capítulo. Os retalhistas antecipam dificuldades crescentes ao nível do poder de compra de uma larga franja das famílias portuguesas e gostariam, certamente, de voltar a apostar no trunfo do ‘preço baixo’ e, especialmente, do ‘preço mais baixo’”, afirma Pedro Pimentel.

O responsável realça, no entanto, que a conjuntura inflacionista “implicará uma gestão cuidada e bem coordenada com os seus fornecedores, seja de marca de fabricante seja de marca de distribuidor, para que entre incrementos de preço de prateleira e uma mais inteligente política promocional, se consiga realizar a efetiva, e necessária, alteração de preços médios, sem que o impacto sentido a nível de preço no linear seja tão acentuado”. “Nunca esquecendo que o nível dos rendimentos não irá, por certo, acompanhar o incremento dos preços de muitos produtos essenciais e que, por essa via, a inflação é uma forma diferente de austeridade que afetará, em especial, as famílias com rendimentos mais baixos”, acrescenta.

José António Rousseau, docente universitário e consultor, considera que “as negociações entre produtores e distribuidores irão ser ainda mais difíceis e complexas”. “Exige-se a ambos e principalmente aos distribuidores que tenham consciência da situação que vivemos e compreendam os problemas de cada parte de modo a que a negociação seja não só win-win mas também win-win-win ou seja leve em consideração os consumidores”, acrescenta.

11. Requalificação dos recursos humanos

A digitalização nas operações das empresas ligadas ao setor da distribuição e da logística faz com que seja imperativo a requalificação dos seus colaboradores. E esta é, neste momento, uma das grandes apostas que se prevê, para 2022, no setor da distribuição. “A valorização dos recursos humanos será ainda uma prioridade, com a upskilling e requalificação de colaboradores a ganhar importância crescente na estratégia de motivação e desenvolvimento de capacidade de resposta às novas tendências”, refere Gonçalo Lobo Xavier.

Dentro dos 16,6 mil milhões que integram o pacote de ajuda à economia contido no Plano de Recuperação e Resiliência, uma parte do bolo será destinado à capacitação digital das empresas, que prevê a formação online e presencial para colaboradores de empresas.

O representante dos patrões da distribuição, por altura da elaboração do Orçamento de Estado, já chamara a atenção para esta necessidade. A APED, nessa ocasião reivindicava, então, “incentivos à formação e à requalificação dos recursos humanos, com foco especial nos dossiês da digitalização das empresas e das alterações decorrentes da legislação ambiental e seus objetivos”, como referiu, em declarações à agência Lusa.

No âmbito da eficiência operacional, tecnologias como 5g, Internet of Things, Machine Learning, Big Data e o Machine Learning serão essenciais para as empresas. E a rápida mudança tecnológica terá de ser acompanhada pela requalificação dos recursos humanos. E a pandemia veio mostrar precisamente como, em setores como o da logística, é necessária uma maior agilidade das operações. “O perfil destes profissionais tenderá a sofrer algumas alterações, nomeadamente nas suas competências técnicas a nível operacional, mas também a nível da sua capacidade de liderança e adaptabilidade à volatilidade do meio em que atuam, principalmente ao nível dos quadros intermédios destas empresas”, afirmava, em novembro, António Paulo, managing director de Portugal e Iberia west area manager da DB Schenker, ao Hipersuper.

Vítor Enes, na mesma altura, referia que o que se deverá esperar dos recursos humanos é que “tenham capacidade para analisar os dados e que, de forma autónoma e dentro do âmbito da sua responsabilidade, tomem as melhores decisões”. “Que não tenham necessidade de estar focados no detalhe de cada tarefa, mas antes focados nos resultados a alcançar”, explicava.

O responsável deixava um exemplo: “Os nossos colaboradores já não dedicam uma boa parte do seu tempo a procurar e gerar dados. As ferramentas digitais fornecem uma enorme quantidade de informação e o objetivo agora é identificar a informação relevante para o seguimento e a evolução do negócio, dedicar tempo a analisá-la e tomar decisões com base nessa análise”.

12. Aposta em produtos plant-based

Um estudo da consultora Lantern indica que, em Portugal, existem 1.018.000 consumidores veggies com mais de 18 anos, representando 11,9% da população, um aumento de 250 mil consumidores em dois anos.

Marcas portuguesas e internacionais estão a acompanhar de perto este fenómeno, apostando na diversificação de produtos plant-based. Em 2018, a Nobre lançou a gama Vegalia, a pensar na comunidade flexitariana. A gama começou por ser lançada com fatiados. E ao longo do tempo tem sido reforçada com hambúrgueres produzidos à base de proteína vegetal, assim como receitas preparadas de Bolonhesa de Seitan e Quinoa com Vegetais.

A Izidoro foi outra marca nacional a entrar no mercado plant-based com hambúrgueres, nuggets, bifes, salsichas e almôndegas. “As empresas continuarão a trabalhar noutras áreas nas quais têm verificado tendências a crescer nestes últimos anos. São exemplo, o campo da sustentabilidade com a procura por produtos alimentares mais sustentáveis no seu todo, das matérias-primas às embalagens, a área da nutrição personalizada, que se traduz na procura por produtos bio, sem glúten, plant-based”, afirma Pedro Queiroz.

As grandes empresas do setor agroalimentar também estão a acompanhar esta tendência, nomeadamente a Unilever, que adquiriu, em 2018, a Vegetarian Butcher, ou a Nestlé que apostou em produtos plant-based com a marca Garden Gourmet. A reforçar esta tendência, a multinacional suíça lançou, este ano, em Portugal, a Wunda, bebida vegetal à base de ervilhas.

Sinal de que o mercado acredita no crescimento do consumo em Portugal de produtos plant-based também veio da distribuição, com a aquisição, por parte da Sonae, da empresa detentora da marca de produtos produzidos à base de proteína vegetal Gosh.

A Upfield, em Portugal, pretende introduzir produtos da Violife em mais pontos de venda na distribuição. Álvaro Carrilho, head of market da Upfield Portugal, prevê que 2022 seja um ano de grande crescimento não só para os produtos da Violife. “Os próprios retalhistas também estão a evoluir nesse sentido. Dar mais espaço a estas categorias de alternativas de vegetais a queijos, a manteigas, seja o que for. Até então entendíamos não haver um espaço vasto nas lojas, principalmente em supermercados e pequenos supermercados, para este tipo de categorias. Mas a verdade é que, com o feedback que temos recebido dos próprios retalhistas, vai ser claramente uma aposta de futuro o incrementar do espaço”, refere, em declarações ao Hipersuper.

 

 

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