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Expressivos, aromáticos e menos alcoólicos. Assim são os vinhos deste ano

Por a 2 de Novembro de 2021 as 12:35
Crédito: JamesDeMers

Crédito: JamesDeMers

Colocámos as mãos nas uvas e conversámos com produtores de norte a sul do País para fazer um ponto de situação das vindimas e perceber como os vinicultores estão a modernizar as adegas para sofisticar o portefólio

 

A produção de vinho em Portugal prevista para o ano em curso está em linha com a média dos últimos anos. Os dados são ainda provisórios, mas caso se mantenha o tempo seco e quente, e tendo em conta as características da uva que já chegou às adegas, os produtores esperam produzir vinhos com boa qualidade embora com menor graduação alcoólica. A vindima arrancou em agosto e está praticamente a meio no final de setembro e estender-se-á até outubro em algumas quintas.

A Adega Cooperativa Regional de Monção, fundada em 1958, espera em termos qualitativos uma vindima em linha com os últimos anos, “com uvas de excelente qualidade que resultam em mostos muito bons”, adianta Ricardo Bastos, sales manager da Adega de Monção, em entrevista ao Hipersuper, acrescentado que, apesar de “muito expressivos e equilibrados”, os vinhos apresentam graduações alcoólicas inferiores aos do ano de 2020. Em quantidade, a adega espera uma produção em linha com a média dos últimos anos.

Também a Quinta de Melgaço espera variações pouco significativas em relação à produção do ano passado, quer em quantidade quer em qualidade. “Nesta fase ainda é prematuro falar sobre o resultado das vindimas, mas, ao que tudo indica, este será um bom ano de vindima”, avança Pedro Soares, administrador da quinta localizada na região dos Vinhos Verdes.

Mário Nóbrega, responsável de viticultura na Sogevinus, adianta ao Hipersuper que a produção deste ano estará acima da do ano passado. “As uvas para a produção de vinhos tranquilos foram maioritariamente vindimadas antes dos dias de chuva, que tiveram lugar em meados de setembro. Na adega, os vinhos tranquilos resultantes desta campanha revelam-se em geral menos alcoólicos, resultado de um ano vitivinícola mais fresco e equilibrado”.

Ângelo Machado, presidente do conselho de administração da Adega Cooperativa de Palmela, prevê uma quebra na produção de tintos na atual campanha, mas, no caso dos brancos, estima uma produção de qualidade e em linha com a do ano passado em termos de quantidade.  A Adega de Palmela vinifica em média cerca de 10 milhões de quilos de uva por ano.

A Adega de Favaios, por sua vez, estima receber dos associados cerca de oito milhões de quilos de uva este ano. Apesar de ainda se encontrar numa fase embrionária da vindima, a Adega classifica de “excelente” a qualidade da uva que já chegou às suas instalações.

Na Carmim não se podia esperar melhor desta vindima. A produção está em linha com a média dos últimos 20 anos, mas cerca de 15% acima dos valores do ano passado. “Ótimas condições de maturação com amplitudes térmicas ideais. Uva a entrar madura e muito equilibrada com acidez acima da média. Tudo aponta para uma vindima de altíssima qualidade e com produção acima do triénio anterior”, descreve João Caldeira, diretor geral da Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsaraz.

Na Aveleda, tal como em 2020, a vindima começou no Algarve com a colheita do Moscatel Galelo Roxo. Embora o clima na região tenha sido seco, a empresa espera um bom ano para os vinhos brancos. Seguiu-se a Região dos Vinhos Verdes, com a apanha da casta Fernão Pires em Cabração, região onde a vindima só deverá terminar no início de outubro. No Douro a vindima começou com a casta Vimioso e deverá prolongar-se até ao final de setembro. No caso da Bairrada, a vindima teve início em setembro e a colheita das uvas também deverá terminar só em outubro. A Aveleda estima manter a produção média dos últimos anos.

Miguel Pessanha, Chief Operating Officer (COO) da Sogrape, também espera produzir este ano vinhos de “excecional qualidade” se o clima se mantiver fresco e seco. “O estado sanitário das uvas é bom e a maturação está a evoluir muito bem”, conta ao Hipersuper.

Também a Adega Mãe se mostra satisfeita com a evolução dos mostos na adega. “Estão em linha com o perfil de frescura e mineralidade e o caracter atlântico que distingue os nossos vinhos”, afirma Bernardo Alves, administrador da Riberalves, dona da adega localizada em Torres Vedras. Com esta colheita, a empresa estima produzir dois milhões de garrafas, em comparação com as 1,7 milhões de garrafas na colheita anterior.

A Ervideira, por sua vez, espera uma campanha “ao nível das maiores dos últimos anos”, disse Duarte Leal da Costa, diretor executivo.

Adegas portuguesas mais modernas e tecnológicas

A Adega Mãe conclui no ano passado um investimento de 700 mil euros na produção e no enoturismo, com a abertura do restaurante Sal na Adega. A empresa também investiu este ano, por ocasião do 10º aniversário, num rebranding que inclui uma nova imagem, novos rótulos e novas gamas, como os primeiros Vinhos de Parcela.

A Ervideira está a ultimar um investimento num sistema informático de controlo logístico, desde a encomenda ao envio, passando pelas guias de transporte e faturação automáticos. A empresa também está a adaptar as instalações para dar resposta a um mercado mais pulverizado com encomendas mais frequentes e mais pequenas.

A Quinta de Melgaço, por sua vez, tem anualmente um orçamento de 200 mil euros para melhorar as condições de trabalho e as capacidades produtiva e de armazenamento. Este ano, o foco passou pela otimização e alargamento da capacidade de armazenamento e engarrafamento, através da aquisição de novas cubas e fermentação, entre outros equipamentos.

A Adega de Monção tem vindo a melhorar as condições tecnológicas de receção de uva, o processo de vinificação, a capacidade de armazenamento, a estabilização e o engarrafamento dos vinhos. Em 1999 aumentou as instalações com a criação de um novo centro de receção de uva e vinificação, entre 2004 e 2006 investiu cerca de 6,5 milhões para modernizar as estruturas físicas e em 2019 investiu numa rotuladora e numa máquina de fim de linha. No futuro, a empresa planeia efetuar pequenos investimentos indispensáveis para manter a capacidade produtiva e na construção de uma enoteca. Além disso, a empresa está a estudar a aquisição de painéis fotovoltaicos para aumentar a capacidade instalada, atualmente de 75Kw, e reduzir a pegada ambiental.

A Sogrape tem vindo a investir sobretudo na plantação de vinha. A empresa plantou 42 hectares na Herdade do Peso, no Alentejo, oito hectares na Quinta do Sairrão, na Bairrada, e replantou 22 hectares na Quinta do Vau, no Douro. Com estes investimentos, a empresa tem como objetivo proceder à preumiumização do portefólio de vinho e fazer a adaptação às alterações climáticas.

Nas adegas, a Sogrape digitalizou os processos da uva à garrafa em todas as instalações e modernizou a adega da Herdade do Peso. E, paralelamente, tem investido em projetos de investigação e desenvolvimento com vista, por exemplo, à substituição de produtos químicos por produtos naturais no tratamento das vinhas.

A Aveleda relata pequenos investimentos nos últimos anos, para a criação da adega “Special Series”, onde faz pequenas produções de vinho premium, e na aquisição de equipamentos para aumentar a eficiência do processo de produção.

Na Sogevinus os investimentos têm vindo a dar prioridade, nas áreas de viticultura, vinificação e comunicação e marketing, aos vinhos DOC, mas também à certificação da sustentabilidade da vinha e um estudo de castas com o objetivo de identificar as variedades que melhor se adequam às diferentes exposições e altitudes do terroir. Trata-se de uma “visão do vinho que começa, assim, na vinha, não descurando uma melhoria constante nas práticas de vinificação, como a refrigeração das uvas à chegada após a vindima, que acaba por permitir uma fermentação mais controlada, um esmagamento e desengace muito suaves, preservando a qualidade e uma remontagem muito cuidada. Estes diferentes processos e cuidados mantidos pelas nossas equipas contribuíram decisivamente para elevar a qualidade dos vinhos”, avança Ricardo Macedo, responsável de enologia na Sogevinus.

A Sogevinus mudou recentemente o nome dos DOC Douro da Kopke para São Luiz, marca que terá como assinatura “Douro sublinhado”.

“O primeiro objetivo é criar uma marca de vinhos Douro DOC, independente do universo do vinho do porto, sem, no entanto, perder o prestígio e o know-how associados à marca Kopke. O segundo é homenagear o terroir destes vinhos, responsável pelo seu carater único. Por último, e não menos importante, queremos construir uma marca com notoriedade e uma proposta de valor relevante para o consumidor”, sublinha Gabriela Coutinho, diretora de marketing da Sogevinus.

Tendo em conta os desafios inerentes aos mercados de exportação e alguns canais de distribuição, a Carmim investiu recentemente em equipamentos de estabilização tartárica por via física (eletrodiálise) para reduzir os aditivos e aumentar o nível de estabilidade dos vinhos para dar resposta a temperaturas de armazenamento mais baixas.

Já a Adega de Favaios tem vindo a investir em processos de microvinificação para produzir vinhos mais exclusivos e em processos de certificação determinantes nos mercados internacionais.

A Adega de Palmela conclui este ano um investimento para melhorar a receção de uvas que permite à empresa laborar 600 toneladas de uva. Além disso, a empresa tem em marcha um processo de informatização da logística e da parte enológica da adega. A meta é automatizar as cinco linhas de produção e aumentar a produtividade.

A Parras Wine, por sua vez, inaugurou no ano passado uma nova adega no Alentejo, alvo de 4,5 milhões de euros de investimento. A adega tem uma capacidade de vinificação de até seis milhões de quilos de uva. No Tejo, a empresa assumiu a gestão da Adega da Gouxa, onde já investiu um milhão de euros para triplicar o volume de produção.

 

 

 

*Artigo originalmente publicado na edição 395 do Hipersuper

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