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Produtores de vinho reduzem peso das embalagens de vidro

Por a 29 de Outubro de 2021 as 14:46

vinhoReduzir o peso das garrafas de vidro, aumentar a sua taxa de reciclagem e lançamento de novos formatos de packaging, como a lata e o pouch, estão entre as estratégias dos produtores portugueses para reduzir a pegada ecológica

Um pouco por todo o mundo, a indústria do vinho está à procura de embalagens mais sustentáveis para reduzir a pegada de carbono da sua cadeia de valor, mas também com o propósito de trazer um público mais jovem para a categoria de vinho. Depois do vinho em lata, chegou ao mercado nacional um novo formato de embalagem, designado pouch, de 1,5 litros. O novo packaging da marca Vinhas de Monsarraz, que pertence à Carmim, é mais leve do que a garrafa de vidro permitindo, por isso, libertar menos gases poluentes para a atmosfera durante o seu transporte.

A Adega de Favaios, por sua vez, está atualmente a concluir o processo de lançamento de um produto embalado de forma mais sustentável, anuncia Gina Francisco, diretora comercial e de marketing, ao Hipersuper, sem adiantar mais pormenores. A adega localizada no planalto de Favaios está atualmente a preparar a elaboração de um estudo, em parceria com uma universidade, que permitirá quantificar a sua pegada de carbono, assim como a dos seus associados, incluindo a quantidade de carbono sequestrado por cada quilo de uva no processo produtivo.

“Temos como política mitigar a nossa pegada ecológica, tendo já em prática a autossuficiência energética, o carregamento elétrico dos automóveis para os nossos clientes, o reaproveitamento das águas utilizadas e um processo acelerado de desmaterialização da operação”, resume Gina Francisco.

Também a Aveleda tem vindo a introduzir, desde 2014, garrafas mais leves nas marcas de maior consumo. “Com esta alteração, contribuímos para a redução no consumo de energia na produção do próprio vidro e para a diminuição da pegada carbónica pela redução do peso total no transporte”, afirma fonte oficial da Aveleda ao Hipersuper, acrescentando que a empresa também acompanha a tendência de crescimento do formato lata. “A taxa global de reciclagem da lata de alumínio é cerca de três vezes superior à do vidro, e à menor energia necessária para a refrigeração, junta-se a menor energia requerida para o transporte da lata, às quais se juntam motivações de funcionalidade e consumo ao ar livre”.

Já a Adega Cooperativa de Palmela tem em curso um projeto para eliminar o plástico das embalagens da gama Moscatelito (marca registada de Moscatel de Setúbal vendida em unidoses de 6ml), substituindo-o por uma embalagem de cartão 100% reciclado. Os trabalhadores da Adega de Palmela estão formados para diariamente reduzir os desperdícios e reciclar todos os materiais. “Em 2021, reciclámos mais duas toneladas de cartão e papel e mais uma tonelada de plástico”, conta Ângelo Machado, presidente do concelho de administração.

Na Sogrape, a preocupação com a sustentabilidade faz parte de uma estratégia holística que abrange toda a cadeia de valor. A empresa já conseguiu reduzir em 44% o peso das garrafas de vidro e 100% do cartão utilizado, por exemplo nas caixas de seis garrafas, é certificado pelo Forest Stewardship Council. “Numa das nossas marcas, o cartão usado nas caixas de seis garrafas é um cartão sem branqueamento, ou seja, que não passa por este processo e, por isso, não contém químicos na sua composição, o que, além disso, nos permite usar uma gramagem inferior ao normal”, afirma Mafalda Guedes, corporate brand&sustainability manager da Sogrape.

Garrafas retornáveis no Horeca. Qual a viabilidade?

A start-up internacional Gotham Projet tem em curso um projeto com o objetivo de eliminar as garrafas não retornáveis no comércio de vinho no canal Horeca, através da venda da bebida em barris. Questionada sobre a bondade desta ideia, a fonte da Aveleda menciona que a empresa já desenvolveu uma solução idêntica, nomeadamente em projetos de ativação de marca em contextos de grande consumo. “No entanto, esta solução nunca será passível de substituir todo o embalamento, dado que não cobre o consumo em casa, onde grande parte do consumo de vinhos em Portugal é feito”, adianta a responsável, acrescentando que as mudanças na organização da cadeia de valor para se adaptar a este circuito, nomeadamente na distribuição, que as opções de garrafa retornável exigem, são mais um obstáculo à adoção de uma solução com garrafas retornáveis.

Pelo contrário, “o reforço positivo no incentivo dos consumidores à reciclagem, é algo que deverá ser cada vez mais encorajado e a adoção de práticas, como em alguns países nórdicos através das quais os consumidores são recompensados monetariamente pelas embalagens que reciclam (há máquinas de depósito de embalagens nas ruas que retornam dinheiro por embalagem depositada), parece-nos um caminho mais interessante para aumentarmos as taxas de reciclagem em Portugal, e por consequência, de sustentabilidade”, sugere a mesma fonte.

Já a responsável pela área corporate brand & sustainability manager na Sogrape lembra que o vidro é um material que pode ser reciclado infinitamente, sendo, por isso, em comparação com outras soluções de packaging, das mais sustentáveis. “Estamos a trabalhar com os nossos fornecedores de garrafas para aumentar ainda mais as taxas de reciclagem do vidro, o que nos parece uma opção mais sustentável do que o refill. Esta solução implica uma logística inversa (retorno de garrafas vazias), que não existe na indústria do vinho (já existiu para garrafas standard da CE nos anos 70). A implementar-se, poderá conduzir a emissões elevadas devido ao transporte. Além disso, as garrafas reutilizáveis obrigam a um processo de limpeza, lavagem e desinfeção muito pesado no que toca a investimentos e utilização massiva de químicos. No cômputo geral, é de duvidar que o refill seja ambientalmente mais sustentável”, considera Mafalda Guedes.

A diretora comercial e de marketing da Adega de Favaios afina pelo mesmo diapasão. “Este tipo de solução já foi testado em Portugal sem grande sucesso, pois o cliente está habituado a um conceito mais exclusivo, dado por uma garrafa com rolha de cortiça”, afirma Gina Francisco, acrescentando que os produtores devem encontrar formas alternativas para minimizar o impacto ecológico.

João Caldeira é da opinião que o projeto da Gotham Projet merece ser alvo de análise, assim como outras soluções de sustentabilidade, embora ressalve que é necessário acautelar e gerir os riscos microbiológicos, garantir uma ampla cultura de retorno da embalagem e assegurar a preservação da genuinidade e da origem do vinho.

Duarte Leal da Costa, diretor executivo da Ervideira, é perentório. “Não acredito que vinhos de categoria premium e super premium venham a ser consumidos em plástico ou lata, materiais que em nada são menos poluentes do que o vidro”, revela o responsável pela adega alentejana. A empresa utiliza na sua maioria garrafas de vidro leves para engarrafar os seus néctares, com 70% de vidro reciclado.

A Quinta de Melgaço, por sua vez, realça que apenas comercializa embalagens de vidro e tem projetos em curso para reduzir cada vez mais o peso das embalagens.

Também é o caso da Adega de Cooperativa Regional de Monção que tem em marcha um projeto de desenvolvimento de uma nova embalagem mais leve e com menos vidro que permitirá à empresa reduzir o peso dos produtos nos transportes e, em consequência, a emissão de gases poluentes na atmosfera. “Há décadas” que a empresa implementa estratégias de desperdício zero, separação de resíduos e racionamento de águas, entre outros, na sua operação.

*Artigo originalmente publicado na edição 395 do Jornal Hipersuper

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