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A razão da onda veggie continuar imparável

Por a 22 de Outubro de 2021 as 14:53

David LacasaPor David Lacasa, partner da Lantern

A tendência ou movimento veggie é talvez a maior mudança nos padrões alimentares desde a industrialização e o aparecimento dos alimentos embalados. Já na nossa primeira edição do estudo em 2019, 9,0% da população adulta portuguesa, 760.000 pessoas, se definia como veggie (a soma de vegans, vegetarianos e flexitarianos), os primeiros dados que existiam nessa altura em Portugal.

Agora, estamos perto de lançar a segunda edição do estudo The Green Revolution Portugal, e temos lutado internamente para encontrar o termo certo para descrever o avanço do movimento veggie. Uma onda? um tsunami? Seja o que for, é claro para nós que esta mudança nos comportamentos alimentares já não pode ser obviada. Os novos dados não vão deixar ninguém indiferente. Nestes dois últimos anos temos visto muitos acontecimentos que têm tido um impacto bastante relevante e têm levado a um fortalecimento deste movimento. Lembremos que neste tempo, uma miúda adolescente, Greta Thunberg, tem sido a voz do movimento de sustentabilidade a nível mundial e tem falado frente a mandatários de todo o mundo na assembleia das Nações Unidas.

Vários documentários, como Seaspiracy na Netflix, tem tentado focar a opinião pública sobre certos setores alimentares. Empresas do setor plant-based, como Beyond Meat, já tem uma capitalização de mais de 7.000 milhões de dólares.

Por outra parte, o lobby vegan tem estado muito ativo, sobretudo contra a emenda 171 do parlamento europeu que pretendia que fosse ilegal a utilização de términos como cremoso, sem leite ou alternativa vegetal ao iogurte. Emenda que foi finalmente recusada e não tem tido efeito.

Mas temos também que ter em conta que a nova estratégia da União Europeia, o Green Deal, a sua declinação alimentar, From Farm To Fork, tem como objetivo a sustentabilidade do sistema, e para isso propõem uma mudança nos hábitos alimentares e uma maior disponibilidade de proteínas alternativas.

As marcas estão já a responder com produtos novos no mercado e com muita inovação. Uma companhia cárnica como a Nobre tem lançado uma nova marca, Nobre Vegalia, e uma grande quantidade de produtos plant-based para concorrer diretamente com o seu fiambre e presunto. Cadeias de fast food como Burguer King ou McDonalds já estão a vender hambúrgueres vegan nos seus restaurantes.

Este mercado de produtos alimentares está a ter um crescimento de dois dígitos e o potencial é enorme. A consultora Boston Consulting Group prevê um crescimento composto de 14% até 2035, sobretudo nos produtos alternativos a os lacticínios, os ovos e os produtos do mar.

Agora mesmo, as bebidas vegetais supõem a maior parte do mercado, mais iogurtes e queijo são oportunidades de muito crescimento para os próximos anos.

Isto tem atraído muito investimento para o setor Foodtech com mais de 30 mil milhões de dólares investidos em startups durante o último ano. Mais em concreto, só na área de proteínas alternativas tem acontecido 260 operações a nível global com mais de 2,3 mil milhões de dólares.

Com tudo isto, temos observado que esta tendência, bom, já mais que isso, movimento, tem não só o impulso do consumidor, mas também de muitos grupos de interesse. Os governos, lóbis, capital risco e inclusive os retalhistas estão também a puxar muito por este tipo de dietas.

No fim deste mês publicaremos os nossos resultados, e confirmaremos, ou não, se é verdade que a onda veggie está a tornar-se um autêntico tsunami.

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