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“A Phenix já investiu mais de um milhão de euros no mercado português”

Por a 21 de Setembro de 2021 as 16:50

Frederico Venâncio_PhenixA app Phenix tem origem francesa e foi desenvolvida para ajudar pequenos negócios a combaterem o desperdício alimentar, através da venda dos seus excedentes a um preço mais baixo. Lançada em Portugal em 2019, o país escolhido para dar início à expansão internacional, a app conta atualmente com 180 mil utilizadores ativos e 900 parceiros. Juntos, evitaram o desperdício de 220 mil refeições, anuncia Frederico Venâncio, diretor-geral da Phenix Portugal, em entrevista ao Hipersuper

Lançaram a aplicação Phenix em outubro de 2019, uma app que permite aos pequenos negócios combater o desperdício alimentar, permitindo a venda dos seus excedentes através da aplicação, a um preço mais baixo. No entanto, a constituição da empresa em Portugal data de 2016. Estiveram neste período a desenvolver a app?

A app da Phenix começou a ser desenvolvida no início de 2019, tendo sido lançada em modo “soft launch” no mercado português em outubro desse ano. Até então, e desde 2016, combatemos o desperdício alimentar através de um serviço que ainda hoje mantemos e que é um dos grandes pilares da nossa atividade: um programa de conversão de excedentes de supermercados, armazéns grossistas, entre outros, em doações a instituições particulares de solidariedade social. Foi com esta vertente que arrancámos as nossas operações em Portugal, num trabalho que nos permite combater o desperdício, ao mesmo tempo que ajudamos quem mais precisa. Atualmente, estamos presentes em todo o País com este serviço, continuando simultaneamente a expandir a presença da aplicação. De realçar que Portugal foi o primeiro país escolhido pela Phenix para iniciar a sua expansão internacional.

Quais as principais funcionalidades da app?

A principal funcionalidade da aplicação é, sem dúvida, a venda de excedentes diários de diversos comerciantes, sob a forma de cabazes que os utilizadores podem adquirir com descontos que começam nos 50% e podem chegar aos 70%, evitando assim o desperdício desses produtos. Outra grande característica da nossa aplicação reside no seu sistema de filtros, com o qual é possível ter visibilidade apenas sobre as lojas com cabazes disponíveis para compra, filtrar as ofertas por regime de alimentação (vegetariano, vegan, entre outros) ou por tipo de alimentos (frutas e legumes, padaria, pastelaria, pronto a comer, entre outros), facilitando a escolha.

Temos também um sistema de alertas personalizados para as lojas favoritas dos nossos utilizadores (sempre que uma dessas lojas disponibiliza um cabaz, o utilizador recebe uma notificação no seu telefone) e realçamos também a área pessoal da aplicação, onde é possível verificar e partilhar o nosso impacto no meio ambiente – quantos quilogramas de CO2 já evitámos serem emitidos para a atmosfera através dos cabazes salvos do desperdício, bem como quanto dinheiro já conseguimos poupar com as nossas compras na app.

Qual o investimento feito em Portugal até à data?

Portugal é um mercado bastante representativo para a Phenix, não só pelos resultados atingidos com aplicação, mas também por termos uma forte dinâmica na nossa vertente de negócio B2B [Business to Business], no segmento das doações. Acreditamos que estamos definitivamente a mudar mentalidades e a contribuir para acabar com o flagelo que é o desperdício alimentar e, por isso mesmo, estamos empenhados em fazer todos os possíveis para colocarmos Portugal na linha da frente contra essa luta. Desde que iniciámos operações no mercado português, já investimos mais de um milhão de euros e, para 2021, temos objetivos bastante ambiciosos, pelo que contamos ver esse investimento reforçado.

Quais os números e indicadores da aplicação?

À data, possuímos mais de 180.000 utilizadores ativos e envolvidos no combate ao desperdício, 900 parceiros espalhados pelos locais onde estamos presentes (Grande Porto, Grande Lisboa, Braga), tendo já conseguido evitar, apenas com a aplicação, o desperdício de mais de 220. 000 refeições.

Como espera que evoluam os números até ao final do ano?

Com a expansão para novas cidades, como é o caso de Braga, onde entrámos recentemente, e outras localizações onde planeamos chegar a muito curto prazo, assim como com o reforço nos locais onde já estamos presentes, esperamos, até ao final de 2021, vir a ter cerca de 400.000 utilizadores ativos, ou seja, utilizadores que efetivamente estão preocupados com o desperdício alimentar e lutam ativamente contra o mesmo. Se conseguirmos chegar a toda esta população até a final do ano, vamos ficar muito satisfeitos, mas, mais do que isso, motivados para fazer ainda mais, pois acreditamos que a luta contra o desperdício é, efetivamente, uma missão de todos.

As empresas parceiras são maioritariamente de que setores de atividade?

Neste momento, trabalhamos maioritariamente com parceiros do canal Horeca, nomeadamente cafés, restaurantes, padarias e pastelarias, mas temos também uma grande percentagem de mercearias, frutarias, talhos, peixarias e minimercados. De um modo geral, o principal setor de atividade dos nossos parceiros está relacionado com a venda de produtos alimentares ao consumidor final, mas não descartamos a possibilidade de trabalhar com todos, retalhistas, grossistas e produtores, entre outros. As soluções que apresentamos são perfeitamente adaptáveis a qualquer tipo de negócio, sendo possível personalizá-las para cada cliente.

Já trabalham com alguma grande cadeia de retalho alimentar?

No serviço de doações, trabalhamos com a totalidade das lojas Continente, Continente Modelo e Continente Bom Dia, e com a Ludite. Estamos também, neste momento, em fase de arranque com as  lojas Colibri, da Brisa Áreas de Serviço. Em todos estes clientes fazemos a conversão dos seus excedentes (quebras de stock, produtos retirados da prateleira por diversos fatores, entre outros) em doações a IPSS [Instituições Particulares de Solidariedade Social], espalhadas por Portugal. Trabalhamos com uma rede de cerca de 1.200 instituições e gerimos os excedentes de mais de 300 lojas em território nacional. Com a aplicação, estamos agora a iniciar a colaboração com algumas lojas Minipreço, especialmente na zona norte, e temos, claro, planos de expansão.

_PhenixA quem pertence a Phenix?

A Phenix é uma startup internacional, de origem francesa, e surge de uma ideia pioneira de Jean Moreau e Baptiste Corval, dois jovens empreendedores que tinham como background a área financeira, trabalhando no setor da banca. Tomando consciência de todo o desperdício que existia, não só em França como no mundo, decidiram iniciar o projeto Phenix para lidar com os excedentes, dando-lhes uma segunda vida. Além de identificarem um problema que precisava urgentemente de ser endereçado, os fundadores perceberam também que combatê-lo se poderia traduzir na oportunidade de maximizar a eficiência das empresas e dos negócios, combinando o respeito pelo meio ambiente com o crescimento económico, através de uma abordagem inovadora.

Qual o modelo de negócio da empresa?

Temos dois modelos de negócios distintos: B2B, com a nossa área de doações, onde conectamos empresas a IPSS e agilizamos todo o processo operacional, legal e fiscal da doação, para que essas empresas consigam ter acesso aos benefícios fiscais existentes em Portugal; e uma vertente muito mais alargada que é a nossa aplicação, com a qual queremos alcançar toda a população, de uma forma mais generalizada. Através da app conectamos todo o tipo de comércio local que possa ter algum tipo de desperdício, com os nossos utilizadores. Todos estes parceiros colocam disponíveis na nossa aplicação os produtos em fim de vida, em formato de cabaz, sempre com descontos associados, pois estamos a falar de excedentes. O cliente compra através da app e levanta nos parceiros, promovendo a visita aos seus espaços. A Phenix cobra uma pequena comissão por cabaz vendido.

A empresa tem concorrência em Portugal?

No que se refere à aplicação, existem outros projetos que desenvolvem um trabalho semelhante. No entanto, ao nível do serviço de doações, não temos concorrência em Portugal. No nosso País, somos a única empresa que oferece soluções integradas para o combate ao desperdício, quer alimentar quer de outras categorias de produtos.

Qual o perfil do comprador da Phenix?

O perfil de comprador é misto, mas podemos destacar a prevalência de mulheres, entre os 35 e os 44 anos, com um nível de educação superior (pelo menos licenciatura), rendimento na média nacional, geralmente trabalhadoras por conta de outrem no setor dos serviços, que moram com a sua família e pretendem poupar nas compras de alimentação. Temos um grande foco nos cabazes de frutas e legumes, refeições prontas, supermercado, talho, peixaria, padaria e pastelaria.

Quais os principais desafios que a empresa enfrenta para crescer em Portugal?

Portugal é claramente um país em mudança no que toca a boas práticas ambientais e alimentares e acredito que estamos no bom caminho nesta alteração de mentalidades. Percebemos claramente que as gerações mais jovens têm uma real preocupação com estes temas, mas é preciso mais, nomeadamente, um maior envolvimento por parte das empresas e produtores neste combate. Acreditamos que a forma mais eficiente de conseguirmos estar todos alinhados e 100% comprometidos nesta luta é com regulamentações mais atrativas para aqueles que efetivamente adotam boas práticas e, claro, um maior esforço de sensibilização para aqueles que ainda não aplicam os melhores princípios para evitar o desperdício alimentar. Mas a regulamentação é e será, sem dúvida, um fator crucial para incentivar e explorar ainda mais o tema do combate ao desperdício no nosso País.

Qual o desperdício anual de alimentos em Portugal. Qual tem sido a evolução nos últimos anos?

Os dados mais concretos que existem apontam para um milhão de toneladas de alimentos desperdiçados todos os anos – algo bastante chocante, se analisarmos a dimensão do nosso território. Contudo, não existe nenhum estudo recente que indique um número com precisão. Do lado da Phenix, estamos a trabalhar os dados que temos ao nosso dispor, relativamente ao desperdício evitado sobre o existente, de modo a apurar números mais concretos. Sabemos também que, resultado do nosso trabalho e do dos nossos parceiros, englobando todos os serviços da operação Phenix em Portugal, já conseguimos evitar que mais de 11,5 milhões de refeições fossem desperdiçadas, desde o final de 2016 até ao presente.

Como espera que evolua o número de refeições salvas do desperdício até ao final do ano?

Este é um número recorde que esperamos duplicar até ao final deste ano. Mas, além do impacto social que o desperdício alimentar tem, temos de considerar também o impacto ambiental, pois de cada vez que desperdiçamos um alimento, estamos a desperdiçar os recursos que foram utilizados na sua produção e distribuição, assim como a acrescentar mais um impacto negativo nas emissões de CO2 para a atmosfera. Dessa forma, mantemos também um registo das emissões que são evitadas através do combate ao desperdício. Estes mais de 11 milhões de refeições salvas equivalem a 15.000 toneladas de CO2 a menos emitidas para a atmosfera. O impacto do desperdício é enorme e estes dados comprovam isso mesmo.

*Entrevista originalmente publicada na edição 393 do  Jornal Hipersuper

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