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“A receção da encomenda tem de ser tão fácil como o processo de a fazer”

Por a 25 de Junho de 2021 as 14:36
Ravit Turjeman e Rui Adrego, fundadores do Comuniti

Ravit Turjeman e Rui Adrego, fundadores do Comuniti

O supermercado online Comuniti iniciou a construção de uma rede de própria distribuição para encurtar o prazo de entrega das encomendas. Depois de abrir uma loja teste no armazém em Santa Maria da Feira, prepara-se para inaugurar um conceito de loja 100% digital. Retalhista faturou 1,2 milhões de euros em 2020, valor que prevê duplicar este ano

Em contraciclo com a tendência de subcontratação de serviços logísticos para as entregas de encomendas online, o supermercado virtual Comuniti está a iniciar construção de uma rede de distribuição própria para encurtar o prazo de entrega. A empresa conta para já com três viaturas próprias de distribuição que fazem as entregas nas áreas mais próximas do armazém instalado em Santa Maria da Feira e mais estão a chegar da Ásia para uma fase de testes. São viaturas de pequena dimensão, elétricas e vocacionadas para as entregas de última milha. O objetivo passa por construir a longo prazo a sua própria rede de distribuição e não recorrer a terceiros para a entrega de encomendas. “Um dos entraves ao desenvolvimento do ecommerce em Portugal é a ausência de uma cadeia de abastecimento eficiente. Não conseguimos trabalhar ‘just in time’ com os fornecedores e distribuidores”, comenta Rui Adrego, co-fundador da Comuniti, em entrevista ao Hipersuper.

A ambição passa, por isso, por ter uma rede própria de distribuição, apesar de ser uma opção mais custosa em termos de investimento e de gestão de pessoal. “Se, por um lado, a maioria das empresas caminha para o outsourcing, por outro acreditamos que o nível de serviço prestado ao cliente com distribuição própria é totalmente diferente. Há uma série de detalhes que queremos controlar para que a receção da encomenda seja tão fácil como o processo de a fazer”.

“Queremos criar um processo de entrega tão rápido como é o momento de fazer a encomenda. E hoje em dia o processo de entrega, sobretudo quando está entregue a terceiros, é complicado porque a janela horária é alargada. É este processo que nós ambicionamos e estamos a trabalhar para alterar”, acrescenta.

Entre os argumentos que a Comuniti desenvolveu para concorrer com os grandes players de retalho alimentar, Rui Adrego destaca a visão, a ambição e a flexibilidade de startup. “Queremos fazer um novo fresh ao mercado de retalho. Não nos posicionamos como concorrentes do Continente, Auchan ou Pingo Doce, através do Mercadão, ou de outras cadeias, somos uma empresa de ecommerce. Numa primeira fase a gama de produtos disponível para o consumidor são itens essenciais do dia-a-dia. Temos a capacidade de adaptar e ajustar a nossa estratégia consoante as necessidades do consumidor, dada a nossa flexibilidade de startup”.

O supermercado online Comuniti começou a operar no início de 2020 com entregas em todo o País, através da rede CTT Expresso. O projeto fundado pelo português Rui Adrego e a israelita Ravit Turjeman, através de um investimento de meio milhão de euros, faturou, no primeiro ano de atividade, 1,2 milhões de euros, cifra que deverá duplicar este ano, estima o responsável.

No início da atividade, a Comuniti abriu um armazém em Ovar, mas rapidamente se mudou para outra cidade do distrito de Aveiro, Santa Maria da Feira. “A pandemia acelerou o reconhecimento do serviço de ecommerce e fomos beneficiados por isso, mas fomos também apanhados completamente em contraciclo. Tínhamos um plano de desenvolvimento de negócio a cinco anos, no qual o ano passado seria basicamente um ano só de implementação, afinado consoante as necessidades de desenvolvimento. Mas de um dia para o outro passamos de 30 encomendas por dia para 500. Não estávamos preparados. Tivemos de fazer uma série de ajustes, como mudar de armazém rapidamente e construir a nossa própria instalação”, conta Adrego.

Chegar a Lisboa em 2022

A passagem para Santa Maria da Feira serviu para preparar o armazém para o futuro das operações. À plataforma logística com quatro mil metros quadrados, com área de picking e de embalamento, a empresa vai juntar mais um armazém, no centro industrial de Santa Maria da Feira, com 10 mil metros quadrados. É um investimento de cerca de 150 mil euros, através do qual a empresa vai apostar em novas soluções de digitalização e criar um hub de distribuição que vai, depois, replicar em Lisboa. “Este será o nosso próximo objetivo. Esperamos no início de 2022 já ter o armazém de Lisboa preparado, para que efetivamente a last mile seja entregue de forma mais rápida e eficiente, em alguns minutos ou algumas horas. Já identificamos alguns espaços em Lisboa, mas primeiro queremos ter a certeza de que este armazém no qual estamos a investir está montado e a operar de forma oleada”. Um total de 64% das vendas da plataforma são feitas na zona da Grande Lisboa. “É claramente é um mercado importante para nós”. A área do Grande Porto representa 35% das vendas da loja online.

Loja física com conceito digital

Foi no armazém de Santa Maria da Feira que a Comuniti abriu a sua primeira loja física, um teste que dará origem a um novo conceito de loja com um modelo digital. “Estamos a fazer um trial, conseguimos conciliar uma das nossas instalações diárias de picking e transformámos num espaço muito próximo de um supermercado, na zona industrial de Santa Maria da Feira. Não queremos ser um retalhista de off trade mas estamos a retirar algumas ilações e ideias”, explica, acrescentando que a empresa quer ter lojas físicas mas com um conceito 100% digital. Uma espécie de Amazon Go com um toque português. “Estamos a negociar o primeiro espaço. Se o projeto arrancar, ficará localizada em frente à Mercadona de Matosinhos. Queremos experimentar a loja numa zona urbana com elevada densidade populacional, estamos a falar de uma zona com 16 km quadrados que abrange 170 mil habitantes. Estamos, neste momento, a ultimar os desenhos daquilo que pode ser este projeto e se conseguirmos desenhá-lo em tempo útil, depressa o iremos apresentar. Tem tudo a ver com comodidade. O cliente não precisa de pegar em carrinhos, de contactar com alguém, não precisa de estar em filas de espera. Um drive thru, se assim posso chamar”.

Comuniti1Política transparente de preço

A Comuniti tem desde o início da operação duas funcionalidades que a diferenciam dos seus concorrentes e que, segundo o responsável, explicam a faturação de 1,2 milhões de euros em 2020, um ano atípico em plena pandemia. Uma é a informação de preços em tempo real que promove uma política de preços honesta. A empresa desenvolveu uma tecnologia que permite fazer a leitura de preços dos quatro principias players de e-commerce alimentar e compará-los com o preço do mesmo produto na loja online da Comuniti. “Temos uma política de preços honesta e mesmo quando há algum produto que nós não temos o preço mais baixo do mercado, continua a ser refletido da nossa plataforma”, garante.

É um processo totalmente informatizado e “transparente para o nosso consumidor”. “Além de um retalhista, somos também uma empresa que informa sobre os preços. Temos uma atividade promocional tão elevada em Portugal, somos dos países da Europa com maior atividade promocional, mais de 50% dos momentos de compra são feitos com produtos em promoção. E isto significa que efetivamente o consumidor não tem uma escolha sobre os produtos que adquire, consumindo aquilo que é colocado nas prateleiras. E aquilo que a Comuniti está a oferecer aos consumidores é precisamente a oportunidade de comprarem aquilo que querem, o produto e a marca que querem, quando desejam e lhes faz falta”, acrescenta.

O segundo argumento diferenciador é a funcionalidade “compra mais poupa mais”. “Também na ótica de respeito pelo consumidor uma das funcionalidades que oferecemos desde o início do projeto é a ‘compra mais poupa mais’. É justo. Uma grande parte dos produtos disponíveis na nossa plataforma, se adquirir uma, três, quatro unidades, até ao máximo de 12, oferece descontos adicionais em função da quantidade”.

A empresa está a preparar ainda o lançamento de uma nova funcionalidade: o comuniti buy. “Sempre tivemos a visão de querer que o consumidor sentisse que tem o poder de decidir e ter influência no preço que vai pagar por um determinado produto. Sobretudo aqueles que somos obrigados a consumir, como quando somos pais e temos bebés, por exemplo. Estamos a desenhar uma forma de compra em que os consumidores se podem juntar enquanto comunidade, daqui surge o nome, e à medida que mais consumidores se vão juntado o preço vai baixando”. Não é um leilão, esclarece. “A partir do momento em que determinado produto, por exemplo, fraldas, está disponível para iniciar uma compra em grupo, há uma baixa de preço. Depois, é claramente demonstrado ao consumidor o timing e o número de usuários necessários para que novas baixas de preço aconteçam até ao limite estabelecido. Quando fechar a comuniti buy, é esse o preço faturado ao cliente”.

A empresa já patenteou a funcionalidade comuniti buy na Europa e está agora a fazê-lo para os restantes continentes.

80 mil inscritos no site

O supermercado online tem 80 mil consumidores inscritos no site atualmente e oferece um portefólio de cerca de 4.500 produtos. “Em termos de sortido, temos claramente os ‘traffic drivers’, os líderes das categorias que o consumidor procura. Tentamos complementar cada uma das áreas com especialidades. Por exemplo, estamos a desenvolver áreas independentes de produtos exóticos, internacionais, bio, entre outros. É lógico que tentamos sempre privilegiar o produtor nacional, mas infelizmente nem sempre o mercado o permite. Em categorias como higiene e beleza a grande maioria dos produtos consumidos são internacionais”, explica o responsável.

“Fizemos também um elevado procurement porque queríamos ter uma solução ecológica para a distribuição de frescos e congelados. E conseguimos. Vamos ser a primeira empresa de e-commerce alimentar a transportar os alimentos congelados em caixas de cartão recicláveis”.

Recentemente, a empresa fechou uma parceria com a empresa de combustíveis Alves Bandeira, empresa de capital português com 160 postos de abastecimento, para oferecer aos seus clientes 12 cêntimos de desconto por litro de combustível. Já os clientes da Alves Bandeira vão poder trocar pontos por descontos na plataforma Comuniti. “Para nós é muito importante poder apoiar os nossos consumidores no gasto com os combustíveis que, juntamente com a alimentação, representa uma grande fatia do orçamento familiar”, termina.

*Artigo originalmente publicado na edição 391 do Hipersuper

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