Congelados: uma macro-tendência com potencial por aproveitar

Por David Lacasa, partner da Lantern

Os alimentos congelados são a primeira categoria, em valor, no mercado português com um potencial de mercado de quase 800 milhões de euros. Por sinal, esta foi também a categoria que registou um crescimento mais acentuado ao longo do último ano, na ordem dos 17,6%, mais do dobro da média do mercado, que foi de 8,1%, de acordo com os dados da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED). Esta foi uma tendência global, em parte, influenciada pela pandemia, tendo em conta que, durante o último ano e meio, fizemos menos deslocações aos supermercados e, enquanto consumidores, optámos pela compra de produtos com maior vida útil. Os números e os hábitos provam, por isso, que esta tem sido – e continuará a ser – uma boa oportunidade para mostrar aos consumidores as vantagens deste tipo de produtos.

NATURAL E CONVENIENTE
O potencial daquelas que são as principais vantagens desta categoria alimentar não tem, no entanto, sido aproveitado na sua totalidade: Os produtos congelados não precisam de nenhum aditivo ou conservante para manter (ou prolongar) a sua vida validade. Evitar este hábito fará, desde logo, com que este tipo de produtos se torne muito mais natural – e em alguns casos mais nutritivo – que os próprios produtos refrigerados. A naturalidade desta categoria ainda tem muitas oportunidades de serem comunicada e posta em valor. Assim mesmo, a conveniência destes produtos também ficou clara, uma vez que ajudou as famílias a ter produtos muito práticos ao seu alcance e durante mais tempo. Além disso, estamos a ver avanços muito relevantes em soluções para as refeições, tais como novos pratos prontos a comer ou muita mais variedade nos snacks. Por exemplo, a Pescanova, um dos nossos clientes, está a lançar há pouco tempo em distintos mercados uma gama de produtos prontos a comer com um bom resultado. Assim mesmo, existe agora um desenvolvimento muito interessante em ovos estrelados congelados, para hoteleira principalmente, pequenos almoços e caterings, mas também para quem não quer cozinhar apenas.

PLANT-BASED
Outra das grandes tendências alimentares, não só no mercado dos congelados mas em geral, são os produtos de origem natural, pensados para um consumidor que está a reduzir o consumo de carne tanto por questões de saúde como de sustentabilidade. Só em Portugal, 9% dos adultos já são veggies (a soma dos vegans, vegetarianos e flexitarianos, sendo este último grupo o maior dos três – 7,4%), de acordo com o nosso estudo The Green Revolution. Grande parte das novas marcas que estão a desenvolver ou a apostar neste mercado têm optado pelos congelados como o principal canal de vendas. The Vegetarian Butcher, a marca que Unilever está a lançar a nível internacional, tem grande parte da sua oferta nas arcas dos congelados no supermercado. Estas marcas estão a aproveitar que assim os seus produtos não precisam de conservantes e tem uma vida útil muito maior.

NOVOS CONSUMIDORES

Outra das grandes oportunidades no setor dos congelados está nas novas gerações. Os millenials, a nível global, estão a adotar os produtos congelados com mais interesse do que as anteriores. São um público que está mais aberto a novas receitas e que não só não tem muito tempo para preparar receitas, como, por norma, não é um público muito habilidoso com os tachos. Este target exige, por isso, uma maior variedade de propostas gastronómicas, tendo também em conta outros fatores como um packaging e respetivas porções mais adaptadas para o seu lar, já que habitam, tendencialmente, em apartamentos mais pequenos e muitas vezes individuais. Por isso, as porções mais pequenas e embalagens mais flexíveis são fatores decisivos e críticos para este consumidor. Falamos de uma categoria que já é muito relevante no consumo, é certo, mas que ainda tem um potencial muito maior para crescer, já que está alinhada com as macro-tendências globais: produtos naturais, convenientes e saborosos.