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FIPA prevê crescimento sustentado das exportações para 2021

Por a 25 de Fevereiro de 2021 as 16:07

Pedro Queiroz

Apesar do contexto difícil a nível internacional, Pedro Queiroz acredita que as exportações da indústria agroalimentar mantiveram, em 2020, os níveis de 2019

 

Assim que o ano começou, Portugal entrou, de novo, em confinamento, na sequência da incapacidade dos hospitais para fazer face a uma nova vaga pandémica. Depois de um ano de pesadelo para a economia, esperavam-se logo melhorias em 2021. Mas não foi bem assim. O novo confinamento veio, de novo, criar incerteza nos agentes económicos, não sendo a indústria agroalimentar uma exceção.

Ainda assim, Pedro Queiroz, diretor-geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares (FIPA), deixa sinais de otimismo. “neste momento e mediante os sinais de esperança que surgem com o início da vacinação em toda a Europa e gradualmente no resto do mundo, temos de olhar para o futuro com entusiasmo e algum otimismo. Nos períodos de crise, a indústria agroalimentar tem vindo a mostrar a sua resiliência e capacidade de adaptação às necessidades do mercado e acreditamos que continuará neste caminho”, começa por afirmar o responsável, em declarações ao Hipersuper.

Apesar da dinâmica exportadora que se vinha a assistir desde a última crise financeira, Pedro Queiroz está convencido que o novo ano será mais sorridente para as empresas. “Embora numa conjuntura europeia e internacional muito difícil, acreditamos que os dados ao final de 2020 refletirão um valor de exportações muito idênticos a 2019”, revela. E ainda que os níveis de crescimento tenham arrefecido, o diretor-geral da FIPA considera que “fica patente o esforço das empresas em manter os seus mercados e em criar novas oportunidades”. “Por todas as provas que a nossa indústria já tem dado, acreditamos que 2021 possa ser um ano de regresso a um crescimento sustentado”, assevera.

As perspetivas de recuperação das várias áreas de atividades estarão, por outro lado, associadas as determinações e limitações do Governo impostas a diversos setores de atividade. “Esperamos que os setores que estão mais dependentes do consumo fora do lar possam vir a ter recuperações mais expressivas, assim que voltarmos aos padrões de vida mais estáveis”, diz Pedro Queiroz. Assim, naturalmente, as atividades mais dependentes do canal Horeca terão maiores dificuldades em recuperar o seu desempenho para níveis anteriores à pandemia. “São precisamente os setores mais dependentes no canal HORECA e relacionados com os momentos de consumo fora de casa, como festas, festivais, eventos, os que continuarão a estar mais vulneráveis”, antevê o diretor-geral da FIPA. “Se serão necessárias medidas de incentivo de apoio financeiro a fundo perdido, é ainda mais relevante que não venham a ser mais penalizados por via indireta, como é o caso de impostos discriminatórios e das medidas integradas na nova Lei dos Resíduos”, acrescenta.

Face à situação vivida pelos operadores económicas, Pedro Queiroz defende que o Governo necessita de reforçar o apoio aos mesmos. “A indústria agroalimentar depende, naturalmente, do consumo, pelo que a curto prazo são necessárias medidas neste âmbito. Uma ideia defendida pela FIPA, em consonância com a CIP (Confederação Empresarial de Portugal), é que os setores de toda cadeia alimentar sejam oficialmente identificados como setores essenciais, de forma a que, em situações de emergência nacional, não seja posto em causa o seu normal funcionamento. Isto porque, equilibrando o que é importante fazer para conter a propagação do vírus entre a população, é crucial regressarmos a esta normalidade, sobretudo no que respeita aos espaços de comércio e de restauração” defende o responsável. Outra medida defendida por Pedro Queiroz passa pelo reforço das linhas de financiamento a fundo perdido. “Mas devem ser levadas a cabo alterações no campo fiscal numa escala mais alargada”, salvaguarda. “A FIPA defende, nesta área, que devem ser nivelados à taxa de IVA de 6% todos produtos alimentares e deve ser equacionada a eliminação de impostos discriminatórios, que vieram diferenciar negativamente algumas categorias”, subscreve.

Apesar de tudo, Pedro Queiroz lembra que a indústria agroalimentar não parou a sua aposta na inovação, investigação e conhecimento. “Isso faz com que seja competitiva hoje e o continue a ser no futuro”, salienta. Mas a verdade é que atualmente o cenário é diferente. Pedro Queiroz indica que o consumidor é diferente do existente no começo de 2020, que as relações entre toda a cadeia alimentar ganharam uma nova dinâmica. Por outro lado, “a recuperação está cada vez mais assente na sustentabilidade, os hábitos alimentares são um foco e a internacionalização das empresas agroalimentares é uma oportunidade real”. 2A verdade é que não temos pela frente novos desafios, mas desafios reforçados, por exemplo, no campo dos modelos de negócio com os parceiros da cadeia de valor e na capacidade de trabalhar em rede dentro e fora das fronteiras de cada país, na sustentabilidade ambiental, circularidade, valorização de materiais, na inovação do produto, nas práticas de comunicação e informação ao consumidor”, exemplifica.

Embora em graus e amplitudes diferentes, o responsável salienta que toda a indústria agroalimentar foi afetada pela pandemia. O que se ficou a dever a “toda imprevisibilidade que se gerou a partir do primeiro confinamento, desde a segurança do abastecimento às alterações da tipologia de consumos”, sublinha. “Apesar de uma ideia geral de que esta indústria manteve as suas vendas, a verdade é que foi necessária a adaptação de muitas produções para fazer face a períodos de consumo profundamente atípicos, fortes perturbações nos mercados internacionais e, uma das situações mais graves de toda a cadeia de valor, o encerramento prolongado do HORECA”, explica Pedro Queiroz. “Foi precisamente neste canal que muitos setores acabaram por sentir grande parte do impacto negativo nas suas vendas”, acrescenta.

Embora num contexto tão adverso em termos de condições sanitárias, o setor agroalimentar nunca parou a sua atividade. “Aconteceu graças ao empenho dos empresários, gestores e de cada um dos trabalhadores, bem como ao afincado trabalho conjunto entre todos os intervenientes da cadeia de abastecimento, que fizeram um esforço comum para ultrapassar dificuldades, não deixando que se transformassem em barreiras e que se viessem a refletir no fornecimento de bens essenciais à população”, recorda. Um trabalho que se refletiu no Grupo de Acompanhamento e Avaliação das Condições de Abastecimento de Bens nos Setores Agroalimentar e do Retalho. Este “contou com uma participação muito ativa da FIPA, através do seu presidente, bem como das principais organizações da fileira (produção, indústria, distribuição, transportes) e de membros do Governo”,  indica. “Neste grupo foi possível acompanhar toda a evolução das condições de operação da cadeia agroalimentar, em particular o efetivo funcionamento das “green lanes”, mas foi também neste grupo que foi possível disponibilizar EPI’s (equipamento de proteção individual) a toda a indústria no período mais crítico e permitir que os filhos dos trabalhadores tivessem tido acesso à permanência e às refeições nas escolas, para que não houvesse roturas ao nível dos trabalhadores e das condições de trabalho”, acrescenta.

A finalizar, Pedro Queiroz destaca: “Igualmente importante para a manutenção da possível normalidade, foi o contacto permanente da FIPA com as entidades europeias, nomeadamente a confederação do setor FoodDrinkEurope, que permitiu a esta escala a troca permanente de informações com diversos países”.

*Texto originalmente publicado na edição impressa de fevereiro do jornal Hipersuper

 

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