A história da única plantação de chá artesanal com escala para venda em Portugal Continental
A única plantação de chá artesanal da velha Europa com escala para venda localiza-se em Portugal Continental. Uma história que junta uma planta de sonho e uma “infusão” de loucura, contada pela alemã Nina Gruntkowski, mulher do produtor de vinho duriense Dirk Niepoort, radicados em Portugal

Rita Gonçalves
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A única plantação de chá artesanal da velha Europa com escala para venda localiza-se em Portugal Continental. Uma história que junta uma planta de sonho e uma “infusão” de loucura, contada pela alemã Nina Gruntkowski, mulher do produtor de vinho duriense Dirk Niepoort, radicados em Portugal
“Há uma linha ténue entre o sonho e a loucura – e os grandes projetos nascem muitas vezes nessa fina fronteira”. A frase da alemã Nina Gruntkowski e do holandês Dirk Niepoort, com alma duriense, ilustra bem a aventura que começou em 2011 e que deu origem à primeira e única plantação de chá artesanal da velha Europa com uma escala de dimensão suficiente para a venda.
Amantes de chá (não apreciam café), o casal com experiência na produção de vinho no Douro desenvolveu a ambição de um dia vir ter uma plantação de chá que respeitasse as regras da agricultura biológica e os princípios biodinâmicos. “Adoramos degustar novos tipos de chá e daí cresceu o sonho de um dia produzir chá. Na altura, pensámos na Ásia, ‘um dia, no futuro…’. Mas, durante uma pesquisa jornalística, fiquei a saber que a planta de chá é uma espécie de Camelia (Camellia sinensis) e lembrei-me que vivemos na chamada “terra das camélias”, no Minho Litoral. Assim, começámos uma experiência de ter umas quantas plantas de chá no nosso jardim e, mais tarde, plantámos no terreno final”, na Quinta do Fornelo, na freguesia com o mesmo nome, em Vila do Conde, lembra Nina Gruntkowski, em entrevista ao Hipersuper.
Há duas plantações de chá no arquipélago dos Açores. Na Europa Continental há vários projetos de pequena dimensão de cultivo de chá, mas a empresa fundada pelo casal – Chá Camélia – “é única a produzir chá artesanal numa escala maior para venda”, garante Gruntkowski. O chá produzido pelo casal é verde, de estilo asiático, feito a partir de folhas inteiras para melhor preservar o seu sabor. A colheita das folhas é 100% manual e a maior parte do processo de transformação é feita à mão.
A Quinta do Fornelo distribui-se por dois hectares, um hectare dedicado à plantação de Camellia sinensis e o restante ocupado com culturas e árvores antigas da propriedade. A área do terreno onde está atualmente instalada a produção de chá era habitada por uma vinha abandonada. O terreno foi limpo à mão para evitar o impacto de maquinaria pesada e a plantação respeita os princípios biológicos, certificados pela Certiplanet, e o espírito biodinâmico. “Tentamos criar um ciclo sustentável na quinta, no qual tudo o que utilizamos na terra é proveniente do meio envolvente”.
A preocupação com o ambiente estende-se às embalagens do produto. “A embalagem é simples, prática e com baixo impacto ambiental. Os chás são embalados em vácuo, o que permite acondicionar um maior número de embalagens no transporte, reduzindo as emissões de carbono associadas ao transporte”, explica.
Clima e qualidade da planta: os grandes desafios
Como a produção de chá é “complexa”, o primeiro passo do casal foi procurar produtores de chá verde no Japão. Em 2012, o casal de japoneses Morimoto, residentes no sul do país nipónico, visitou a plantação de chá Camélia. Foi amor à primeira vista. Haruyo e Shigeru San têm mais de 40 anos de experiência no mundo do chá e partilharam com o casal o seu conhecimento transmitido de geração em geração. “Com alguma frequência o casal Morimoto visita a plantação e dá “valiosos conselhos” sobre o trabalho no campo de produção.
Uma das principais barreiras à produção de chá em territórios continentais são as características edafoclimáticas das regiões. Mas, esse obstáculo revelou-se mais fácil de transpor do que poderia parecer à primeira vista. O terroir da “terra das camélias” revelou-se perfeito. “Como as condições climáticas e geográficas no Minho Litoral são perfeitas, a única barreira para o cultivo foi obter as plantas de chá. Tivemos de cultivar todas as plantas com ajuda de um viveirista. Assim, no início o número de plantas que tínhamos era muito limitado, mas, no fim, conseguimos plantar em cinco anos cerca de um hectare com 12.000 plantas”, resume.
Qual foi o momento mais desafiante nestes cerca de nove anos? Para Nina Gruntkowsk foi a primeira colheita experimental feita há quatro anos. “Até esse dia, tínhamo-nos focado quase só no cultivo das plantas e, nessa altura, fiquei muito nervosa, pensando o que fazer se esta experiência revelasse que o chá não era nada de especial. Felizmente, mesmo este primeiro chá feito por nós já manifestava um carácter próprio. As experiências posteriores e as nossas primeiras duas colheitas revelaram sempre um terroir (carácter próprio) – o que é muito importante para nós, porque a nossa ideia não é somente copiar um chá japonês ou taiwanês, mas sim criar um produto diferente”.
O projeto foi financiado em 85 mil euros pelo instrumento de apoio ao desenvolvimento rural da União Europeia, o Proder. Além deste valor, o casal teve de fazer o investimento na mão-de-obra durante os primeiros anos sem produção, já que a planta leva, pelo menos, cinco anos a dar a primeira safra.
A primeira produção de chá para venda aconteceu, assim, no ano passado. “Em 2019, recolhemos 12 quilos de chá verde seco. Em folha fresca é cinco vezes mais quantidade. Em 2020, já conseguimos produzir 50 quilos de chá verde em folha seca. Nos próximos três anos, vai entrar mais um campo em produção, mas só a partir do quinto ano as plantas estão prontas para colheita. Além disso, todos os campos vão produzir mais folhas até ao 10º ano. Agora, o desafio é processar a cada ano mais folhas em chá”, realça Nina Gruntkowski.
Chá verde português com cunho asiático
Todos os chás são feitos a partir da Camellia sinensis, a planta que dá origem a todas as cores do chá, e da Camellia assamica, que dá apenas chá preto. O casal dedica-se por enquanto à produção de chá verde de estilo asiático. “No futuro, sonhamos também produzir chá Oolong (chá semi-oxidado). Também estagiamos chá Oolong, por enquanto importado, em pipas de vinho do Porto, para se impregnar dos aromas da pipa e do vinho. O resultado é o chamado Pipachá, que faz muito sucesso”, conta Gruntkowski.
A missão do casal radicado em Portugal é produzir o seu próprio chá mas também partilhar a sua paixão pelo complexo mundo do chá. Por isso, desde 2012, a empresa comercializa quatro “blends” de chá verde biológico japonês, produzidos pelo casal Morimoto e outros pequenos produtores do Japão, com ervas aromáticas e flores comestíveis portuguesas.
Com vários pontos de venda espalhados pelo país, como mercearias finas, mercados biológicos, lojas de produtos biológicos ou casas gourmet, a Chá Camélia ainda não tem projetos para entrar na moderna distribuição. “Ainda não houve propostas interessantes”, assegura a empreendedora.
Além dos pontos de venda de norte a sul do país, a empresa também vende chás em Espanha, Macau e Singapura. Tem ainda como clientes restaurantes em Portugal e noutros países da Europa, principalmente em Inglaterra e Alemanha. E, através da loja online, comercializa o chá português em toda a Europa. Qual o posicionamento do produto em preço? “Os nossos chás não são comparáveis com chás de saqueta, em que entram poucos gramas de chá triturado. Trabalhamos com chás de folhas soltas e as nossas embalagens levam mais quantidade, entre 75 e 100 gramas. Como são chás de qualidade, permitem no mínimo duas infusões. Assim, uma embalagem de chá dá para muitos litros, o chá não fica tão caro como pode parecer”, desmistifica.