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Snackmania. Por que marcas e retalhistas estão muito atentos ao mercado de snacks?

Por a 30 de Outubro de 2020 as 12:06

AdobeStock_264270456O mercado de snacks está ao rubro em Portugal – e no resto do mundo – com novos produtos e marcas recém-nascidas nas prateleiras. A inovação prioriza alternativas mais saudáveis. Produtores e retalhistas estão cada vez mais atentos à “snackmania”. O potencial de crescimento é enorme

O primeiro sinal foi a sequência de aquisições ao longo dos anos de 2018 e 2019 por parte de grandes empresas a comprarem participações ou a totalidade de empresas de menor dimensão. A intenção era estrear no mercado de snacking ou reforçar as atuais posições empresariais. O mercado de snacks (lanches, traduzindo à letra) estava definitivamente no radar das empresas a nível mundial. Mas, porquê? Não era decididamente um mercado novo. Snacks de batata frita, aperitivos e frutos secos ocupavam já, há muitos anos, corredores inteiros de hipermercados. Foi, na realidade, uma necessidade e imposição ditadas pelos próprios consumidores. Com pouco tempo para cozinhar e cada vez mais conscientes da importância de uma alimentação saudável e equilibrada, os consumidores “pediram” às empresas soluções práticas e nutritivas para consumir entre refeições, em casa, na escola, no local de trabalho ou em movimento.

“O mercado de snacks está estagnado há muitos anos e só recentemente com o aparecimento de alternativas mais saudáveis é que se está a dinamizar. As alterações ao comportamento do consumidor são uma excelente oportunidade para este mercado, pois algumas das consequências são, por exemplo, a substituição de refeições por snacks e o aumento de oportunidades de consumo entre refeições”, comenta, em declarações ao Hipersuper, Alexandre Santos, CEO da Snood Foods, que se lançou na aventura do snacking no final de 2019.

Nuno Guterre, CEO da marca de snacks Nuts Original, confirma: “Existe uma evolução global [no mercado de snacking] mas intensificada nos produtos saudáveis (…) [são] os snacks de cariz ‘healthy” que registam crescimentos na procura”.

Como se definem snacks saudáveis? Em teoria, são alimentos que conseguem oferecer, em simultâneo, saúde e prazer ao consumidor. Filipe Simões, diretor executivo da Fruut, leva o conceito “muito a sério. Não se trata de um mero slogan de marketing e revela toda a nossa orientação estratégica no sentido de disponibilizarmos os produtos mais naturais em cada segmento, privilegiando sempre a componente sensorial. Não basta ser saudável e natural, tem de ser saboroso e proporcionar boas experiências”, sustenta.

O mercado de snacking começa, então, a crescer solidamente à boleia de novas propostas, mais saudáveis e nutritivas. O xadrez deste mercado alterou-se com fusões e aquisições, nascimento de novas empresas e lançamento de novas marcas, muitas de empresas já instaladas que adaptaram a sua oferta ao mercado de snacking. Este setor está avaliado globalmente em 440 mil milhões de dólares, de acordo com a Grand View Research.

Num estudo realizado e apresentado já este ano pela New Nutrition Business, foram identificadas dez tendências que estão a transformar o setor agro-alimentar a nível global. A “snackification” está neste top 10. Mas, o que é, afinal, a “snackification”?

Alexandre Santos, CEO da Snood Foods

Alexandre Santos
CEO da Snood Foods

O que é a “snackification”?

O CEO da empresa do Porto, que há cerca de nove meses lançou a marca Bean’Go, partilha a sua definição. “O consumidor procura, cada vez mais, produtos para serem consumidos ‘on-the-go’ [em movimento], que sejam práticos e fáceis de consumir. Esta tendência tem sido chamada de ‘snackification’ e significa que muitos produtores estão a adaptar os seus produtos à categoria de snacks de uma forma mais abrangente, seja através da otimização de doses, seja através da adaptação da receita a essa praticidade ou desenvolvimento de novos métodos de produção. Por exemplo, a fruta desidratada e as barras de cereais são exemplos de “snackification”, mas hoje cada vez mais produtos querem entrar nesta categoria”, exemplifica.

Um bom exemplo desta adaptação de produtos já existentes à categoria de snacking é o percurso da produtora de queijo Bel Portugal, que opera neste segmento com as marcas Babybel, GoGo squeeZ e, mais recentemente, Limiano Pausa. A empresa especializada em snacks de queijo avançou ao Hipersuper que, em 2019, a categoria de snacking de queijo em Portugal fechou o ano com uma quota de 5% no mercado total de queijo e um crescimento de 9% em relação ao ano anterior.

De acordo com um estudo da Nielsen, ao qual a Bel teve acesso, designado “Nielsen Global Survey of Snacking”, a grande maioria dos consumidores consome snacks várias vezes ao dia e, “uma grande percentagem” está a trocar refeições completas por snacks.

“As lojas são um reflexo disso mesmo, onde se tem observado uma proliferação de inovações ao longo dos últimos anos e nas mais variadas categorias de produtos, desde cereais, a iogurtes, gelatinas, batidos, queijo, charcutaria, entre outros. Esta crescente procura por snacks está obviamente relacionada com novos estilos de vida, cada vez mais agitados e corridos, que levam os consumidores a procurar soluções rápidas e práticas e que, ao mesmo tempo, satisfaçam as suas necessidades nutricionais”, indica, em entrevista ao Hipersuper, fonte da Bel Portugal. “As marcas e as grandes empresas estão atentas e a acompanhar as necessidades dos consumidores, “procurando lançar no mercado produtos adequados, seja via soluções internas ou adquirindo outras empresas que detenham já o ‘know-how’ necessário para vingar no mercado”.

Nuno Guterre CEO Nuts Original

Nuno Guterre
CEO Nuts Original

Nuno Guterre acrescenta que a aquisição de “pequenas empresas ou marcas por empresas dominantes deste setor é algo que se tem vindo a intensificar, no caso de produtos de grande sucesso. Este tipo de aquisições, por vezes, é economicamente mais viável do que iniciar novos projetos de raiz”.

Moda ou tendência?

Será a “snackification” uma moda ou uma tendência?  O diretor executivo da Fruut, marca de snacks de fruta desidratada, não tem dúvidas. “Não vejo o snacking como uma moda, mas antes como uma tendência. Interpreto uma moda como algo passageiro, de curto prazo e parece-me que a procura de alimentos práticos e fáceis de consumir, em qualquer altura e em qualquer lugar, é algo que veio para ficar. Isto está relacionado com o estilo de vida atual, em que as pessoas têm pouco tempo e querem soluções rápidas que satisfaçam as suas necessidades. São os tempos da Netflix, da Uber, do Airbnb, nas quais os consumidores encontram o que procuram da forma mais rápida, prática e segura”.

A Frutea, dona da Fruut, posiciona-se no mercado de snacks saudáveis. A empresa não dispõe de dados que permitam aferir quanto valem em Portugal as vendas de snacks saudáveis. “Até porque a barreira entre snack, snack saudável, snack salgado é muito ténue. E os produtos inseridos em cada categoria também variam muito de estudo para estudo”.

De acordo com dados fornecidos ao Hipersuper pela consultora Nielsen, o mercado de snacks em Portugal representa vendas de 280 milhões de euros. A Nielsen avalia três segmentos: aperitivos embalados (36,8 milhões de euros), frutos secos embalados (141,4 milhões) e batatas fritas embaladas (104 milhões). No ano móvel terminado em setembro de 2020, os três segmentos aumentaram as vendas, quer em quantidade quer em valor.

Segundo dados fornecidos pela Snood Food, o mercado de snacks em Portugal vale perto de 300 milhões de euros e na Europa cerca de 22 mil milhões de euros. “Mas, estes números são poucos relevantes para a nossa atividade e para fazer uma análise criteriosa do mercado e da oportunidade”, ressalva. “O mercado de snacks salgados está em contínua evolução e a definição de snack salgado é cada vez mais difícil porque surgem muitos produtos de categorias adjacentes que competem pelo mesmo consumidor e porque a proposta de valor destes novos produtos, posicionados como saudáveis, tem proposições de volume e valor bastante diferentes”.

Alexandre Santos dá exemplos. “Mais interessante para este caso é o facto de as batatas fritas, o maior segmento de snacks na categoria, terem registado um crescimento muito baixo (0,8%) e inclusive decréscimos em volume, enquanto o mercado de snacks cresce a 4,8%, justificado quase exclusivamente pelo crescimento de alternativas saudáveis. Por exemplo, os snacks feitos à base de plantas, sem ser a batata, milho ou trigo, crescem a 24%. É isto que é importante: as alternativas saudáveis às batatas fritas é que estão a tornar este mercado muito mais atrativo”.

O diretor executivo da Fruut assegura que o segmento de snacks saudáveis, no qual a Frueat opera, tem vindo a crescer “exponencialmente” em todo o mundo, nos últimos cinco anos, embora não concretize valores. “Pelo que sabemos, o mercado de snacks salgados estava relativamente estagnado e está a sofrer o impacto negativo destes tempos de pandemia”, acredita Filipe Simões.

Mini Babybel ProteinQuem são os consumidores de snacks?

Os consumidores de snacks são, de uma forma global, transversais às várias gerações, diz o estudo já citado da Nielsen, desde crianças pequenas a seniores. São, no entanto, os jovens adultos quem mais consome snacks durante o dia.

“Alinhado com a tendência global, vemos esta grande categoria de snacks cada vez mais presente na vida dos consumidores portugueses. Algumas características acabam por ser comuns a todos os consumidores, nomeadamente a procura por soluções que satisfaçam necessidades nutricionais, de forma prática e conveniente, sem perder o equilíbrio de sabor”, indica a fonte da Bel.

Por outro lado, há produtos “funcionais” que respondem a necessidades muito especificas. Por exemplo, a empresa lançou muito recentemente um produto destinado a praticantes de desporto. Os mini queijos Baby Bel Protein são enriquecidos em proteína e vêm dar “resposta à procura por soluções mais proteicas”.

No caso dos snacks saudáveis, a segmentação é, regra geral, mais estreita. O público-alvo são “claramente mulheres ativas, com uma vida profissional intensa e praticantes de desporto, entre os 20 e os 45 anos”, descreve o diretor executivo da Fruut.

Nuno Guterre, por sua vez, distingue três tipos de consumidor. “O consumidor massivo de snacks, o consumidor de produtos saudáveis, sendo este o principal foco de crescimento, e o consumidor de snacks premium”. A Nuts tem produtos para satisfazer os três segmentos.

*Artigo originalmente publicado na edição impressa de outubro do jornal Hipersuper

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