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Covid-19: a nova realidade dos centros comerciais

Por a 8 de Julho de 2020 as 14:43

Vítor RochaPor Vítor Rocha, managing director Retail Mind – Global Retail Services

Vivemos um período conturbado, que nos surpreendeu e surpreende categoricamente e que tarda em desvanecer-se. Conseguiremos seguramente ultrapassar este momento, como pessoas, como seres adaptáveis e mutáveis, mas será que as empresas e as suas dinâmicas comerciais e empresariais, serão as mesmas? Seguramente que não. Existem setores, que certamente se vão reinventar e evoluir, como a indústria dos centros comerciais, sem sombra de dúvida, um dos setores inquestionavelmente mais afetados pela pandemia Covid’19, vivendo dias de facto, no mínimo, desafiadores.

Convenhamos que o ser humano, como ser indivisível, não se separa dos seus dogmas, das suas crenças e dos seus hábitos, e convenhamos é confortável nos habituarmos ao que mais gostamos, às pessoas que nos são próximas, a almoçar com os amigos, a frequentar uma peça de teatro, e a visitarmos diariamente as nossas lojas favoritas e experimentar aquela peça de roupa, que acabou de chegar, mas e se tudo isto não fosse possível ? Pelo menos da mesma forma? A dúvida, cria-nos desconforto, um frio no estômago, uma incapacidade rara de não conseguir responder, mas faz-nos evoluir. E será desta forma, que os centros comerciais vão evoluir, uma vez que estão assentes num conjunto de pressupostos e características aos quais fomos desde sempre formatados a assistir, mas que precisam ser alteradas, precisam de evoluir.

O espaço físico per si, será visto como divisível, outrora compacto e visto como um único conjunto comercial, irá evoluir de forma relutante pelos proprietários e gestores de centros comerciais, para uma separação física e contratual, cada vez mais alicerçada em características e funções especificas de cada negócio, e de como cada negócio e setor de atividade reagem e/ou podem reagir, em situações abruptas, de pandemias económicas e sociais, que afetam a forma como cada negócio está dentro do conjunto comercial, e como podem interagir com a gestão dos centros comerciais e por fim, como cada loja irá receber cada cliente no seu espaço físico, com o mesmo nível de serviço, os mesmos cuidados de sempre e a mesma necessidade de obter rentabilidade, porque no fim, os negócios têm que ser rentáveis.

Acredito que na vida, como nos negócios, não interessa as vezes que caímos, mas a velocidade com que nos levantamos, e nesse sentido, as marcas de retalho e os centros comerciais provaram uma vez mais, a sua capacidade de se adaptarem com rapidez, aos novos hábitos e necessidades de consumo.

A caminho de duas décadas de experiência no setor, nunca assisti a uma tão grande mudança de paradigma. O centro comercial emprega milhões de pessoas, recebe diariamente igualmente milhões de visitantes, sendo igualmente uma indústria responsável por movimentar centenas de milhões de euros, donde convivem todos os estratos sociais, todo o tipo de culturas e onde o dinheiro transacionado não tem cor, preferências ou vontades. De um momento para outro, as aglomerações nos corredores dos centros comerciais deram lugar a corredores vazios, as lojas desarrumadas com artigos que passam diariamente por centenas e centenas de mãos e zonas de restauração sem espaço para colocar um único tabuleiro que seja, vieram dar lugar a filas à porta do centro comercial- que começaram enormes, mas que num ápice, se tornaram pequenas. As lojas repletas de roupa sem ordem e sentido, vieram dar lugar a prateleiras organizadas e a cabides irrepreensivelmente alinhados à espera do número bastante inferior de clientes ao praticado anteriormente, que em simultâneo, podem estar dentro da loja e sempre com o olhar atento dos funcionários que educadamente lembram aquele cliente mais distraído, que tem que usar máscara e desinfetar as mãos à entrada da loja. Parecemos e somos “vigiados”, quase como se de um programa televisivo, fizéssemos parte, e tornamos uma experiência que até então era descontraída e simples, num conjunto de regras e obrigações, que forçosamente devemos seguir e aceitar.

O novo coronavírus obrigou os estabelecimentos comerciais a tomar medidas de prevenção e contingência que, creio que nem no início desta pandemia, muitos de nós acreditavam que fossem possíveis e exequíveis, mas vamos conseguir adaptar-nos, não tenho a menor dúvida, conseguimos sempre.

Os centros comerciais, irão ter novas formas de interagir para as pessoas e com as pessoas. Porque este negócio é e será sempre um negócio de pessoas para pessoas, e com segurança, podemos dizer que o consumidor do centro comercial não será mais o mesmo, pelo menos por um período prolongado em que, os centros comerciais vão ter de se reinventar, cativar e surpreender o consumidor. Nada de novo, para o povo português!

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