A integração vertical e as marcas próprias
Por Robertus Lombert, partner da IPLC para Portugal
Tanto em Portugal como na Europa vemos cada vez mais retalhistas entrar na área da produção e / ou na área agroalimentar. Só para referir alguns exemplos, o Pingo Doce produz leite e carne e o Lidl tem uma fábrica de gelados.
As razões para optar por uma integração vertical podem ser várias. A principal é garantir um produto de qualidade. Como as marcas próprias são cada vez mais marcas, a qualidade do produto é cada vez mais importante. Por um lado, a perceção de qualidade por parte dos consumidores em relação às marcas próprias aumentou muito ao longo dos anos. Por outro lado, em consequência, a obrigação de ter um produto de qualidade também aumentou. Através de uma integração vertical, o retalhista ganha claramente um melhor controlo sobre toda a supply chain.
Além da qualidade, às vezes também é a falta de capacidade de produção, ou quase monopólios, que leva os retalhistas a optar pela integração vertical, optando por construir as suas próprias fábricas.
Também existem modelos intermédios de integração vertical, como por exemplo o modelo de interprovedor utilizado durante anos pela Mercadona. Baseado num sistema “open book”, por um lado garante ao fabricante o fornecimento no médio e no longo prazo, por outro lado exige uma exclusividade de fornecimento. Apesar de não ser uma integração vertical total, esse modelo resultou bem e permitiu à Mercadona ganhar a sua posição atual no mercado espanhol.
A exclusividade em si é outra das razões que leva os retalhistas a optar por uma integração vertical. Num mundo em que cada vez mais os sortidos oferecidos pelos retalhistas são mais parecidos, principalmente no que diz respeito às marcas, a marca própria, sendo diferenciadora, ganha mais importância. Conseguir produtos em exclusivo pode levar claramente a uma vantagem competitiva.
A importância de uma melhor integração vertical também é sentida nos contratos entre fabricantes e fornecedores. Lentamente notamos que os contratos começam a ser de um período superior e, de certa forma, os retalhistas procuram ter uma relação diferente com os fornecedores, apostando não só em preço e qualidade, mas também em inovação. E a inovação é beneficiada claramente por relações de maior duração.
Agora voltando à integração total por parte das retalhistas. Obviamente ter um melhor controlo na cadeia de abastecimento pode originar um produto de melhor qualidade, não sendo necessariamente a solução ideal. Para já, vender ou fabricar são dois mundos diferentes. Mas mais importante é o risco de perda de competitividade, uma vez que, no fundo, a produção já está vendida. A falta de pressão para ser sempre competitivo pode falhar. Será que, se houver um outro fabricante que produz melhor, o retalhista vai mesmo optar por comprar a outro fabricante e deixar de trabalhar com a sua própria fábrica? Mais não seja pela pressão por parte do retalhista perante as suas fábricas, no fundo todos sabemos a resposta.