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“Nem todos os plásticos de origem vegetal são benéficos para meio ambiente”

Por a 25 de Setembro de 2019 as 10:46
Da direita para a esquerda: Fernando Ventura (Jerónimo Martins), João Letras (Sociedade Ponto Verde), Irene Mora (Plastics Europe) e Eduardo Soares (Amorim Cork Composites)

Da direita para a esquerda: Fernando Ventura (Jerónimo Martins), João Letras (Sociedade Ponto Verde), Irene Mora (Plastics Europe) e Eduardo Soares (Amorim Cork Composites)

O plástico representou uma grande evolução para o mercado, em termos de conservação dos alimentos e tecnologias de transporte e embalagem. O impacto foi tão expressivo que as sociedades ficaram dependentes deste material, sem olharem para as implicações no que diz respeito ao meio ambiente – até hoje.

Em Portugal, acaba de ser criado o Pacto Nacional dos Plásticos, que conta com o apoio do Governo e que pretende trazer mais regras e conhecimento. Há empresas, como a Jerónimo Martins, que alertam para a necessidade de estudar os verdadeiros impactos ambientais das alternativas a este material, para evitar que se cometam os mesmos erros.

Todos os anos são produzidos 58 milhões de toneladas de plástico na União Europeia (UE), sendo que 40% desta quantidade é aplicada em embalagens e 22% em bens de uso doméstico. Depois de utilizados, os plásticos geram 25 milhões de toneladas de resíduos por ano ao longo dos estados-membros e, destes, apenas 30% seguem para reciclagem. Ou seja, mais de dois terços dos resíduos de plástico produzidos na UE acabam em aterros ou nos oceanos. 

Os dados sustentaram a introdução feita por Ana Cláudia Coelho, diretora de Sustainable Business Solutions da multinacional PriceWaterhouseCoopers (PwC), ao painel que se encarrega de discutir o tema “Plásticos” durante a conferência realizada na semana passada pela Smart Waste Portugal em Serralves, Porto.

Com o embalamento de produtos a captar a maior fatia dos plásticos produzidos na Europa, “o setor do retalho acaba por ser “o mais impactado quer pelas reações dos consumidores quer pelos legisladores”, observa Fernando Ventura, responsável pela eficiência e projetos de inovação ambiental do grupo Jerónimo Martins, um dos convidados para este painel.

80% dos plásticos de utilização única colocados no mercado pela empresa de distribuição, dona das cadeias Pingo Doce e Recheio no país, dizem respeito a embalagens de marcas próprias. Considerando que um terço das suas embalagens de marcas próprias são produzidas recorrendo a plástico, o grupo está “desde 2018” a definir parcerias, “muitas delas informais”, de forma a recolher mais conhecimento e definir alternativas para reduzir o plástico utilizado e aumentar a sustentabilidade das embalagens.

Ecodesign de embalagens

Sendo o ecodesign “um dos principais desafios e tendência para a reciclabilidade de plástico na indústria”, de acordo com a PwC, nesta área o grupo Jerónimo Martins tem já identificados “21 critérios e seis estratégias” para definir metodologias. “Só no primeiro semestre de 2019 já desenvolvemos mais projetos de ecodesign que no ano passado”, sublinha Fernando Ventura. 

A Jerónimo Martins tem o projeto “Ecodesign de Embalagens” a decorrer desde 2010, o qual já permitiu alterar mais de 311 referências, entre os produtos de marca própria vendidos nos três países onde opera (Portugal, Polónia e Colômbia). Alterações que levaram já a uma poupança de 20.000 toneladas em materiais.

No entanto, neste luta contra o plástico, a empresa evidencia alguma cautela na hora de selecionar os materiais alternativos ao plástico. Uma das decisões tomadas pelo grupo passa por “não recorrer aos bioplásticos” por “não haver uma infraestrutura” consolidada para tratamento destes materiais nem “estudos suficientes para que se saibam quais os seus verdadeiros impactos ambiental e económico”, sublinha Fernando Ventura.

“Nem todos os plásticos de origem vegetal são benéficos para o meio ambiente”, reforça João Letras, da Sociedade Ponto Verde, entidade que também tem procurado, dentro do seu laboratório, encontrar soluções mais sustentáveis para embalagens, estudando a conjugação de diferentes materiais.

Em Portugal, 70% dos lares fazem a separação de resíduos, salienta o responsável admitindo que o país “pode ter mais recolha porta-a-porta” no sentido de atingir a meta europeia dos 50% em 2025 no que diz respeito à quantidade de resíduos de plástico reciclados. 

De acordo com a PwC, Portugal tem um consumo de plástico per capita (de 36 kg por pessoa) acima da média europeia (que assenta nos 31 kg por pessoa).

O problema do plástico agrava-se quando alargamos a visão ao nível mundial considerando que a Europa é apenas responsável por 1% da poluição causada pelo plástico, explicou Irene Mora, gestora do projeto PlasticsEurope.

Pacto Nacional dos Plásticos

Neste contexto, a Smart Waste Portugal, uma plataforma de investigação e desenvolvimento para a economia circular que conta com mais de 100 associados, entre eles a APED (Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição), anunciou no evento a criação do Pacto Nacional dos Plásticos, em parceria com a Fundação Ellen MacArthur. O objetivo é criar um compromisso entre o Governo, agentes da cadeia de valor dos plásticos, universidades e ONGs, no sentido de definir metas e objetivos até 2025. O acordo integra a rede de Pactos Nacionais promovida pela Fundação Ellen MacArthur que engloba outros países, como Reino Unido, Chile e França.

Entre as medidas estão a criação de um guia de boas práticas e de uma plataforma online para gestão de desperdícios, a desenvolver no próximo ano.

No evento marcaram presença também empresas como a Sonae, para discutir o “Desperdício alimentar”, ou a Lipor, que interviu na vertente “Recolha de resíduos” – outros dos temas que descrevem a atuação da Smart Waste Portugal.

*Notícia alterada no dia 30 de setembro às 18 horas –  correção da proporção de embalagens da Jerónimo Martins produzidas com plástico

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