Maria Marramaque (ANIL): “É tempo de ouvir, estudar e definir caminhos”
Maria Cândida Marramaque assumiu em junho a direção-geral da Associação Nacional dos industriais de Laticínios. Um pretexto para entrevistar a assessora técnica da ANIL durante mais de 18 anos e que agora assume o desafio de revitalizar a fileira
Quais os seus principais desafios no âmbito do novo cargo?
Desde logo cumprir com a missão da ANIL, na representação e defesa dos interesses do setor da transformação de leite, contribuindo para o seu desenvolvimento e para a sua valorização.
Depois, um dos grandes desafios passa por trazer de volta o valor da naturalidade do leite e dos produtos lácteos para junto dos consumidores. Comunicar as características nutricionais excecionais e únicas, que estão em cada produto feito a partir do leite, resultantes de processos de transformação mínimos e grande rigor em termos de segurança alimentar. Para, no fim, estimular o consumidor de todas as faixas etárias a cumprir com o que são as recomendações alimentares de leite e produtos lácteos, dentro de um regime alimentar equilibrado.
Que projetos tem em mente para valorizar o setor?
Este ainda não é o tempo de revelar os projetos. Existem já algumas ideias e intenções. É tempo ouvir, estudar e de definir os caminhos a seguir.
O consumo de laticínios está em queda desde 2008. Qual a estratégia em curso para revitalizar o setor?
Não podemos dizer que há uma queda generalizada no consumo de lacticínios. O consumo de iogurte mantém-se tendencialmente estável e o consumo de queijo apresenta um crescimento notório desde 2011. Quanto ao leite, houve sim uma quebra de consumo, que se tornou evidente a partir de 2008. No entanto, em 2016, e de acordo com os dados do INE, há uma inflexão dessa tendência, com um ligeiro aumento do consumo.
Um dos pontos para revitalizar o setor passa por envolver o consumidor com o produto. Voltar à origem, mostrar os benefícios do leite e produtos lácteos. Falamos de alimentos fundamentais para uma dieta rica em nutrientes de elevada qualidade, com um leque variadíssimo de opções e a um custo acessível.
Consumo fora de casa está a crescer
Onde estão as oportunidades de crescimento para os fabricantes de laticínios?
Em determinados segmentos direi na inovação. E na inovação cabe quase tudo. Desde a apresentação de produtos que vão de encontro às novas tendências e necessidades de consumo, quer em termos nutricionais e de saúde, quer em termos de praticidade e conveniência, até aos novos momentos de partilha e convívio em família ou entre amigos. Se pararmos e olharmos com atenção podemos reparar que há cada vez mais espaço para a apresentação de produtos lácteos ligados ao consumo fora de casa, seja na escola, no ginásio ou num bar de queijo.
Um dos caminhos poderá ser a aposta nos laticínios biológicos, como se faz em Espanha?
Sim, esse também é um caminho. E um caminho que implica tempo para reconversão, mas que resultará num produto de maior valorização.
Quais considera ser os principais desafios a prazo deste setor?
Os desafios deste setor, para além dos já apresentados anteriormente e que se prendem nomeadamente em melhorar a saúde e a nutrição da sociedade, assentam na sustentabilidade da cadeia láctea e na proteção do ambiente.
*Entrevista originalmente publicada na edição impressa de agosto do Jornal Hipersuper