Homepage Newsletter Produção

Sovina põe à prova sucesso da cerveja artesanal em Portugal

Por a 29 de Junho de 2018 as 10:34

A Sovina, adquirida pela Herdade do Esporão, quer faturar dentro de cinco anos dois milhões de euros anualmente. João Roquette, CEO da empresa, acredita que a aposta das cervejeiras industriais em cervejas artesanais e especiais pode ajudar a consolidar o negócio da cerveja artesanal em Portugal

É ainda uma gota num oceano. Mas quem está a apostar na produção de cerveja artesanal prevê que a quota de mercado do segmento possa valer cerca de três por cento nos próximos dez anos. A Sovina, adquirida este ano pela Herdade do Esporão, fatura 500 mil euros anualmente, num mercado que João Roquette, CEO da Herdade do Esporão, estima que possa valer atualmente entre dois e três milhões de vendas.

O responsável estabelece dois milhões de euros como fasquia mínima de faturação anual dentro de cinco anos. Não chegando a esse valor, é sinal que o negócio ficou aquém das expetativas. “É um desafio e os nossos números falam mais alto que isso. Se me disserem que ao final de cinco anos este negócio fatura mais de cinco milhões de euros, eu ficaria positivamente impressionado porque seria um crescimento de dez vezes. Mas isso vai depender muito do desenvolvimento da própria categoria”, refere o CEO da Quinta do Esporão.

Pelas palavras de João Roquette, a consolidação de uma cultura de cerveja artesanal em Portugal pode demorar vinte anos, tal como aconteceu nos Estados Unidos. Mas o CEO da Herdade do Esporão também está consciente que tal possa não vir a concretizar-se. “Receio que a conquista não aconteça. Pode acontecer o mercado como um todo não se abrir à cerveja artesanal. O que está agora a acontecer é que se está a abrir, devagarinho. E nós acreditamos que se vai abrir ainda mais, como aconteceu com outros mercados, mas pode acontecer que não aconteça”.

A implementação do segmento de cerveja artesanal estará vinculada à criação de uma cultura de cerveja artesanal em Portugal. E isso dependerá de vários fatores. “Temos uma primeira fase nesta altura que é a de standards industriais, consistência, distribuição, acessibilidade, dar a cerveja a conhecer às pessoas, construir essa cultura. Esse vai agora ter de ser o nosso foco. Paralelamente vai haver esta agenda de inovação, aproveitando tudo o que o Esporão tem construído para começarmos a pensar nas cervejas do futuro”, refere. Também pelas caraterísticas e atividade que a Sovina tem vindo a desenvolver desde a sua fundação, que não apenas a produção e venda de cerveja, João Roquette considera ter sido a aposta certa para o desenvolvimento dessa cultura. “Uma das coisas que nos interessou muito foi o facto de ser pioneira em Portugal a fazer cerveja artesanal, de vender este equipamento e matéria-prima para os restantes cervejeiros, para quem quer fazer cerveja em casa ou quem quer montar um negócio em Portugal. E utilizar este espaço para fazermos workshop”, explica.

SovinaSagres e Super Bock podem ajudar no crescimento do segmento

Mas o empresário conta também com o contributo das grandes empresas industriais de cerveja, pelos produtos que têm vindo a lançar no mercado, para dar visibilidade a este segmento de produto, sobretudo na grande distribuição. “Já temos um linear de cerveja artesanal. E já temos uma escolha nas cadeias de grande distribuição de cerveja artesanal. O próprio trabalho que a Sagres e a Super Bock estão a fazer com as cervejas deles e a grande visibilidade que lhes estão a dar, esse trabalho de educação do consumidor é bastante positivo para todos. Quando vamos ao linear, já vemos as cervejas especiais e artesanais que estão a lançar com bastante visibilidade”, realça.

As grandes empresas de bebidas estão a apostar amiúde em cervejas especiais e artesanais. O Super Bock Group lançou recentemente a Coruja. A SCC colocou este ano no mercado a Bohemia Hoppy Weiss. No ano passado, a Sagres Cascade. O grupo Sumol Compal comercializa a Bock-Damm, a Voll-Damm e a Inédit. E a DCNBeers está a apostar na comercialização da Duvel em barril, da Chimay Veillien em barrica e da La Rosa, cerveja produzida pela empresa de vinhos Quinta de La Rosa.

Dando o exemplo da Coruja, Bruno Albuquerque salienta que esta gama de cervejas especiais “vem exatamente no sentido de diversificarmos a oferta através da nossa principal marca, enquadrando esta novidade na maior apetência que o consumidor português demonstra por cervejas diferenciadas”. O responsável do Super Bock considera mesmo que o setor cervejeiro, no todo, está a viver um momento muito interessante, realçando também o papel das empresas que estão a produzir cerveja artesanal. “O universo das cervejas especiais e artesanais, embora ainda seja um nicho, está também em crescimento, pois verificamos que há cada vez mais apreciadores destes estilos de cerveja, o que significa que há ainda muito para se inovar. Há quem diga que o caminho artesanal é o futuro do setor cervejeiro em Portugal, algo que é favorável tanto para os apreciadores como para a economia portuguesa”, realça.

Reconhecendo a apetência dos portugueses pelo consumo de maior variedade de cervejas, os responsáveis do setor cervejeiro reconhecem a importância do lançamento de produtos diferenciados no mercado. “A inovação, onde se insere o lançamento de novos produtos, é constante na Central de Cervejas”, diz Nuno Pinto Magalhães. “Os consumidores portugueses estão cada vez mais informados e bastante experimentalistas e procuram cada vez mais ser surpreendidos, o que dá espaço ao mercado cervejeiro para apresentar tipos de cervejas diferentes. Esta curiosidade do consumidor pelo mundo da cerveja traz uma nova dinâmica para o mercado e para a diferenciação da própria categoria, sempre na ótica de experiência cervejeira e isso é uma oportunidade para o setor”, acrescenta. “O consumidor procura hoje conhecimento sobre o mundo cervejeiro, não abdica da qualidade, quer variedade de experiências e não descura a imagem nem a confiança nas marcas”, complementa Elsa Cerqueira, responsável pela da Estrella Damm.

No caso do Super Bock Group, que lançou em 2013 a gama Super Bock Seleção 1927, Bruno Albuquerque refere que a empresa tem tido “um papel ativo na democratização do acesso a cervejas especiais, através da diversificação da nossa oferta adequada para diferentes momentos de consumo e perfis de consumidor”.

No segmento da cerveja artesanal, sendo um produto ainda relativamente desconhecido do consumidor, o “mais importante é provar a cerveja”, refere João Roquette. A empresa pretende, assim, integrar a Sovina nos centros de experiência Esporão. “Juntamos a experiência dos vinhos com a experiência dos vinhos com a gastronomia e, agora, com a cerveja também. Contamos também a nossa história através desses centros de experiência, que depois aproveita um pouco dos enoturismos que temos. É juntar isso tudo num conceito de retalho e de rua”, finaliza.

*Artigo originalmente publicado na edição impressa de junho do Jornal Hipersuper
 

Deixe aqui o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *