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Opinião. Qual o idioma do mercado de trabalho das startups?

Por a 10 de Maio de 2018 as 16:58

MichaelPageLéo Capelossi, associate manager sales&marketing Michael Page

Founders, co-founders, angel investors, pitch, bootstrapping, MVP, fintechs emedtechs, entre tantos outros, são termos cada vez mais recorrentes no mundo profissional atual e com certeza teremos mais termos novos nos próximos anos.

São muitas as empresas que começam a surgir no mundo sob a terminologia de startup, palavra escolhida para designar empresas inovadoras no agitado cenário americano da internet no início dos anos 90.

Mas afinal o que define uma startup? Há quem diga que qualquer empresa nova é uma startup, mas há uma definição bastante difundida na internet que explica que startup é um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócio que possa ser replicado e que possa ganhar escala, com a menos valia de se trabalhar em condições de extrema incerteza, pelo que ‘apenas’ os aventureiros se atrevem…

De qualquer maneira, é incalculável a capacidade de gerar valor deste novo ecossistema, o universo startup. Muitas empresas já são casos de sucesso muito bem consolidados, ainda que algumas tenham apenas poucos anos de idade e são já nossas conhecidas por habitarem no nosso dia a dia: estão nos nossos telemóveis através de aplicações simples e fáceis de usar por todas as gerações. Apenas para ilustrar, vale a pena citar algumas que já têm o título de unicórnio, ou seja, que figuram no clube das empresas com valor de mercado acima de mil milhões de dólares como Uber, Xiaomi, Didi Chuxing, Palantir e Wework, entre outros.

Quero chamar a atenção para um segundo ponto: existe uma espécie de rutura entre o ‘tradicional mundo dos negócios’ e o ‘ecossistema startup’, especialmente falando dos profissionais que estão inseridos nos dois universos. Passo a explicar o meu ponto de vista: com alguma frequência frequento ambos os cenários, ora visitando algum cliente de uma indústria mais tradicional como a da aviação ou dos bens de consumo, ora entrevistando executivos de carreira sólida e extensa à procura de um novo desafio, ora ainda visitando potenciais clientes de empresas inovadoras em tecnologia.

Apercebo-me nestes encontros que há discursos e visões antagónicas. Passo a exemplificar:  já ouvi que “não confio nestes rapazes de calções e chinelos que pensam que estão a reinventar o mundo”, ou “este mercado vai morrer, rapidamente alguma tecnológica desaparece…”, ou “quem usa gravata não consegue acompanhar o nosso ritmo de inovação”. Ou seja, são visões distintas construídas com base em análises do passado e previsão de futuro, que esquecem-se que estão a partilhar o mesmo tempo e espaço presente!

Entendo que a disrupção causada pelas empresas novas é fundamental na evolução dos negócios mais antigos, tal e qual a base existente serve de input para a inovação sem fronteiras que aí vem, tudo acontece ao mesmo tempo. Dito isso, acredito de facto que as empresas mais tradicionais vão ter de se adaptar a um novo perfil de profissional, menos formal, jovem, com uma base de ferramentas tecnológicas muito acima de padrões anteriores, que tem ambição de crescimento e liberdade de escolhas relativas ao modelo de trabalho. É um choque de gerações, é quase instintivo defender e exaltar a própria geração lembrando-se de marcos do início da juventude com nostalgia; mas à medida que o tempo avança, as próximas gerações farão o mesmo e assim por diante, esta mudança de perfil é inevitável.

Do outro lado e talvez o ponto central deste texto: as novas gerações também terão de se adaptar à cultura dos negócios pré-existentes e entender quais são os momentos em que vale a pena acelerar e quando é indicado ser mais conservador na carreira.

Exemplificando novamente para ajudar a ilustrar: já conversei com jovens profissionais da geração Y e Z, que estiveram em mais de sete ou oito empresas em menos de cinco anos de carreira e que têm a ambição de chegar a um cargo de direção e de presidência de empresas multinacionais. São talvez carreiras baseadas no imediatismo, pessoas que esperam que as empresas reconheçam que a sua juventude e o seu brilhantismo natural devem ser motores de uma carreira acelerada e com menos etapas até o topo. Doce ilusão. É impossível construir algo sólido sem tempo, sem experiência, sem gestão, mesmo nas inovadoras startups. Com certeza há carreiras mais rápidas do que a média em empresas de crescimento acelerado, mas nada é instantâneo.

Talvez a fama e o status alcançados por Zuckerberg e companhia tenha iludido demais alguns jovens profissionais. É impressionante o volume de perfis de pessoas com menos de 25 anos que se auto intitulam CEO, founders e co-founders. De empresas próprias ou imaginárias, que não têm experiências com mais de dois anos de estabilidade. Também temos os coaches ou life coaches de 22, 23 anos, que com zero ou quase zero experiência profissional e um diploma de algum instituto, prometem mudar a vida profissional de outras pessoas. Nada contra que sigam seus caminhos, mas imagino que para prestar consultoria ou ser mentor de outra pessoa, é importante ter acumulado informação, experiências e alguma bagagem para tal.

Pergunto-me se esta dinâmica vai produzir uma geração pouco realizada e pouco experiente, que tinha potencial, mas com baixo poder de absorção pelo mercado de trabalho daqui a alguns anos. Realmente espero que surjam cada vez mais novas startups de sucesso, mas é preciso separar a realidade e o trabalho duro, do sonho quase ingénuo de achar que boas ideias se materializam em forma de aportes milionários num novo negócio e sem qualquer bagagem profissional.

Sendo assim, analisar o mercado e suas tendências tecnológicas, traçar rotas possíveis e reais de crescimento e os passos para lá chegar tende a ser o indicado. Se a empresa em que trabalha atualmente não segue o rumo que traçou para sua própria carreira, talvez esteja na hora de mudar. Mas se encontra meritocracia, cultura condizente com seu perfil e nível de competitividade no mercado ajustados, talvez seja o momento de pensar num ciclo mais longo e trabalhar feliz para atingir seu objetivo, seja ele qual for. Ou então, no caso de uma jornada empreendedora, é imprescindível preparar-se, ler muito e procurar o apoio de mentores e pessoas com experiência prévia, porque sabemos que ter apenas um nome de cargo bonito e moderno, não é garantia para o sucesso.

 

 

 

 

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