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O dia em que os saldos chegaram à banca e aos seguros, por José Figueiredo (ComparaJá.pt)

Por a 12 de Dezembro de 2017 as 11:18

José Figueiredo, diretor-geral da plataforma de simulação de crédito e telecomunicações ComparaJá.pt

O leitor com certeza já se divertiu, como “guilty pleasure” ou simplesmente como observação de carácter sociológico, com vídeos da “Black Friday” em que multidões invadem lojas e se digladiam para descobrir quem levará a mais recente televisão com 50% de desconto, o último iPhone ou um qualquer outro “gadget” alvo de uma irresistível promoção.

A “Black Friday” é normalmente “território” dos retalhistas do comércio e é no seio destes que o dia é conhecido. Pois, não é…era. O tempo em que só os retalhistas do setor não-financeiro se aproveitavam desta época de promoções é passado. O último setor a chegar à data conhecida pela loucura de promoções e saldos foi aquele que menos se esperava, sendo conhecido pelo seu perfil conservador: a banca e também as seguradoras.

O leitor se, de facto já passou pelos vídeos de Youtube de multidões em dia de “Black Friday”, não pode deixar de imaginar o cenário: turbas a invadir os balcões e agências de bancos e seguradoras à procura da melhor TAEG do Crédito Pessoal, da TANB mais rentável no Depósito a Prazo, do melhor desconto no seguro automóvel… Em suma, um “bank run” invertido. A “Black Friday” vingaria a “Black Tuesday”.

Mas, deixando os cenários líricos de parte, a verdade é que os bancos e seguradoras estão mesmo a apostar em épocas de saldos. Neste ano, já houve alguns “players” que se aproveitaram da época para lançar campanhas promocionais.

O Montepio, por exemplo, melhorou os juros dos depósitos a prazo (um produto que tem estado um pouco em baixo em termos de rentabilidade no mercado) numa promoção com um espaço temporal limitado. O Santander, por seu lado, apostou como produto-alvo da “Black Friday” no crédito pessoal online, tendo cortado a TAN de 9% para 7,9% também num espaço curto de tempo. Também na oferta do Banco Best foi lançada uma campanha: houve uma redução de 50% nas comissões de compra e venda em bolsa. Por seu lado, nos seguros a LOGO garante um desconto de três meses em seguros automóvel, casa (imóvel e recheio) e saúde.

A verdade é que as “promoções” que interessam na banca, ou seja, os cortes constantes em taxas e afins tem já vindo a acontecer paulatinamente. Não esquecer que atualmente se vive um momento de grande competitividade no que aos spreads no Crédito Habitação diz respeito, com Banco CTT, Bankinter, Abanca e Millennium bcp a quererem disputar o mercado tornando esta variável cada vez mais atrativa para as famílias nacionais.

Já nos cartões de crédito, a TAEG tem vindo a ser cortada: desde um pico de 37,3% no quarto trimestre de 2012 até um mínimo de 16,1% no último trimestre deste ano. Também no crédito pessoal houve uma tendência semelhante, com as taxas a caírem para metade ao longo do tempo.

Estando claramente em época “alta” no que à banca diz respeito e com esta a “seguir” as promoções feitas em retalhistas, podemos colocar a questão: seria uma boa estratégia para a banca seguir épocas de saldos à semelhança do que fazem outros setores? A resposta tem que ser ambígua: dependerá. Convenhamos que um crédito habitação não é o mesmo que uma peça de roupa e como tal não estará tão suscetível a promoções sazonais.

Mas outros produtos financeiros poderiam ganhar com saldos do género: por exemplo, aumentar descontos e cashback nos cartões de crédito durante a época pré-natalícia, levando a poupanças substanciais dos consumidores nas compras desta altura poderia ser interessante para atrair mais portugueses para adquirir este produto. O mesmo pode ser enquadrado no período de férias.

Mas, claro, sempre com políticas responsáveis de concessão de crédito para evitar pressionar a taxa de esforço das famílias, evitando demasiados situações de sobreendividamento. Temos que aprender com erros passados!

De uma coisa podemos ter a certeza: as finanças pessoais dos portugueses só têm a ganhar com estas “Black Fridays”. Venham mais.

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