O ciclo de produção da Nobre
No ano em que assinala 60 anos de presença no mercado português, a Nobre abriu as portas da fábrica instalada em Rio Maior para dar a conhecer o seu ciclo de produção. A empresa que emergiu de um talho instalado em Rio Maior, é hoje a maior produtora portuguesa de transformados de carne
Ana Catarina Monteiro
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No ano em que assinala 60 anos de presença no mercado português, a Nobre abriu as portas da fábrica instalada em Rio Maior para dar a conhecer o seu ciclo de produção. A empresa que emergiu de um talho instalado em Rio Maior, é hoje a maior produtora portuguesa de transformados de carne
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Quando Marcolino Pereira Nobre abriu em 1918 o seu primeiro talho, em Rio Maior, estava certamente longe de imaginar que o seu sobrenome representasse, quase um século depois, a marca de fiambre mais vendida em Portugal. O empresário patenteou em 1957 a Nobre, que cresceu de um pequeno negócio familiar para se tornar a maior empregadora da região que a viu nascer.
As seis décadas de presença no mercado foram o pretexto para a empresa abrir as portas da fábrica de Rio Maior e mostrar como são feitas as referências que chegam a 80% dos lares portugueses (apenas fiambre).
A unidade estende-se por 40 mil metros quadrados, ao longo dos quais operam 763 colaboradores. Da carne que aqui chega, apenas 20% é portuguesa. A maioria tem origem “espanhola ou americana”. A desossa da matéria-prima é feita sobretudo por mulheres, pois têm mais habilidade para este trabalho minucioso, explica, enquanto guia a visita, Luís Raimundo, diretor global de pesquisa e desenvolvimento da empresa.
Já sem ossos, a carne passa de seguida por um processo mecânico no qual é injetado salmoura, um conservante à base do sal proveniente das salinas da região, e segue para as câmaras giratórias onde é “massajada” durante várias horas. Por fim, é embalada e inserida em fornos que garantem a cozedura.
Assim se faz o fiambre da Nobre, o produto que mais pesa nas vendas da marca (45% entre fiambre de aves e de porco) e que representa 35% das vendas deste alimento de charcutaria no total do mercado nacional. Seguem-se as salsichas, que pesam 33% na faturação da fabricante.
Volume de negócios de 130 milhões de euros
A fábrica de Rio Maior é atualmente a única unidade industrial da empresa, que encerrou a unidade industrial de Mem Martins (Sintra) em 2013. Tem uma capacidade produtiva de “70 mil toneladas por ano”. Além de abastecer o mercado nacional, exporta para cerca de 30 países, que representam 38% do volume de negócios de 130 milhões de euros alcançado em 2016. Os três principais destinos além-fronteiras são Espanha, França e Angola.
Fora os produtos finais que chegam aos consumidores, parte das exportações dizem respeito aos preparados de carne que seguem como matéria-prima para outras unidades fabris em Espanha, Bélgica e Itália, detidas pela mesma dona da Nobre.
Apesar de manter o “carácter nacional”, a empresa está hoje nas mãos da mexicana Sigma que, por sua vez, pertence ao grupo Alpha. Ligada também à indústria de carne, a produtora avançou em 2013 com uma Oferta Pública de Aquisição (OPA), sobre a espanhola Campofrío, anterior dona da Nobre. Rui Silva é desde o verão de 2011 o CEO (Chief Executive Officer) da produtora lusa.
As várias aquisições pelas quais passou, não fizeram a marca esquecer as suas origens. O primeiro trabalhador da fábrica de Rio Maior, que os restantes colaboradores chamam de Senhor Cândido, ainda hoje está ligado à empresa. Começou por entregar produtos de bicicleta e hoje assegura o sabor tradicional das receitas da Nobre. O “Fiambre da Perna Receita Tradicional do Sr. Cândido”, produto lançado em 2013, é exemplo do seu envolvimento com a empresa, representando um dos lançamentos “bandeira” da marca.
Nobre reformula oferta
O fiambre de porco ainda é o produto da Nobre preferido dos portugueses. No entanto, como a preferência dos consumidores por fiambre de aves tem vindo a ganhar expressão nos últimos anos, a marca tem reajustado a oferta, através de receitas mais saudáveis, para se adaptar os novos hábitos de consumo. Em 2014, após ter eliminado 30% das referências do seu portefólio, lançou a gama “Cuida-t”, composta por produtos isentos de glúten, teor de sal reduzido e menos gordura que as versões anteriores (fiambre da perna extra, peito de peru fumado, peito de peru, salsichão sem lactose e chourição). Um ano depois, chegaram ao mercado as salsichas de peru e de frango.No ano em que comemora o 60º aniversário, a Nobre lançou as “primeiras salsichas no mercado com carne branca” – 100% de frango ou de peru -, que são também, segundo a produtora de Rio Maior, as “primeiras a surgirem nos lineares portugueses com um índice de gordura abaixo dos 3%, valor semelhante ao de um peito de frango ou de peru”.
Governo negoceia exportação para meia centena de produtos
Presente no evento no qual se assinalou o 60º aniversário da Nobre, o Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos, revelou que as exportações agroalimentares portuguesas cresceram “20% no primeiro trimestre do ano”, face ao período homólogo. O ministro fez questão de frisar que desde que entrou para o Governo abriram-se “30 novos mercados” para “90 produtos alimentares portugueses”. Neste momento, o executivo está em negociação para alargar a exportação a “meia centena” de bens, dos quais “60% são de origem animal”.