Entrevista: “Intermarché exporta 3 milhões de euros em produtos nacionais”
A insígnia de retalho alimentar do Grupo Os Mosqueteiros exporta três milhões de euros em produtos portugueses, como azeite, sumos e fruta, para 300 pontos de venda em França. Em entrevista ao HIPERSUPER, Vasco Simões, administrador do Intermarché, fala sobre o apoio à produção nacional, o plano de expansão e a estratégia para o canal online
Ana Catarina Monteiro
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A insígnia de retalho alimentar do Grupo Os Mosqueteiros exporta três milhões de euros em produtos portugueses, como azeite, sumos e fruta, para 300 pontos de venda em França. Em entrevista ao HIPERSUPER, Vasco Simões, administrador do Intermarché, fala sobre o apoio à produção nacional, o plano de expansão e a estratégia para o canal online.
O Grupo os Mosqueteiros tem em marcha um plano de expansão para as três insígnias de retalho alimentar e especializado que prevê um investimento global de 280 milhões de euros até 2020. A meta é ter em operação 294 unidades Intermarché, 50 lojas Bricomarché e 60 centros-auto Roady em três anos.
O Grupo Os Mosqueteiros fechou 2016 com 308 lojas, uma superfície comercial de 365 mil metros quadrados e 14 mil colaboradores. Que balanço faz dos 25 anos de atividade no mercado português?
Os 25 anos de presença em território nacional têm sido marcados por um forte crescimento que foi sendo consolidado. Durante estas duas décadas alcançámos várias metas – o que foi possível graças às ambições e objetivos que fomos definindo mas, também, ao desenvolvimento do próprio País. Ao longo deste período registámos picos de enorme expansão e fomos pioneiros em explorar o conceito de loja fora dos grandes centros urbanos. Mas tivemos, também, anos em que esta expansão se deu a um ritmo menor, fruto da legislação vigente e da necessidade interna de repensar caminhos e estratégias para melhor alcançar os resultados pretendidos. Nos últimos anos, investimos na renovação do parque de lojas, levando novos conceitos a várias localidades do País, tendo sido uma das prioridades estratégicas destes últimos anos.
Olhando um pouco para a nossa história podemos afirmar que estas duas décadas ficaram marcadas por uma palavra: inovação. Fomos o primeiro grupo da distribuição a apostar no setor primário, com a criação do Agro, hoje denominado Programa Origens – e isto numa altura em que este setor não era tão valorizado como hoje. Além disso, somos o único grupo a operar com uma estrutura composta por empresários independentes, que estão junto das populações, das entidades e das associações locais, que gerem as suas lojas de forma autónoma e que, graças a esta proximidade, pertença e intervenção local tornam possível o desenvolvimento do País. Este modelo de negócio permite-nos uma relação única com a comunidade e também com os produtores locais, o que tem resultados benéficos para economia local e consequentemente para os consumidores. Desta ligação única que existe entre os nossos empresários e a comunidade resulta um forte compromisso no domínio da responsabilidade social e corporativa. Um dos exemplos mais paradigmáticos é o apoio à causa dos bombeiros. Desde 2005 que o grupo está na linha da frente no apoio aos bombeiros portugueses tendo angariado fundos para cerca de 50 viaturas de combate a incêndio em dois anos. Em 2014, o grupo retomou a iniciativa, desta vez com o intuito de colmatar uma outra necessidade identificada: equipamentos completos de combate a incêndios florestais. Desta forma, entre 2014 e 2016, foi possível adquirir um total de 1255 equipamentos, fundamentais para a segurança dos bombeiros. Além destas iniciativas transversais às três insígnias, é ainda de destacar o papel ativo das lojas junto das corporações locais da região onde estão implantadas.
As três missões de compra em loja
A insígnia de retalho alimentar Intermarché traçou um plano de expansão (2015-2020) que prevê a abertura de 63 lojas até 2020, com um investimento de 200 milhões de euros. O objetivo é chegar a 2020 com 294 lojas. Que balanço faz da execução deste plano?
O balanço é definitivamente positivo. Entramos em 2017 com 243 lojas e uma quota de mercado de 9,9%. Queremos aumentar os metros quadrados (m2) da nossa insígnia, pelo que estamos sempre atentos ao mercado para identificar possíveis oportunidades de negócio que nos permitam concretizar o plano de desenvolvimento. As previsões para o próximo ano são de crescimento e, por isso, acreditamos que apesar de a meta ser ambiciosa será cumprida até 2020.
Este plano de expansão do Intermarché, que regiões do País vão privilegiar?
Não privilegiamos uma região em concreto, olhamos antes para todo o País e procuramos estar sempre atentos ao mercado para identificar possíveis oportunidades de negócio que nos permitam concretizar o plano de desenvolvimento.
Que requisitos têm em conta na seleção dos empresários aderentes ao conceito alimentar?
Os requisitos que procuramos nos aderentes são transversais às três insígnias e passam por estar motivado a criar o seu próprio negócio e ser uma pessoa dinâmica, ter boa capacidade de gestão e liderança, não exercer outra atividade profissional, ter disponibilidade geográfica e ter disponibilidade para uma formação a tempo inteiro (com metodologias teórica e prática), que varia de acordo com a insígnia escolhida. Atualmente e para concretizarmos o plano de expansão estamos muito focados no recrutamento de novos aderentes.
O que têm feito para aperfeiçoar o modelo de negócio e conquistar novos aderentes?
O nosso modelo de negócio é único e apesar de termos chegado a Portugal há 25 anos é ainda hoje altamente inovador. Um modelo de negócio onde os aderentes/donos das lojas são empresários independentes que têm autonomia para gerir a sua loja de modo a satisfazer as necessidades dos clientes, necessidades essas que variam para cada localidade o que torna cada ponto de venda único e adaptado aos seus clientes.
Neste plano de expansão, vão apostar em novos formatos e conceitos de loja?
Nos últimos anos, a prioridade do Intermarché foi a remodelação do parque de lojas, com um conceito mais atrativo, moderno e funcional. O novo conceito representa uma reorganização do ponto de venda, acompanhando a tendência verificada nas nossas lojas e dividindo o espaço no que chamamos de três “missões de compras”, com especial destaque nos frescos – a nossa área de especialidade.
Os frescos e os produtos saudáveis têm-se revelado o motor de crescimentos do setor de FMCG em Portugal e o Intermarché posiciona-se como especialista em produtos frescos. Qual a vossa estratégia para fazer crescer estes dois segmentos, cada vez mais uma arma de atração dos shoppers ao ponto de venda?
A estratégia passa muito pelo reconhecimento dos produtores que têm na qualidade dos seus produtos a sua linha de orientação de base. A modernização dos seus processos produtivos, a inovação, tanto de processos como de culturas, com introdução de variedades mais robustas mas, também, com elevados padrões de qualidade organoléptica e de sabores, têm contribuído para o peso crescente dos frescos nas nossas lojas. Também neste domínio o Programa Origens do Intermarché mostrou visão estratégica. Os nossos processos logísticos permitem uma oferta constante e variada. Ao apoiar a produção e os produtores nacionais, assegurando qualidade a baixos preços, promovemos, no final do processo, o reconhecimento do consumidor. A premissa de todo o processo é simples: frescura e qualidade ao melhor preço.
Programa Origens representa 550 postos de trabalho
O Intermarché está há três anos a premiar a produção nacional e terá sido pioneiro no estabelecimento de acordos diretos com os produtores. Como evoluíram os números do Programa Origens?
Atualmente trabalhamos com 170 produtores, que produzem mais de 200 referências e 50 000 toneladas em 18 000 hectares, o que sustenta mais de 550 postos de trabalhado permanentes. A aposta na sustentabilidade e no desenvolvimento económico do País, tem sido uma bandeira do grupo que durante este período desenvolveu um conjunto de iniciativas e políticas específicas para o efeito. Em 1999, lançou o programa AGRO, uma iniciativa entretanto rebatizada Programa Origens e com o qual promovemos o desenvolvimento do património agrícola e gastronómico português. Através deste Programa, pretende garantir que os seus clientes têm acesso a produtos genuinamente portugueses, de elevada qualidade e a preços baixos, estabelecendo para esse fim parcerias diretas com vários produtores locais.
Todos os produtos Origens estão devidamente identificados no ponto de venda e têm características em comum: garantia de frescura, obedecendo a elevados padrões de qualidade e segurança alimentar; de produção nacional e/ou com origem nacional; são produtos concebidos em explorações controladas periodicamente; todos têm um caderno de encargos associado, sendo a sua produção sempre acompanhada; fabricação de acordo com as tradições e técnicas de cada região. Além deste Programa, apoia o setor primário também através do Prémio Intermarché Produção Nacional que está já na sua 3ª edição.
Em março de 2015, o Intermarché lançou a loja online em Portugal. Em abril deste ano, renovou a plataforma e alargou o serviço Drive e de entrega ao domicílio a novas zonas do País. Como está a correr este negócio no canal alimentar que, segundo os operadores em Portugal, ainda é pouco rentável?
A loja online como o serviço Drive têm tido níveis de aceitação muito positivos e em 2017 a sua expansão será uma das apostas da insígnia. Os clientes confiam no nosso serviço, sabem que todos os produtos são de elevada qualidade e quando encomendam na loja online sabem perfeitamente de onde vêm os produtos. O objetivo é chegar a 2020 com loja online para todas as lojas físicas.
Qual a vossa estratégia para desenvolver o ecommerce em Portugal?
A plataforma ecommerce e o serviço Drive têm crescido no nosso parque de lojas facilitando a experiência de compra e tornando a marca ainda mais próxima do consumidor. O serviço Drive, que oferece a possibilidade aos clientes da loja online de recolherem as suas compras na lojasem ser necessário sair da viatura, está em expansão. É simples, rápido e confortável para o utilizador, basta indicar o número da encomenda e um colaborador de loja desloca-se ao carro com as compras, coloca-as no porta-bagagem e o consumidor efetua o pagamento. A excelente aceitação de ambos os serviços tem levado à sua expansão e, por isso, em 2017 os serviços vão ser alargados um pouco por todo o País.
Em janeiro de 2016, trouxeram uma comitiva francesa a Portugal para conhecer produtores nacionais. Como correu?
No início do ano reunimos 100 expositores no CNEMA [Centro Nacional de Exposições] com o objetivo de dar a conhecer o que de melhor se produz em Portugal a delegações de França, Bélgica e Polónia e colocar os frescos nacionais nestes países. O objetivo é aumentar a exportação destes produtos de reconhecida e elevada qualidade. As exportações portuguesas têm vindo a aumentar, não só pela forte presença de portugueses nesse território mas, também, pelo reconhecimento da qualidade dos nossos produtos.
No Intermarché temos um volume de exportações de três milhões de euros. Levamos até França 200 referências de marcas como Sumol, Compal, Delta, Milaneza, Gallo, entre outras – que estão disponíveis em 300 pontos de venda.
Depois dos resultados alcançados com a gama de produtos secos, temos estado mais do que nunca dedicados aos frescos e empenhados em apoiar a produção nacional, nomeadamente através da exportação de produtos como a laranja do Algarve e a Pera Rocha.
Como está a correr o projeto da central de negociação comum com o Minipreço, denominada CINDIA, para o mercado português, anunciada em 2015? Que vantagens trouxe a ambas a retalhistas e ao consumidor português?
O objetivo da central de negociação é sermos mais eficientes, proporcionando assim vantagens qualitativas e quantitativas aos consumidores e preservando a dinâmica concorrencial gerada pelas insígnias de ambos os grupos. Desta forma, através da CINDIA é possível negociar de forma mais vantajosa e célere as condições para toda a rede. Ao sermos mais eficientes poderemos oferecer aos franchisados (Minipreço) e aderentes (Intermarché) mais uma razão para se juntarem ao nosso projeto.
Qual o volume de negócios do grupo no ano passado?
Ainda não fechamos o ano de 2016, mas em 2015 o volume de negócios do grupo esteve em linha com 2014, totalizando cerca de 2 mil milhões de euros.
Em coerência com o nosso posicionamento, que assenta em proporcionar às famílias portuguesas a maior poupança e a melhor qualidade de vida com as opções de compra mais inteligentes, temos vindo a apostar em várias ferramentas e soluções que contribuem para a competitividade do preço. Aqui incluem-se ofertas e oportunidades mas também fortes campanhas promocionais de preço e campanhas especiais que assinalam datas específicas, como as grandes campanhas de aniversário das insígnias. Merece também referência o Cartão Poupança, quer por ter sido um dos primeiros na grande distribuição quer pela sua adequação às necessidades de diferentes famílias e idades, com benefícios personalizados a famílias com bebés, famílias numerosas ou agregados seniores.
Quais os principais desafios para este ano?
Em 2017 vamos manter a aposta na inovação, na qualidade dos produtos e nos preços baixos. Num mercado altamente concorrencial como o da distribuição a inovação é cada vez mais importante e este tema tem sido desenvolvido pelas três insígnias de forma exemplar. Destaco o trabalho que tem sido feito ao nível das marcas próprias, um trabalho que tem sido pautado por mais de 100 parcerias com fornecedores nacionais. Com uma qualidade já reconhecida pelos consumidores, estes produtos são em época de crise a melhor solução de poupança. O nosso foco em 2017 será a procura por soluções e produtos inovadores e de qualidade sem esquecer o compromisso de manter os preços baixos e continuar assim a atrair clientes às lojas.
Quantos postos de trabalho estimam criar com o plano de expansão do grupo em Portugal traçado para 2015-2020?
Esperamos criar 3400 novos postos de trabalho. Estamos muito focados em aumentar os m2 das nossas insígnias e em recrutar novos aderentes para concretizarmos as aberturas que temos planeadas. Numa altura economicamente difícil ter a possibilidade de criar o seu próprio negócio, não sozinho, mas apoiado por um grupo internacional, presente em Portugal há mais de 20 anos, é uma perspetiva bastante aliciante.