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Do it, Mr Rifkin!!! Por António Flores (Loop Unique Companies)

Por a 3 de Outubro de 2016 as 16:29

Por António Flores, CEO da Loop Unique Companies

A sorte quis que este verão coincidisse com a minha leitura da biografia de Elon Musk, “O empresário que antecipa o futuro” de Ashlee Vance, e a leitura de “A terceira Revolução Industrial” de Jeremy Rifkin, obra que já tinha lido no ano da sua edição e que, em perspetiva, penso ser interessante reler de novo.

Apesar de concordar com algumas das suas teorias, não me incluo entre os entusiastas de Rifkin; “A terceira Revolução Industrial”, escrita entre 2010 e 2011, é uma obra que estrutura e encadeia uma série de teorias em redor da alteração de paradigmas energéticos e o colapso das energias fósseis, centrando-se em cinco pontos: A transição para as energias renováveis, a transformação dos edifícios em micro centrais elétricas, o desenvolvimento das tecnologias de hidrogénio e o armazenamento de energia, o uso da tecnologia internet para a transformação das redes elétricas e, por último, a transição da atual frota de transportes para os veículos com motores elétricos com alimentação de rede ou bateria.

A obra de Rifkin contrapõe o imobilismo propiciado pelos “lobbies” dos Estados Unidos, com o entusiasmo dos governos dos países europeus para enfrentar os desafios futuros do setor automóvel e energético. Em concreto, apresenta de forma extensa, dentro do capítulo “Da teoria à prática” a quantidade de acordos e de estudos europeus que facilitam a implantação dos cinco conceitos da terceira revolução industrial desenvolvidos na sua obra.

Em paralelo, a biografia de Elon Musk relata (com uma clara intenção de enaltecer o personagem) a história e os feitos de um empresário típico de Sillicon Valley, desde a fase inicial de fundação, desenvolvimento e venda do PayPal e a sua “renovação de valores”, mais concretamente, sobre “o questionar” do contributo de valor dos negócios puramente digitais.

Musk demonstra a sua firme convicção de “transformar o mundo” a partir dos investimentos que possuam um valor real e tangível face à evolução da sociedade. Em concreto, apostando nas tecnologias e modelos de negócio que combinem os serviços digitais com os produtos físicos – a esta combinação, Musk também denomina de “revolução industrial”.

Os seus investimentos (mantendo sempre o espírito pioneiro de Silicon Valley) têm dado como fruto as empresas que hoje conhecemos sob o nome de Space X (dedicada à investigação espacial), Tesla (dedicada aos veículos elétricos e armazenamento de energia) e, por último, SolarCity (dedicada à exploração da energia solar em diversos tipos de edifícios).

A comparação e combinação de ambos os relatos não poderia ser mais explícita e ilustrativa sobre como se produzem as grandes transformações da humanidade e, no meu entender, até onde pode ir a nova revolução social/industrial, sendo os pontos que se seguem os mais significativos:

                             1. Nenhuma alteração realmente estrutural pode ser provocada pelo setor e atores existentes.
A aparente regulamentação da “excelência” que domina um setor impede as necessárias roturas de paradigma de que necessitam as mudanças estruturais. Enquanto Detroit e os países europeus assinavam (coordenados por Rifkin) acordos para propiciar as alterações energéticas, Musk, partindo de uma posição empreendedora e de “startup”, idealizou, criou e desenvolveu praticamente a partir do zero, a Tesla Motors e a Space X.

2. De nada serve a grandiosidade de programas, tratados p
olíticos, acordos entre países. A velocidade da tecnologia e dos modelos de negócio sobrepõem-se aos tratados, fronteiras que, em geral, não vão de encontro com os seus interesses.  

A disrupção não sabe de grandes planificações e regulamentações, enquanto a conquista do espaço praticamente se paralisava em torno de regulamentos férreos que impedem a evolução da tecnologia, a Space X, sob a direção de Musk, saltou toda a normativa, repensou os princípios, integrou de novo os atores sectoriais e conseguiu alcançar surpreendentes economias de escala que possibilitam outra vez o avanço de todo o setor.

                             3. Não se pode legislar contra a evolução da humanidade. Mais tarde ou mais cedo, os consumidores hãode ultrapassar qualquer barreira artificial.
Da mesma forma que as tendências mais tarde ou mais cedo se impõem, as barreiras defensivas dos setores convencionais acabam por cair face ao sentido comum da evolução tecnológica e social. Enquanto os países europeus tentavam unir as suas redes energéticas com tratados rigorosos que defendem os interesses de cada país sobre o bem comum, Musk com a SolarCity impõe uma lógica de redes energéticas distribuídas, apoiando uma série de avanços tecnológicos com um modelo de negócio simples, fácil de entender e com um sentido comum para os seus utilizadores.

                              4. A qualidade e a excelência dos serviços e produtos é a razão da inovação conceptual. Os consumidores estão dispostos a um “mau produto” para que possam disfrutar de um excecional e revolucionário conceito. 

Os veículos da Tesla demonstram, mais uma vez, que os consumidores estão dispostos a sacrificar a qualidade regulamentada face a uma inovação conceptual. O sector automóvel debate-se entre os combustíveis fósseis e as futuras opções energéticas, em paralelo e com um olhar soberbo, não dedica a sua atenção aos veículos da Tesla devido ao reduzido nível convencional dos seus acabamentos e soluções: o seu sucesso comercial surpreende e a reação é tardia: os utilizadores deram credibilidade a um novo ator (Tesla) que dotado de legitimidade liderará no futuro com a introdução do veículo elétrico.

                               5. As grandes mudanças que impactam as pessoas, são sempre provocadas por pessoas excecionais, com energia e interesses vitais que vão além do enriquecimento económico. 
As leis e os tratados estão sempre por trás da energia pessoal, sendo que legislar e planificar não é suficiente para construir o futuro, uma vez que este acontece graças a pessoas com um talento e energia excecional.

Certamente (e para além destes 5 pontos), Rifkin define e delimita uma série de acontecimentos e de tendências importantes para o futuro das pessoas. Inclusive, consegue mobilizar políticos e empresas em torno das mesmas. É discutível o interesse (incluindo o de Rifkin) na dita mobilização, onde o “fazer que as coisas evoluam” tem menos importância que definir políticas e oportunidades: por oposição a Musk, atrevo-me a dizer que este preconiza que o supracitado é menos relevante e que o seu interesse maior é que as “coisas evoluam”.

Rifkin, não contempla nas suas previsões o essencial: A necessidade de “pessoas que façam”, que arrisquem o seu talento e dinheiro para fazer com que as coisas evoluam para o bem de todos: Do it, Mr Rifkin!

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