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Espanhola Loop New Business quer instalar centro de inteligência em Portugal

Por a 24 de Março de 2016 as 9:40

floresDepois de conquistar clientes portugueses como Sonae, Delta ou Sumol+Compal, a consultora estabeleceu no ano passado em Lisboa o primeiro escritório além-fronteiras. O fundador e atual CEO (Chief Executive Officer) conta em entrevista ao HIPERSUPER que oportunidades vê em Portugal, onde pretende instalar também o ‘Knowledge Center’ internacional. 

Formado em ‘design’ industrial, António Flores fundou a Loop New Business há 25 anos em Barcelona, Espanha. Desde então, a consultora estratégica especializada em engenharia de produto tem vindo a alargar competências, oferecendo hoje às marcas modelos de negócio.

Como nasceu a Loop New Business?

Nasceu há 25 anos entre um grupo de colegas da universidade. Tivemos a sorte de encontrar a Hewlett Packard (HP), que foi o nosso primeiro cliente e nos estabeleceu contato desde logo com a costa oeste dos Estados Unidos da América (EUA). Com Silicon Valley basicamente. Éramos uma equipa de ‘designers’ e engenheiros mas trabalhávamos com os processos e métodos de consultoria utilizados nos EUA, onde já se misturava o ‘design’, a engenharia, o marketing e modelos de negócio. Por isso, fomos adquirindo essência de mercado em marketing, em inovação e finalmente em modelos de negócio.

O que a diferencia das restantes consultoras?

A grande diferença entre os nossos serviços e os das outras consultoras de negócios é que centrarmo-nos no produto ou serviço que os clientes desenvolvem. Não tanto em melhorar a empresa e os processos internos mas sim o produto e o serviço, através de um modelo de negócio. Somos uma empresa completa ao fornecer conhecimento. Normalmente, as consultoras ou são muito boas em tecnologia ou muito boas em termos de experiência de negócio mas todas impactam o produto. E para impactar o produto com uma visão holística – esta é a dificuldade de empresas como a nossa – tem que se formar um grupo de profissionais dedicado à estratégica, que trabalhe as várias partes necessárias para construir um modelo de negócio distinto.

No contexto de mercado atual, uma estratégia funcional está equilibrada entre tecnologia e modelos económico e social. Consideramos a consultoria tradicional obsoleta porque melhora os negócios mas não cria novas referências, a principal vantagem competitiva que oferecemos. Somos bons a dar às empresas novas plataformas de desenvolvimento. Criamos e o cliente explora-as.

 

Primeira em Espanha a oferecer ‘rapid prototyping

 

Como evoluíram de um negócio de desenvolvimento de produto até à deteção de novas oportunidades e criação de modelos de negócio? 

A empresa original, agora uma das divisões, chamava-se “Compras e Tipos de Design”, direcionada para a área de desenvolvimento de produto. Esta área há 25 anos era uma grande novidade e a empresa era muito solicitada. Fomos a terceira empresa na Europa com todo o processo de ‘design’ e engenharia digitalizado – desenho, engenharia e protótipos – e a primeira empresa em Espanha a fazer ‘rapid prototyping’.

JU7A1348Inicialmente, a nossa mentalidade passava por trabalhar o ‘design’ de produtos em código digital e apresentar aos clientes para que os desenvolvam. Depois adquirimos uma mentalidade de serviços.

Começamos a pensar em que mais poderíamos ajudar os nossos clientes além do ‘design’ e a adotar inteligência para termos uma perspetiva neste sentido. Isto fez também com que fossemos formatando muitos serviços de inteligência de mercado. Em 1998, começamos a trabalhar em inovação estratégica, área em que somos pioneiros. Há oito anos, em 2007, iniciamos a atividade de modelar oportunidades de negócio, que nos levou a fornecer também modelos de negócio. Esta evolução é pouco habitual na Europa.

Em que áreas atuam? Quem são os vossos clientes?

Trabalhamos em cinco categorias. No grande consumo – em Portugal, trabalhamos, por exemplo, com a Sumol+Compal, Delta e Unicer e temos também a Coca Cola e a Danone como clientes. No retalho, quer B2B (business to business) quer B2C (business to consumer). Neste setor o nosso grande cliente é a Sonae, para a qual fornecemos modelos de negócio para a Zippy, Worten, Continente, por exemplo. Fomos responsáveis pelo modelo de retalho da marca Imaginarium com as portas para crianças e adultos nas lojas.

Desenvolvemos projetos para a área dos serviços também. Trabalhamos com empresas de energia, como a portuguesa EDP, de utilidades, de telecomunicações, como a espanhola Movistar, entre outras.

A nível de tecnologia, o nosso maior cliente em Espanha é a Mondragon [grupo de cooperativas e empresas do País Basco], uma associação de corporações muito grande. Por último, operamos na área de produto de negócio, que engloba todo o tipo de bens, uma vez que os nossos clientes desenvolvem desde brinquedos até impressoras eletrónicas.

Estes são os nossos cinco pontos verticais. Dependendo da categoria do cliente desenvolvemos o modelo de negócio.

Como evoluiu o volume de negócios global da empresa no último ano?

Vamos fechar o exercício a 31 de março. O volume de faturação ronda os cinco milhões de euros. Crescemos cerca de 28%.

 

Fornece estratégia a Portugal há sete anos

 

Já trabalhavam o mercado português a partir de Espanha?

Quando entramos na área de modelos de negócio nas nossas instalações em Espanha, já estávamos a trabalhar para o mercado português e, quando alcançamos um volume de negócios relevante, expandimos os escritórios para aqui. Nesta evolução, quando estávamos focados no ‘design’ do produto e engenharia, comprávamos moldes de plástico para os nossos clientes à indústria portuguesa, em Leiria e Marinha Grande, por exemplo.

Já tínhamos muito conhecimento do mercado português mas não trabalhávamos estratégia no País. Só há cerca de sete anos é que começamos a fornecer estratégia para o mercado português. Primeiro, a partir de Barcelona e agora a partir do nosso escritório em Lisboa.

Porque escolheram Lisboa para se estabelecerem em Portugal?

antonioEstamos a crescer de forma distinta, sendo que a expansão internacional é feita por cidades – Lisboa, Madrid, Paris – não tanto por países. Abrimos em julho de 2015 um escritório em Lisboa com vários objetivos: operar com a fiscalidade local, ter uma base para quando os nossos consultores vierem trabalhar a Portugal e fomentar a relação de proximidade com os clientes. Também porque fazemos muitos eventos de conhecimento, para os quais convidamos pessoas que não são nossos clientes e consideramos que a capital de um país, mesmo estando longe da indústria, é a melhor opção para alcançarmos estes objetivos. Queríamos estar numa localização central e este espaço perto do Marquês de Pombal é conveniente. Queremos sentir a cidade.

Qual foi o investimento?

Não procuramos instalações muito grandes porque não vamos ter consultores. São escritórios de 200 metros quadrados, num edifício emblemático da cidade, que representa um investimento de cerca de 600 mil euros.

Mas há um investimento maior, relacionado com o conhecimento de mercado feito antes. Durante cerca de dois anos estudamos os potenciais clientes, os que são adequados para o nosso negócio. Estabelecemos e desenvolvemos relações, operando intensamente a partir de Barcelona, antes de abrir os escritórios. “Intensamente” quer dizer com pessoas todas as semanas em Portugal.

 

‘Knowledge Center’ em Lisboa

 

Que planos têm para Portugal?

Abrimos em Portugal para trabalhar o marketing do País, para entender melhor o cliente português. Também porque estamos a pensar instalar o nosso ‘Knowledge Center’ em Lisboa para trabalhar a inteligência dos clientes – se tivermos, por exemplo, um cliente que se dedica ao negócio do café, todo o conhecimento sobre café se vai desenvolver a partir deste centro. É um exercício transversal a toda a nossa atividade. Estamos a trabalhar neste projeto, à procura das pessoas certas.

Quanto estimam faturar no final deste ano?

A ambição para Portugal é atingir os dois milhões de euros. Estamos já em um milhão e pouco.

Como vai prosseguir a expansão da empresa?

JU7A1350Instalamo-nos em Portugal pela proximidade – não só geográfica como de mentalidade, pela matéria-prima que nos oferece e, porque numa primeira fase da expansão, queremos ter uma equipa em cada país para o qual fornecemos serviço. Trabalhamos para Portugal, França, Suíça e Itália. Por enquanto temos apenas espaços físicos em Espanha, Portugal e estamos agora a abrir na capital de França. Além de estarem próximos, estes países têm uma base mental latina, com a exceção da Suíça, e na nossa atividade é importante entender a mentalidade das pessoas.

O problema é que para desenvolvermos modelos de negócio necessitamos de um ecossistema de pessoas muito completo e é muito difícil ter equipas deslocadas com a mesma qualidade. Todos os consultores da empresa estão em Barcelona, porque a cidade apresenta uma elevada atração para se viver e capta muito talento de fora.

Antes de nos transportamos para outros países, construímos primeiro um espaço piloto em Madrid com o conceito estratégico de ‘data center’, que é moldável e nos permite montar uma equipa de trabalho para amanhã, se for preciso. O mercado seguinte foi Portugal porque tivemos um grande desenvolvimento económico, atingimos o volume de contratação que pretendíamos.

 

“Mercado português é muito polarizado”

 

Que vantagens estratégicas veem no mercado português?

Portugal é um mercado muito polarizado. Em quase todos os setores há dois principais operadores. Por exemplo, no mercado de cerveja há duas marcas principais – a Sagres e a Super Bock. É um País onde há poucos ‘players’ mas com empresas muito interessantes e amplas. As empresas espanholas estão estruturadas por indústria e em Portugal há empresas estão estruturadas por negócios muito distintos. Estas companhias estão num momento de expansão internacional e dos seus modelos de negócio e nós podemos ajudar. Portugal é um País com poucos clientes, que não competem entre si. Procuramos clientes que tenham o objetivo de alcançar mercados internacionais.

Que principais diferenças encontram na forma de trabalhar o mercado português, em comparação com o espanhol por exemplo?

Muitas. Boas e menos boas. O mercado interno português é mais pequeno que o espanhol. A parte boa é que as empresas que queiram crescer têm que o fazer fora de Portugal. A menos boa é que têm uma base mais pequena.

JU7A1313Portugal entende muito bem o valor do conhecimento, melhor que Espanha. As empresas portuguesas com que trabalharmos valorizam ter uma fonte de conhecimento, valorizam trabalhar com consultoria. Em Espanha, esta conceção é mais especuladora.

As empresas com que trabalhamos em Portugal entendem muito bem o conceito de inovação e diversificação estratégica. Encontramos grupos industriais que têm uma posição nos serviços, na alimentação, na indústria. Em Espanha, as empresas são mais verticais – se trabalham em alimentação, desenvolvem-se apenas nesse setor – enquanto cá podemos encontrar um grupo que opera ao mesmo tempo em infraestruturas, em hospitais, na indústria e na química.

Além disso, Portugal tem uma característica muito interessante: tem mercados externos “naturais”, muito diversos e em maior número que Espanha. Por exemplo, o mercado brasileiro e sul-americano, assim como os mercados das ex-colónias africanas, são naturais para Portugal. Macau é uma porta natural para a Ásia.

Com a crise, as empresas deram conta desta posição, que está a permitir uma atividade de exportação muito interessante. Em Espanha, também se tem passado algo semelhante mas Portugal mostra-se melhor preparado para este tipo de atividade. Além de dominar melhor os idiomas estrangeiros, tem uma saída natural para outros países, que representam muitas oportunidades. Em alguns casos, falta apenas um pouco mais de confiança. As empresas portuguesas necessitam de se convencer que podem apresentar um nível europeu ou mundial.

Leia Também: Três perguntas a… António Flores, CEO Loop New Business

*Alteração às 15h09 do dia 24 de março de 2015 – António Flores é fundador e CEO, diretor executivo, da Loop New Business.

 

 

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