Especial Refrigeração. Poupar energia é regra de ouro na cadeia de abastecimento
As novas regras europeias para a eficiência dos equipamentos, a sua conceção e o espaço onde serão instalados, trazem novos desafios às empresas. Exemplos de organizações que souberam antecipar a aplicação de alguns regulamentos
Rita Gonçalves
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“Os custos energéticos operacionais são atualmente menores do que há cinco anos”, nas contas de Isabel Amorim, responsável de Marketing da Fricon, especialista em produtos de refrigeração, conservação e congelação para espaços de comércio de pequena e grande dimensão.
É unânime entre os profissionais do setor de refrigeração comercial ouvidos pelo HIPERSUPER: a eficiência energética é o “grande foco” desta indústria e “as soluções de poupança de energia” concentram grande parte do investimento.
“Nos últimos anos, tem havido uma forte evolução na qualidade dos equipamentos produzidos em Portugal e um foco muito grande na eficiência energética”, sublinha Mário Rodrigues, diretor de Marketing da Jordão Colling Systems, empresa que nasceu em 1982 e, desde então, desenha, desenvolve e produz equipamentos de refrigeração comercial, como vitrinas, balcões, expositores verticais, e outros, para o retalho alimentar e canal horeca. “Os próximos anos trarão muitas alterações na refrigeração comercial”. As iniciativas normativas e legislativas, muitas vezes resultado de “desafios do próprio mercado”, são alterações que “visam a eficiência do equipamento, a sua conceção e o espaço onde será instalado”. Antecipando a obrigatoriedade do fim da utilização de gases HFC (gases de refrigeração criados em alternativa aos clorofluorcarbonetos) em 2020, a Jordão já utiliza em sua substituição o gás R290, alegadamente menos nocivo para a camada do ozono. “Para dar cumprimento às metas estabelecidas pela União Europeia no combate às alterações climáticas, segundo o definido em regulamento, o uso de hidrofluorcarbonetos (HFC), com potencial de aquecimento (GWP) superior a 150, será proibido em 2022. Ou seja, todos os HFC serão proibidos”.
Empresas antecipam “obrigações” europeias
A empresa de Guimarães terá a “muito curto prazo” a etiquetagem do equipamento, “classificação da sua eficiência energética na qual, tal como aconteceu ao equipamento para uso doméstico, será obrigatória a marcação da classe de classificação energética (eficiência)”.
Também o grupo Mafirol, que desenvolve, produz e comercializa equipamentos para exposição e venda para a distribuição alimentar e hotelaria, produz atualmente expositores com fluídos refrigerantes de baixo GWP (Global Warming Potencial), como é o caso do R290. “A utilização de portas nos expositores verticais é já uma prática corrente, assim como a utilização de iluminação LED e componentes elétricos ‘energy saving’”, exemplifica Jorge Lopes, diretor comercial da Mafirol em Portugal.
Fechar os expositores com portas de vidro pode representar uma diminuição de 50% no consumo de energia e novas componentes e tecnologias como, por exemplo, grupos compressores mais eficientes e ecológicos, ventiladores de baixo consumo e iluminação LED, podem representar poupanças significativas.
Também a empresa de Vila do Conde Fricon está atenta às questões ambientais e do desenvolvimento sustentável. “Fomos os percursores da utilização de compressores de baixo consumo nos equipamentos ‘plug in’, assim como produzimos todos os equipamentos em frio fechado (com tampas de vidro), evitando assim o desperdício”, explica Isabel Amorim.
Etiqueta energética e rótulo ecológico
Para melhorar a utilização eficiente da energia, a União Europeia lançou as diretivas relativas à Rotulagem Energética (DRE) e, mais recentemente, à Conceção Ecológica de Equipamentos que utilizam Energia (EUE). A etiqueta energética fornece a informação sobre o consumo anual, por exemplo, já o rótulo ecológico promove os produtos com impacto ambiental reduzido e ajuda o consumidor na tomada de decisão. Os regulamentos definem os requisitos para a conceção ecológica dos produtos relacionados com o consumo de energia, um contributo de peso para que as empresas portuguesas se posicionem ao nível das congéneres europeias em matéria de ambiente e sustentabilidade, considera Jorge Lopes. Os dois regulamentos (que desempenham um papel importante na melhoria da eficiência energética dos espaços) andam muitas vezes de mãos dadas, um é muitas vezes acompanhado do outro. São os instrumentos comunitários para operacionalizar medidas de eficiência energética e de política ambiental, como a gestão eficiente de recursos, resíduos, emissões e qualidade do ar. Estas medidas têm implicações legais na atividade de todos os operadores e fabricantes de equipamentos de refrigeração comercial em Portugal.
Mais exemplos. A Jordão desenvolveu em parceria com um retalhista holandês, a nova gama de vitrinas “Freshliner” para talhos e charcutarias, dotada de sistema de humidificação e de manutenção zero. Lançou ainda um expositor bi-temperatura para produtos frescos e congelados – a Ilha Futuro, no qual é o cliente que pode selecionar a temperatura de conservação dos alimentos.
“A utilização dos novos gases, os ensaios de eficiência energética e a etiquetagem dos equipamentos, assim como o ciclo de vida do produto, são passos claros, já iniciados, que têm em conta o balanceamento energético dos novos edifícios”, resume o responsável da Jordão. Todos os novos espaços deverão ser altamente eficientes e ter um balanço energético próximo do zero, em 2020, segundo uma diretiva da União Europeia.
Fraca expansão arrefece vendas
O arrefecimento dos planos de expansão dos comerciantes tem mantido na linha de água a venda de equipamentos de refrigeração. “Este mercado movimenta-se atualmente na remodelação de lojas. Abrem poucos supermercados por ano”, revela a responsável de marketing da Fricon.
Mário Rodrigues considera, por outro lado, que o ano passado “registou alguma retoma, mas a instabilidade em alguns mercados de exportação, e esta é uma indústria exportadora”, tem efeitos “menos positivos” nas empresas do setor.
As tendências na área do frio alimentar refletem o padrão da sociedade atual de consumo. “Materiais simples com design elegante, ampla visibilidade e acessibilidade e uma imagem ‘clean’”. Os novos equipamentos aliam “eficiência termodinâmica [medida de desempenho da máquina] e eficiência energética”, a principal preocupação da indústria, a par da “inovação, modernização, recurso a matérias-primas inovadoras, respeito pelo ambiente e formação dos colaboradores”.
Ferramentas de gestão, controlo e monitorização
Os operadores de retalho têm atualmente à disposição diversas opções de monitorização e registo do estado dos equipamentos de refrigeração. “Estes sistemas funcionam “com base numa unidade central conectada em rede com cada um dos equipamentos que armazena registos diversos, tais como temperatura, consumos, humidades, entre outros elementos”, sublinha a responsável de marketing da Fricon. “Por sua vez, cada um dos equipamentos detém uma unidade de gestão e controlo individual, que tem vindo a evoluir significativamente nos últimos anos, fruto da constante procura do mercado em soluções mais eficientes e ecológicas. É, portanto, cada vez mais comum encontrarmos disponíveis funcionalidades para modular o funcionamento dos componentes que consomem energia elétrica e dos que libertam calor do equipamento. Em suma, os sistemas de controlo e monitorização caminham no sentido de garantir um funcionamento eficaz assim como se tornam numa ferramenta essencial na eficiência energética”.
O diretor comercial da Mafirol dá um exemplo. “Atualmente, o cliente que tenha um pequeno minimercado, por exemplo, consegue com um investimento bastante pequeno, ter todos os seus expositores frigoríficos ligados em rede e acessíveis em qualquer parte do mundo através da internet, conseguindo aceder à sua instalação e acompanhar em tempo real o estado de funcionamento e a temperatura a que se encontram os seus expositores. Quanto à otimização e redução de custos na exploração, há também várias possibilidades acessíveis a qualquer estabelecimento e que visam otimizar quer o funcionamento dos equipamentos quer a eficiência energética dos mesmos”.
“Esta gestão permite a redução do consumo de energia, a redução de custos de manutenção e o aumento do tempo de vida do equipamento”, sublinha, por sua vez, Mário Rodrigues.
Principais desafios e tendências
Que tendências guiam a conceção e fabrico de novos equipamentos para ajudar as empresas a serem mais competitivas? “Os novos produtos nascem do mercado, da evolução tecnológica, da observação de tendências, da afirmação de categorias alimentares, de clientes e de parceiros”, revela o responsável de marketing da Jordão. “Procuramos desenvolver uma relação de proximidade e de parceria com todos os clientes, na qual se realça a co-criação de soluções de equipamento. Esta proximidade, aliada ao facto de termos um serviço e resposta muito rápida, tem privilegiado e reforçado a relação com os operadores de mercado”. A proposta comercial da empresa de Guimarães assenta em conceitos integrados de expositores refrigerados, em ambiente positivo ou negativo, quente e neutro para exposição de produtos alimentares.
Jorge Lopes, diretor comercial da Mafirol, sublinha, por sua vez, que, para dar resposta “a um mercado cada vez mais competitivo, compete a todos os fabricantes de equipamentos refrigerados oferecerem produtos que aliem a eficiência termodinâmica e a eficiência energética”. A estratégia da empresa de Aveiro passa para dotar os seus produtos com estas vantagens competitivas para conquistar novos clientes. Por isso, considera que os principais desafios deste setor passam por “instalações energéticas mais eficientes e instalações de gases refrigerantes em CFC”.
Em jeito de conclusão, Isabel Amorim resume os principais desafios para os fabricantes destes equipamentos. “A crescente competitividade no setor do frio, quer de fabricantes europeus quer da concorrência do sudoeste asiático, e a necessidade de confrontar o mercado com novas soluções baseadas na eficiência energética e baixo consumo”.