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A história do queijo e o futuro do retalho em Portugal, por Sérgio Pereira (ComparaJá.pt)

Por a 23 de Março de 2016 as 13:43
Sérgio Pereira_ComparaJá.pt

Sérgio Pereira, diretor geral e fundador do ComparaJá.pt

Por Sérgio Pereira, diretor geral e fundador do ComparaJá.pt

Diz-nos uma original fábula do Dr. Spencer Johnson intitulada “Quem mexeu no meu queijo?” que os ratos Fungadela e Correria conseguiam ser mais bem-sucedidos do que os dois pequenos humanos Pigarro e Gaguinho porque se adaptavam melhor e mais rapidamente à mudança. Transportando esta bem-humorada e pedagógica história para a realidade do nosso país, surge-me de imediato uma grande questão: Quem e quando vão mexer no “queijo” dos grandes retalhistas portugueses?

Esta pergunta, que até pode parecer descabida, começa a fazer mais sentido se tivermos em conta que, por exemplo, a maior empresa de aluguer de casas e quartos (ou sofás e até mesmo castelos!) não detém, na verdade, qualquer propriedade. Isso não impede a Airbnb de oferecer mais quartos do que as redes Hilton, Intercontinental ou Marriott.

O mesmo se aplica à maior empresa do mundo de transporte individual, a Uber, que não tem frota própria. Concretamente neste caso, os taxistas – que acreditavam que o seu “queijo” era intocável – são a perfeita materialização da figura do Pigarro.

Não está convencido? Voltemos então à história destas curiosas personagens.

Quando Gaguinho encontrou a “Estação Q de queijo”, a sua fonte de subsistência, após estar muito tempo perdido num labirinto, escreveu numa das paredes a seguinte frase: “Ter queijo traz-nos felicidade”. Não pondo em causa esta afirmação, coloco a seguinte questão: sabem os grandes players nacionais qual é o seu “queijo”? Por outras palavras, saberão os retalhistas portugueses que necessidades dos consumidores precisam de satisfazer para continuarem a ser bem-sucedidos?

Se responder às exigências dos consumidores implica um enorme esforço e investimento por parte de qualquer empresa em qualquer ramo, não dar resposta implica arriscar a falência. Não acredita?

Recorda-se da Blockbuster? A empresa que detinha a maior das “Estações Q de queijo” do seu setor decidiu adotar a postura do Pigarro e não fez caso à mudança que ia acontecendo à sua volta. Quando se deu conta já era tarde de mais, o “queijo” já tinha acabado naquele segmento de negócio. Atrevo-me a dizer que, caso os gestores da Blockbuster tivessem lido uma outra frase escrita pelo Gaguinho, o desfecho da história da gigante norte-americana tinha sido mais feliz: ”se não mudares, aproximas-te da extinção”.

De facto, são muitos e variados os exemplos de grandes empresas que não souberam ver as pequenas mudanças que iam acontecendo nos seus setores, de cadeias de Hipermercados à Banca, dos Seguros à Restauração. Num mercado tão exigente como o de hoje, a realidade é muito dura: só sobrevivem os melhores, e os melhores são os que conseguem evoluir e transformar-se sempre que é necessário.

E como podem os gestores portugueses assegurar que as suas organizações continuam a ter acesso às “Estações Q de queijo”? A resposta a esta complexa questão, uma vez mais, é da autoria do Gaguinho.

Enquanto andava a vaguear pelo labirinto em busca de uma nova fonte de subsistência (isto após ter perdido tudo por acreditar que o seu “queijo” era intocável), o “pequeno humano” escreveu duas frases que, à partida, podem parecer muito simples, mas que são dois princípios com resultados extraordinários quando aplicados na nossa vida profissional (e inclusivamente pessoal): “Cheira o queijo com frequência para saberes quando começa a ficar velho” e “Quanto mais cedo te libertares do velho queijo, mais depressa vais encontrar outro novo”.

Neste sentido, o que se poderá responder à questão inicial? A verdade é que quem e quando vai mexer no “queijo” dos grandes retalhistas portugueses só depende dos próprios gestores dessas organizações.

Numa conjuntura em que a inovação é a palavra de ordem e em que diariamente florescem cada vez mais startups com ideias totalmente inovadoras (e em que as nossas universidades contam com centros de investigação de excelência reconhecidos mundialmente), se os retalhistas souberem apoiar e associar-se aos projetos que vão surgindo, facilmente se transformarão em agentes geradores da sua própria mudança e decidirão.

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