Revolução nas tecnologias de pagamentos

Dos cartões ‘contacless’ para pagamentos em loja até à autenticação biométrica para o ‘m-commerce’, as tecnologias de pagamento estão a revolucionar o mundo dos negócios. Conheça as alternativas que retalhistas e consumidores têm hoje à disposição.

Os pagamentos ‘contactless’ estão a crescer em Portugal. No segundo trimestre do ano, o número de transações realizadas com cartões MasterCard e Maestro Contactless cresceu 277%, em termos homólogos.

Globalmente, as entidades bancárias têm vindo a integrar nos cartões de crédito ou débito a tecnologia ‘contacless’, a qual permite aos utilizadores efetuarem compras em loja através da aproximação do cartão a um terminal de pagamento adequado, sem necessidade de introdução do código PIN.

Esta tecnologia está disponível na Europa desde 2007, agregada aos tradicionais cartões multibanco como uma nova funcionalidade dos mesmos. Ou seja, o consumidor pode optar por efetuar o pagamento com o seu cartão via ‘contacless’ ou então pode escolher digitar o código, utilizando o sistema como sempre o fez.

No entanto, a nova alternativa de utilização do cartão de pagamento está ainda limitada a transações de apenas 20 euros cada. Chegando a um acumulado de 60 euros em compras, o consumidor terá confirmar o seu código PIN numa próxima utilização para ter novamente o mesmo montante disponível para pagamentos “sem contacto”. E assim sucessivamente.

Transações ‘contactless’ crescem 170% no 2º trimestre

O País da Europa com mais terminais para este tipo de transações é Espanha. Em Portugal, alguns retalhistas já implementaram os terminais específicos para leitura dos cartões, como é o caso do Lidl que, em fevereiro deste ano, anunciou que o sistema já se encontrava disponível em todas as suas lojas nacionais.

O valor médio por transação ‘contactless’ em Portugal é de 11,29 euros, segundo dados apurados pela MasterCard. A empresa de tecnologia de pagamentos está a desenvolver novas soluções personalizadas para retalhistas, consoante as necessidades de cada negócio, no sentido de adotarem os seus espaços aos modernos tempos digitais e de oferecerem mais comodidade e rapidez aos clientes.

Nos próximos cinco anos, “assistimos a mais alterações nas tecnologias de pagamento do que as verificadas nas últimas cinco décadas”, comenta Paulo Raposo, Country Manager da MasterCard Portugal, por ocasião do “Media Workshop” levado a cabo pela empresa no dia 29 de setembro, em Lisboa.

Os cartões de pagamentos ‘contacless’ disponibilizados pela MasterCard no País registam uma média de 2,4 utilizações no segundo trimestre de 2015, um crescimento de 36% do número de utilizações dos cartões ativos, comparando com o mesmo período do ano transato.

“Atualmente Portugal reúne as condições necessárias para que os pagamentos ‘contactless’ se generalizem e façam parte do dia-a-dia dos consumidores”, dá conta o country manager. “Para já, a Sonae é a única parceira portuguesa que disponibiliza os terminais de pagamento”.

Na Europa, as transações “sem contacto” registam um crescimento de 170% entre abril e junho deste ano, em comparação com igual período em 2014. O número de consumidores que utiliza este tipo de serviço cresceu 20% e o gasto “triplicou”, sendo que a maioria das transacções são efetuadas em lojas de alimentação, restaurantes, bares e pequeno comércio.

“A forma como os consumidores pagam as compras varia e depende do local onde se encontra, do dispositivo que estão a utilizar e do sentimento de conveniência, rapidez e segurança da experiência de pagamento”, conclui Paulo Raposo.

O ‘Media Workshop’ contou ainda com a presença do ‘Head of Contactless and Mobile Device Payments’ da MasterCard Europa, Chris Kangas, que discursou sobre o tema do evento – “o futuro das compras acontece agora”. O responsável holandês apresentou os últimos desenvolvimentos da multinacional no que diz respeito aos sistemas de pagamentos digitais.

Carteira digital cresce a um ritmo de 40% por mês

A última tecnologia para pagamentos digitais desenvolvida pela empresa designa-se MasterPass e passa por uma carteira digital que permite aos consumidores guardarem os cartões de pagamento e, no momento de compra, selecionarem qual pretendem a utilizar.

As transações feitas através desta carteira digital, lançada em fevereiro de 2013, registaram nos últimos seis meses um crescimento médio de 40% por mês na Europa. O serviço ainda não chegou a Portugal mas já é aceite por 250 mil retalhistas ao longo de mais de 24 países, tendo mais recentemente aterrado na Alemanha, Bélgica, Hungria e Turquia. “Um dos últimos retalhistas a aderir foi a Media Markt”, denota Chris Kangas.

Presente no setor dos pagamentos eletrónicos há mais de 20 anos, o especialista mostrou como a nova tecnologia pode facilitar os pagamentos nos estabelecimentos, dando o exemplo do sistema personalizado especialmente para os espaços Wagamama. A cadeia de restauração adaptou o MasterPass ao seu negócio.

“Esta retalhista tinha um problema com pagamentos durante as duas horas de maior movimento que ocorrem durante o almoço”, explica o responsável. A partir de uma aplicação desenvolvida para os clientes da Wagamama, o sistema facilita desde o atendimento por parte do funcionário ao pagamento do serviço.

Depois de se instalar no restaurante, o consumidor consegue visualizar através do seu ‘smartphone’ o número da sua mesa, atribuído pela aplicação, ao qual o  funcionário também tem acesso, a partir de um aparelho tecnológico desenvolvido especialmente para registar os pedidos de forma digital.

Enquanto o trabalhador anota o que lhe pedem, o consumidor acompanha o processo em simultâneo no telefone, vendo um por um os produtos que são acrescentados à lista. No final, a conta pode ser dividida entre os colegas de mesa, repartindo o montante pelos vários ‘smartphones’. O pagamento é feito diretamente no telemóvel, através de uma ‘password’, e sinalizado no dispositivo do funcionário que, desta forma, não tem que se preocupar com o pagamento.

Ao contrário do que acontece no sistema ‘contacless’, este serviço não exige a integração do ‘ship’ NFC (Near Field Communication) nos dispositivos, para a transferência de informação entre ambos. Para substituir esta tecnologia, o MaterPass recorre ao software MasterCard Cloud Base Payments (MCBP), desenvolvido pela empresa para as várias soluções de pagamentos digitais a partir das informações guardadas em ambiente ‘cloud’.

Consumidores Abandonam compra online na hora de pagar

O MCBP é uma plataforma montada pela empresa, a partir da qual é possível desenvolver várias soluções de pagamentos digitais, o que favorece também o incremento do ‘e-commerce’, cujo maior entrave para os consumidores é a complexidade do momento em que se paga as compras. “A maior parte dos consumidores online que desistem da compra, fazem-no no momento de pagamento”, constata o country manager da multinacional em Portugal.

No caso peculiar do consumidor português, o abandono do carrinho de compras acontece também antes do pagamento devido à sua “impulsividade”. “Abandona o carrinho de compras entre os momentos de escolha e de pagamento, porque volta atrás para verificar as outras opções no mercado”.

Outra das maiores dúvidas, “sobretudo para os portugueses”, está ao nível da segurança. Com a democratização da versátil ‘cloud’, as entidades fornecem cada vez mais serviços de pagamentos digitais com base neste sistema, em que as informações ficam registadas na rede, como acontece com o sistema MCBP.

Assim, é necessário um mais rigoroso sistema de segurança por detrás das transacções digitais, que salvaguardem os dados do consumidor. Neste campo, existe a ‘tokenization’, solução que fornece automaticamente uma chave eletrónica (‘token’), que substitui os números verdadeiros no registo da informação. Desta forma, em caso de roubo de informação, os dados pessoais não são mostrados, apenas a senha.

Com base nos ‘tokens’, aplicados também às carteiras digitais, a MasterCard desenvolveu o serviço MasterClard Digital Enablement Service (MDES), que permite capacitar qualquer dispositivo móvel conectado para fazer ou receber pagamentos móveis.

A solução regista os números dos cartões de crédito através da senha electrónica, que é colocada em atmosfera digital e disponível aos fornecedores das carteiras digitais, para que os utilizadores as possam utilizar para pagar compras com os seus ‘smartphones’, em qualquer lugar, a qualquer distância.

195 biliões de transações móveis em 2019

Este programa, lançado em 2014, foi adquirido por “dezenas de milhões de negócios nos Estados Unidos, em apenas três dias”, dá conta Chris Kangas. Atualmente, a carteira digital ‘Apple Pay’, por exemplo, incorpora o sistema de segurança MDES, que envolve desde os “modelos de negócios físicos até às extensões de comércio digital”, como ‘mobile commerce’.

Existem, hoje em dia, três biliões de utilizadores de internet, valor que representa 40% da população mundial. O número que contrasta com o um milhão de utilizadores que se contavam há dez anos.

Com os indivíduos cada vez mais conectados e com todas estas tecnologias para facilitar a sua experiência de compra, “os retalhistas têm a oportunidade de personalizar e adaptar as soluções de pagamento aos seus negócios, as quais serão brevemente introduzidas no mercado pelas grandes empresas”, considera.

De acordo com a Juniper Research, em 2019 os utilizadores de telemóveis e ‘tablets’ farão 195 biliões de transações de comércio móvel, anualmente. Para Chris Kangas, “a próxima geração de pagamentos dá-se pela autenticação biométrica”.

A empresa já está a realizar testes para garantir a segurança das transações móveis através do reconhecimento facial e da impressão digital do utilizador. O responsável pelos pagamentos móveis e ‘contacless’ da MasterCard acredita que em 2016, a autenticação biométrica será o novo “grito” no mercado das tecnologias de pagamentos móveis.

A multinacional anunciou no início de outubro o lançamento deste serviço, com a designação Identity Check, que estará disponível inicialmente nos Estados Unidos, em 2016, e a nível global em 2017.