O apogeu do Retalho de Conveniência, por Luis Rosário (Partner IMR)
Por Luis Rosário, Partner IMR| Immersis| Ebeltoft Portugal
“Imagine entrega ao domicílio gratuita uma hora após compra. Crédito que não precisa ser pago até ao final do mês. Serviço onde é conhecido pelo nome e as suas preferências são recordadas. São estes os mais recentes recursos de plataformas tecnológicas de omnicanalidade como as da Amazon? Não… é um exemplo do que pode ser a última palavra no retalho de proximidade… já amanhã”.
A proximidade e conveniência sempre foram do interesse dos clientes. A evolução das vias de comunicação e da logística, mais rápida que a evolução tecnológica, permitiram ao retalho organizado “ousar captar” clientes de áreas mais distantes, sendo nas duas décadas passadas razão chave para lançamento de empreendimentos como o Freeport que em 2004 contava atrair visitantes do Alentejo, Setúbal e de toda a Lisboa. Muito mudou desde então.
Nos últimos cinco anos temos vindo a constatar uma alteração significativa nos retalhistas mundiais, visível também em Portugal, sobretudo nos de maior dimensão e com capacidade de implementação de multi-formatos.
Duas tendências surgem: Um relevante ajuste na quantidade de lojas no país, com fecho de um número significativo de grandes formatos [um tema que aprofundaremos numa outra edição, dado que não é uma realidade ainda em Portugal] e uma crescente corrida à abertura de lojas de menor dimensão, mais próximas dos centros urbanos, junto dos clientes.
As mudanças críticas no cliente (maior frequência de compra, menor disponibilidade de tempo, significativa literacia digital e o interesse crescente por conveniência e comodidade) diminuíram a sua predisposição para “ir mais longe”. Foram assim criadas condições para o início de uma “corrida” para estar mais próximo do cliente.
Refletindo um pouco, não será difícil chegar à conclusão que o conceito de “Retalho de Conveniência” é muito apelativo. Quem não privilegiaria, nos dias de hoje, oferta com boa relação qualidade | preço e marcas conhecidas, convenientemente presente na “porta ao lado”, disponível em horário alargado onde poderá comprar recorrer à compra online ou se preferir interagir com ‘staff’ prestável e atencioso?
Mais… ‘staff’ esse que pode até facilitar quando o seu filho vai buscar o pão mas não leva dinheiro ou que o ajuda a levar as compras até ao carro ou casa porque fez demasiado exercício no ginásio essa manhã?
O Retalho de Conveniência está numa dinâmica de crescimento significativo. O “Meu Super”, do grupo Sonae MC quer chegar às 200 lojas em 2015. A Jerónimo Martins, com o seu conceito de proximidade “Amanhecer” detinha 180 lojas em Março e ambiciona manter o ritmo de crescimento. Isto tudo enquanto a Coviran abre novas lojas, o Minipreço lança novos conceitos [Dia Maxi e Minipreço Market] e muda a imagem das lojas e outros retalhistas presentes em Portugal estudam o desenvolvimento de conceitos de proximidade e menor dimensão.
Lá fora não é diferente, o fenómeno da retração na abertura de formatos de grande dimensão contrasta com a abertura de mais lojas, mais pequenas e mais próximas, respondendo a um cliente que quer:
- Acesso às compras alimentares “em movimento” [os cacifos da Amazon no Metro de Londres, ou a Peapod a disponibilizar os produtos de mercearia em estações de Metro de Washington D.C.]
- Lojas mais pequenas [Meu Super | Amanhecer, em Portugal]
- Facilitação das refeições [a excelente Bilder & De Clercq, de Amesterdão]
- Foco nos alimentos que geram Saúde e Bem-estar [a Fresh & Easy, nos EUA]
- Acesso a informação da oferta da loja por geo-localização (folhetos por exemplo) [The Tiendeo, agora também em Portugal]
Com os consumidores enquanto elemento gerador na mudança, forçando os retalhistas a repensar onde, como e o que vender, notam-se verdadeiros efeitos, desde o tremendo crescimento de projetos como o Amazon Fresh e o Instacart nos EUA, a transferência de parte do consumo dos hipermercados e supermercados tradicionais para as lojas de conveniência e proximidade, o crescimento do segmento das refeições preparadas ou “pré-preparadas” e o enfoque nos frescos e saudáveis (algo especialmente relevante actualmente para as gerações X e Y).
Os sinais apontam para que a combinação de pequenas lojas, e-commerce e locais de recolha das compras poderá ser a resposta para um retalho de conveniência que melhor resposta ao consumidor de hoje. O investimento nas aberturas está a acontecer, a tecnologia poderá será o catalisador para o sucesso destes formatos.