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Entrevista Portugal Foods: “A estratégia de internacionalização deve estar nas mãos das empresas”

Por a 7 de Fevereiro de 2012 as 10:00

A PortugalFoods está a coordenar uma “task force” criada para revolucionar as exportações portuguesas e ajudar a economia portuguesa a sair do sufoco

 

Hipersuper (H.): Numa altura em que todos defendem as exportações como a tábua de salvação para a economia portuguesa, como é que a PortugalFoods encarou o desafio do Governo para criar uma estratégia comum à fileira?

João Miranda (J.M.): Com forte entusiasmo. A PortugalFoods sempre alertou para a necessidade de ser desenvolvida uma estratégia conjunta para a fileira, que fosse capaz de alavancar o potencial da internacionalização.

A plataforma do Pólo de Competitividade e Tecnologia, depois de reunir diversos stakeholders com o mesmo alinhamento e preocupação na produção e utilização de conhecimento a nível científico, acreditou que, através da criação da marca Portugal Foods, faria o “matching” vital e estratégico para a competitividade e criação de valor no agro-alimentar nacional, associando os dois vectores mais importantes para a sua sustentabilidade: inovação e internacionalização.

H: O desafio pode ser encarado como uma desresponsabilização por parte das entidades oficiais, um tirar o peso dos ombros?

J.M.: Se o agro-alimentar não tem sido objecto de suporte estratégico pelos diversos anteriores governos, e se acabamos por conseguir paulatinamente ir demonstrando ao Estado ao longo dos últimos três anos que este é um sector com forte potencial de valorização, já representado 12% do total das nossas exportações, não há razões para se pensar em desresponsabilização, mas sim numa atitude positiva e pró-activa.

Nem sempre o Estado tem que ser a razão de todos os males e insucessos. Este é o exemplo do trabalho desenvolvido por uma estrutura associativa criada pelo Estado e liderada pelas empresas. Um processo que poderá servir como exemplo, pois com o empenho e o espírito de missão das empresas que lideram o Pólo conseguiu-se contribuir de forma significativa para a organização da fileira e o seu alinhamento com uma orientação de base. Foi o que foi feito durante estes três anos de vida da PortugalFoods.

H: Qual é o papel de cada entidade neste trabalho?

J.M.: A nossa visão é clara: quem tem que construir a estratégia deverão ser as empresas e entidades representativas das mesmas, com competências em processos de internacionalização. O Estado deverá ser o elemento facilitador, disponibilizando e fazendo articular todas as organizações que tutela para o suporte às empresas, tendo sempre o cuidado de, sempre que necessário e oportuno, estimular a fileira, dando sinais de apoio e visibilidade institucional, considerando-a sempre na sua agenda politica. É necessário que o agro-alimentar obtenha o seu real peso e significado no pensamento dos nossos políticos e nos seus discursos.

Estou certo que, com a conclusão deste trabalho, iremos apresentar propostas que implicarão uma maior eficácia da alocação de recursos financeiros, mas principalmente, uma perspectiva de obtenção de resultados que em muito irá contribuir para ajudar o nosso País a sair desta situação sócio-económica difícil. Também estamos confiantes que o financiamento não será o problema.

H: Porque é que este trabalho não foi feito antes? Jorge Henriques, Presidente da FIPA, perguntou recentemente: “não será já tarde para um sector que foi ignorado pelas entidades oficiais?”

J.M.: O Jorge Henriques tem um conhecimento profundo deste sector, e representa uma organização que também tem alertado de forma continuada para esta lacuna da agenda política do Estado. O que quis seguramente dizer é que este sector tem na verdade sido esquecido ao longo das últimas décadas, o que vem sendo também a nossa avaliação, corroboro pois na plenitude.

No entanto, nunca é tarde para encontrar sinergias e o envolvimento consistente de toda a fileira com o Estado. O lado mau de uma estratégia, neste caso de uma ausência de estratégia, fez com que as empresas portuguesas desenvolvessem competências muito relevantes em processos de internacionalização. As empresas aprenderam a fazer o seu caminho, sozinhas, sem “rede” nem suporte, pois tinham consciência que só dependiam delas mesmo. Temos em Portugal exemplos notáveis de empresas e empresários que fizeram percursos exemplares, dando provas de uma ousadia só ao alcance dos melhores, batendo-se em mercados globais, exigentes, competitivos e inovadores.

H: Há que olhar para a frente.

J.M.: Sim. É o momento de aproveitarmos a oportunidade que nos está a ser concedida, aprender com estas empresas que já fizeram este percurso, utilizando-as como os melhores casos de “benchmark”, encontrando assim as melhores práticas para darmos suporte a uma estratégia de internacionalização assente em eficiências colectivas, permitindo definitivamente que Portugal seja reconhecido como País que produz e que produz em todos os sub-sectores da fileira a par do que melhor se encontra no mercado global.

 

Apoio do Governo

H: O ministério da Economia não deveria estar envolvido? Disse publicamente que o “grande problema” neste sector é a “falta de articulação entre Economia e Agricultura”.

J.M.: O grande problema do agro-alimentar em Portugal foi realmente a falta de articulação entre estes dois ministérios, criando-se uma zona cinzenta e de ninguém, colocando o sector durante décadas fora da agenda politica e do focus estratégico dos diferentes governos.

Ao contrário do que afirma, neste projecto há um forte envolvimento do Ministério da Economia, com participação activa de diversas entidades dos dois ministérios, em sintonia e articulação com o PortugalFoods.

Este é um sinal claro de empenho e compromisso do Governo na persecução deste objectivo. Sem este envolvimento, seria impossível realizarmos algo consistente e estruturante.

H: Como se vai diferenciar esta das anteriores estratégias levadas a cabo no nosso País? Os produtores queixam-se de falta de apoio e sobretudo da ausência de parcerias entre si para ganhar massa crítica.

J.M.: “As parcerias para ganhar dimensão crítica” a que se refere podem ser estimuladas pelo Estado, mas compete às empresas ou associações de produtores a concretização. Por norma, todos reclamamos muito, pois encontramos muitas e profundas lacunas, nunca vislumbrando políticas ou orientação de continuidade para os problemas estruturais do sector. Mas também é verdade que nós, empresas ou associações, pouco contribuímos para a solução.

H: O que vai fazer diferente a PortugalFoods?

J.M.: A PortugalFoods é uma organização que, sendo liderada por empresas, tem abordado de forma pragmática os problemas, não dispersando na sua orientação, e focalizando na obtenção de resultados práticos a nível da internacionalização e do estímulo à inovação, através da produção de conhecimento.

Estas são as áreas onde a PortugalFoods entende que tem competências internalizadas, seja através da sua equipa de gestão, seja ainda através da estrutura de associados que já representam cerca de 40% do total das exportações do agro-alimentar português.

A proposta de metodologia de trabalho para a construção participativa de uma estratégia para o agro-alimentar teve o mérito de ser reconhecida como válida pelo Governo e de ter reunido à partida um forte consenso dos diversos stakeholders da fileira. Este reconhecimento só é possível graças à credibilização deste longo trabalho que temos vindo a desenvolver, e essa é a base da diferenciação.

H: Qual é a metodologia pré-estabelecida dos trabalhos?

J.M.: O principio básico é que quem deve dar o maior contributo para a estratégia a desenvolver para a internacionalização do agro-alimentar deverão ser as empresas. Primeiramente, as empresas de cada sub-sector que tenham forte experiência de mercados externos, seja numa perspectiva de exportação, seja ainda numa perspectiva de criação de unidades de negócio noutros países. Poucos serão os casos em que os sectores individualmente já tenham a sua própria estratégia definida, mas, sempre que tal aconteça, será esse alinhamento que deveremos seguir.

É esse “benchmark” que queremos utilizar e partilhar em cada sub-sector e encontrar pontos com alguma transversalidade, que permitam abordagens conjuntas, nunca retirando a identidade de cada sub-sector, sob uma imagem forte e cuidada, capaz de construir a imagem de Portugal, nomeadamente do nosso agro-alimentar. Sempre dependente da qualidade da nossa participação individual e do impacto colectivo.

É essa imagem colectiva que fará de nós um País reconhecido como produtor.

Não fará sentido efectuarmos abordagens internacionais com empresas que não têm capital humano ou estrutura organizativa capaz de dar sequência aos contactos e exigências que irão surgir. O investimento do Estado deverá ter retorno nas empresas, seja individual seja colectivamente.

 

Novidades em Março

H: Os trabalhos já começaram? Qual é a agenda?

J.M.: A agenda é intensa e muito curta. A equipa da PortugalFoods está concentrada a estruturar toda a documentação de suporte e a articular com diversas associações representativas da fileira, assim como com as empresas que irão trabalhar connosco mais de perto.

Por outro lado, estamos também a identificar interlocutores em cada organismo do Estado que sirvam de ponte com a PortugalFoods, e que, sempre que possível, integrem esta “Task Force”.

Numa segunda fase, teremos a participação de organizações estratégicas, bem como de associações e empresas representativas da fileira. O nosso compromisso continua a ser o estabelecido pelo Governo, ou seja, terminar em final de Março.

H: Três meses são suficientes para criar uma estratégia bem sucedida?

J.M.: Não sendo seguramente o tempo que desejaríamos, é aquele que nos foi apontado como ideal. Assim sendo, vamos focalizar na concretização desse objectivo.

Estamos seguros que este será um trabalho vencedor e que resultará num forte contributo para a internacionalização da fileira agro-alimentar. Em relação à estratégia em si, deveremos considera-la como algo dinâmico, à medida da dinâmica dos próprios mercados. O importante é que os “guidelines” e a estruturação da estratégia sirvam de linha de orientação.

H: Quais os principais objectivos?

J.M.: Os objectivos serão alvo de identificação e quantificação no documento final.

H: Vão utilizar os actuais mecanismos de apoio à exportação e internacionalização?

J.M.: Nos dois últimos anos, temos vindo a promover as empresas nos mercados externos utilizando o Sistema de Incentivo à Qualificação e Internacionalização das empresas – projectos conjuntos, financiado pelo QREN.

Apesar de satisfeitos, existem questões que temos articulado com os gestores deste instrumento, que julgamos muito pertinentes, com vista a uma maior eficácia e eficiência do instrumento. As conclusões e recomendações do trabalho em curso irão seguramente reforçar propostas nesse sentido.

H: Está confiante que 2012 será já um ano de mudança para este sector?

J.M.: Um filósofo grego dizia que “não há nada permanente excepto a mudança”…! Foi isso que nos inspirou na altura para usar a assinatura “From Knowledge to Change”. A mudança é o que desde a nossa essência queremos implementar na fileira agro-alimentar e foi essa vontade que nos levou à criação da marca PortugalFoods. Conhecimento que se tangibiliza em Mudança.

O caminho percorrido leva-nos claramente a pensar que algo está a mudar e que nós fomos agentes dessa mudança. A importância que está a ser dada ao agro-alimentar é disso prova inequívoca, pelo que, apesar de todas as adversidades, sentimos que esta união nos fará mais fortes e ganhadores.

 

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