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José Pinto Gaspar, Presidente da CVR Tejo: “O grande desafio é pôr as novas gerações a consumir vinho”

Por a 22 de Outubro de 2010 as 11:25

Embora a exportação seja considerada uma prioridade para os produtores do Tejo, o mercado nacional continua a ser fulcral e os números confirmam-no: cerca de 70% das vendas dos vinhos do Tejo são feitas no mercado nacional. Desta forma, “faz para nós todo o sentido a participação em certames nacionais como a ViniPax”, salienta José Pinto Gaspar, presidente da CVR Tejo.

Hipersuper: Beja é palco da 4.ª edição da ViniPax. Que diferenças existem entre esta edição e a(s) anterior(es) em relação à participação da Vossa região?
José Pinto Gaspar (J.P.G.):
Iremos ter uma participação semelhante à dos anos transactos que consideramos muito positivas. Assim, além da presença nos 3 dias de feira dos produtores participantes, iremos organizar um jantar de vinhos do Tejo e proporcionar a visita à região do Tejo dos jornalistas estrangeiros convidados.

H: Na ViniPax estarão presentes quatro regiões – Tejo, Península de Setúbal, Alentejo e Algarve. Existem mais semelhanças ou diferenças entre os vinhos destas quatro regiões?
J.P.G.:
É obvio que existem algumas semelhanças entre os vinhos produzidos nestas quatro regiões, pois estamos a falar de regiões contíguas e com condições edafo-climáticas com algumas semelhanças. Contudo em relação aos vinhos do Tejo, existe, pensamos que por força da influência do rio Tejo, uma maior acidez natural das uvas, o que permite por um lado obter vinhos mais frescos e por outro com mais potencial de envelhecimento.

Também em termos de encepamentos, e por termos optado por ter dos estatutos menos restritivos nesta matéria, assistimos na última década à introdução na região de castas de referência nacionais e estrangeiras, que se adaptaram lindamente aos terroirs e que levaram a um grande aumento qualitativo dos vinhos da Região.

Por último é de salientar o facto de, em nossa opinião, possuirmos das melhores relações preço/qualidade a nível nacional, o que nos dias de hoje consideramos ser uma vantagem competitiva.

H: Existe um “consumidor tipo” para os vinhos produzidos na região Tejo?
J.P.G.:
Relativamente aos vinhos produzidos na região do Tejo, e pela sua diversidade, pensamos conseguir atingir várias faixas de mercado, pois, se por um lado existem vinhos de uma gama média que são os ideais para o consumo quotidiano, por outro, existem na região vinhos do segmento Premium e super-Premium que visam chegar aos consumidores mais exigentes e de uma classe social mais elevada.

H: A região Tejo está a produzir os vinhos que o consumidor procura e exige?
J.P.G.:
Nesta matéria pensamos estar no bom caminho, pois nos últimos três anos temos assistido a um sucessivo crescimento da quota de mercado dos vinhos do Tejo, quer na Moderna Distribuição quer no canal Horeca. Desta forma é nosso entender que se a procura dos nossos vinhos está a aumentar, é sinal de que estamos a ir de encontro às pretensões do consumidor. Refira-se que, segundo dados estatísticos credíveis, entre 2009 e 2010, fomos a Região Vitivinícola que maior crescimento apresentou.

H: Qual a previsão que faz, em termos qualitativos, para a produção da campanha 2010/2011?
J.P.G.:
Penso que será uma campanha de grande qualidade uma vez que as uvas se encontravam em excelente estado sanitário e as maturações ocorreram de uma forma gradual e regular. Ainda é cedo para fazer uma avaliação final mas ao que tudo indica será um ano promissor.

H: Distribuição Moderna vende actualmente 80% do vinho em Portugal. Alguns produtores admitem que esta situação é prejudicial, fazendo baixar em demasia o preço dos vinhos e, consequentemente, perigar a sobrevivência dos produtores?
J.P.G.:
De facto os hábitos de consumo dos bens alimentares, onde se inclui o vinho, sofreram em Portugal uma grande alteração nas últimas décadas, havendo uma maior concentração do consumo na moderna distribuição. Em nossa opinião, esta tendência não pode ser contrariada, tendo sim que haver uma adaptação dos produtores a esta nova realidade. Embora admita que não seja muito fácil a negociação com a Moderna Distribuição penso que temos assistido a uma maior abertura por parte dos grandes grupos em negociar directamente com os produtores de pequena e média dimensão.

H: Os produtores portugueses estão a beneficiar ainda do facto do consumidor português continuar a ser muito nacionalista no que toca ao consumo de vinho e não preferirem as ofertas estrangeiras?
J.P.G.:
É um facto que tem sido benéfico para os produtores de vinho a preferência dos consumidores nacionais pelo vinho português, no entanto, penso que devemos estar todos atentos aos vinhos estrangeiros, que podem a médio prazo constituir uma ameaça à produção nacional.

H: O vinho em Portugal está caro?
J.P.G.:
Se fizermos o exercício de comparar a evolução dos preços do vinho em Portugal na última década chegamos à conclusão que praticamente não houve alterações, pelo que não podemos afirmar que o vinho em Portugal está caro. Penso que existe em Portugal vinho para todas as bolsas, pois é frequente encontrar nas prateleiras desde vinhos abaixo de 1 euro até vinhos que custam várias dezenas de euros.

H: Como é que se pode aumentar o consumo de vinho em Portugal?
J.P.G.:
A adaptação dos vinhos às pretensões dos consumidores e o reforço das acções de marketing são fundamentais para um aumento do consumo. No entanto, penso que o grande desafio é alargar a base do consumo, isto é, pôr as novas gerações a consumir vinho, sempre com moderação é claro, em detrimento de outras bebidas alcoólicas cujo consumo tem vindo a aumentar junto das camadas mais jovens.

H: Recentemente foi lançada a marca “Wines of Portugal”. Esta marca vem, de alguma forma beneficiar estas quatro regiões em particular?
J.P.G.:
Penso que o lançamento da marca “Wines of Portugal” só peca por tardia. Somos um País pequeno e com uma visibilidade reduzida a nível internacional e o facto de podermos contar com esta marca “umbrella” só poderá beneficiar os produtores nacionais, pois sempre defendi que nesta matéria “a união faz a força”.

H: Que relevâncias têm estas feiras mais regionais?
J.P.G.:
Embora a exportação seja uma prioridade para os produtores do Tejo, o mercado nacional de todo o não deixa de ser, uma vez que representa cerca de 70% das vendas dos vinhos do Tejo. Desta forma faz para nós todo o sentido a participação em certames nacionais como a ViniPax.

Por outro lado, a organização da ViniPax convida vários jornalistas estrangeiros para visitar o certame e as quatro regiões participantes, pelo que podemos afirmar que o certame, além do mercado nacional, atinge também alguns mercados de exportação.

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