Opinião

O impacto do furto no inventário e oportunidades de venda perdidas

Por a 10 de Julho de 2009 as 5:01

Paulo Borges, Director de Marketing da Europa e América do Sul 

A recessão em que está imersa a economia à escala global tem vindo a gerar enormes transformações em praticamente todos os sectores de actividade. O retalho não é excepção. Podemos inclusivamente aferir, através dos comportamentos do consumidor, algumas das transformações sociais que vão, por certo, mesmo após a inversão da actual tendência, manter-se por mais tempo.

Poder-se-ia dizer que actualmente o retalho é uma indústria que vive uma tempestade, ainda de efeitos imprevisíveis para os quais há uma crescente preocupação.

Neste contexto para uma gestão eficiente os factores críticos de sucesso e que constitui a lista de prioridades do sector são:

1- reduzir custos,
2- conter e reduzir as perdas,
3- aumentar a visibilidade do inventário
4- aumentar vendas

Alguns dados de desempenho conhecidos indicam que há diferentes impactos em função dos diversos formatos de retalho e, claramente, os que têm uma predominância alimentar registam melhores resultados, particularmente os formatos que privilegiam no sortido uma maior incidência de marcas próprias, estão a registar crescimentos que revelam uma clara alteração do padrão de consumo.

Conscientes desta dinâmica, os diversos intervenientes na cadeia de abastecimento do retalho não têm alternativa senão procurar implementar medidas que permitam captar o máximo da procura disponível através da promoção de acções visando a fidelização e satisfação dos consumidores.

Um dos elementos que contribui fortemente para a satisfação dos consumidores é a disponibilidade dos produtos na loja, para a qual é necessária uma eficiente gestão da cadeia de abastecimento. Naturalmente que aqui entram elementos de gestão mais complexos, em grande medida, o maior elemento gerador de vendas, o ADN de qualquer retalhista.

Na equação da disponibilidade entra também o factor Perda Desconhecida ou Quebras. Não obstante, não estar expresso nas contas de exploração de qualquer retalhista qual o impacto indirecto nas vendas, gerado pela flutuação da disponibilidade proveniente de roubos de artigos, é conhecida a relação de proporcionalidade crescente.

Estudos recentes indicam que as rupturas de inventário são afectadas grandemente à medida que sobem os níveis de perda:

Importa portanto, ainda mais no actual contexto, fazer uma gestão eficiente das quebras. As Perdas são uma questão muito sensível para os retalhistas e têm tido uma atenção especial nos últimos anos. Em média, em Portugal, segundo os dados do Barómetro que mede as Perdas no retalho, o índice de perdas tem tido uma tendência decrescente desde 2001, ano em que se iniciou esta pesquisa, contribuindo assim para a adição de valor.

Os dados são reveladores, porém, através da análise do que tem sido tornado público, nesta área, há um conjunto de boas práticas que colocam o retalho português, ao nível do melhor que se faz na gestão das perdas no mercado internacional.

No entanto, novos desafios colocam-se ao sector. Até ao momento não há nenhum indicador fiável que permita ligar o actual contexto económico e os problemas sociais, sobretudo o crescimento do desemprego, com as quebras, mas retalhistas consultados são unânimes em reconhecer um aumento das incidências, conforme anunciado no último congresso do ECR realizado em Barcelona.

Algumas informações recolhidas indicam que há um “novo tipo de questões” que urge responder de forma eficiente já que uma “inesperada” variação negativa nas quebras pode constituir uma erosão adicional à geração de valor.

Segundo dados do GRTB, as perdas representam em média 1,34% das vendas ou seja aproximadamente 36% do benefício médio dos retalhistas (média Top 250 à escala global – Deloitte-Powers of Retailing 2009).

É, por isso, necessário olhar para as Perdas, mais do que nunca, como uma oportunidade, por um lado, cuidando de assegurar a correcta protecção dos artigos, sem comprometer a experiência de compra e, consequentemente, as vendas, por outro, como fonte geradora de benefício adicional no actual contexto:

O que pode ser feito para evitar um impacto negativo à passagem desta “tempestade”?

Em média os retalhistas, globalmente, gastam 0,33% das vendas para controlar este fenómeno. Em Portugal este valor é quase o dobro (0,61% em igual período), pelo que, embora os dados estatísticos não revelem questões importantes de contexto, se poderá concluir que há um elevado nível de preocupação com o controlo deste fenómeno.

Como foi dito, o retalho em Portugal, principalmente a distribuição moderna, tem demonstrado saber como “defender-se” desta ameaça e ainda recolher margem adicional. Só no final do corrente ano, quando forem conhecidos os resultados do Barómetro que mede a flutuação das quebras entre Julho 08 e Junho 2009, se poderá aferir o impacto que este fenómeno teve em Portugal naquele que poderá ser considerado o pior período económico do actual momento.

Deixe aqui o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *