Opinião

Crise Total

Por a 16 de Abril de 2009 as 18:25

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É a crise, 600 Restaurantes, Snacks e Cafés já fecharam este ano. Sempre gostei de fazer rotineiramente trade visits aos vários canais, para sentir mais de perto o pulsar do mercado e particularmente, nesta actual conjuntura macroeconómica, procurei perceber a dimensão e a realidade desta mediática crise.

Que os portugueses e os comerciantes em geral são pessimistas, é um facto e pelo que me lembro, nesta última dezena de anos, sempre me habituei a ouvir que o negócio estava mal, que estávamos em crise, mas era certo que as coisas lá iam andando… Agora as coisas parecem estar realmente diferentes. Nunca um dono de restaurante enquanto falava da crise, tinha deixado escapar uma lágrima enquanto sofridamente me falava do negócio. E as evidências são muitas, “antes servia 80 jantares, agora somente 20. Antes bebia-se vinho, agora cerveja e água, sobremesas nem pensar…” dizia-me em jeito de confissão, “é a crise…”.

Mas que crise é esta que desta vez está mesmo a fazer “estragos”? Como é que esta crise está a afectar o consumo? Existem teses para todos os gostos. De entre as mais populares, estão: “deixaram de vir cá todos os dias almoçar… trazem comida de casa e comem no escritório…”; “jantam menos vezes fora de casa…”; “escolhem ementas mais baratas…”; “cortam no vinho e nos digestivos…”, etc.

A grande dúvida é porquê este comportamento? Com óbvias excepções daqueles que por infelicidade engrossam as estatísticas da taxa de desemprego, porque razão todos os outros adquirem comportamentos defensivos em relação ao consumo? Porque que razão os Portugueses estão a consumir menos, quando a maior parte não têm uma aparente razão? A prestação da casa está mais barata, o combustível mais barato, os preços estão estáveis nas lojas, os saldos atingem proporções nunca vistas, etc. Acredito que o sensacionalismo mediático por detrás desta crise está a afectar o comportamento de todos nós perante o consumo. É um facto que a crise existe. Mas será que estas proporções são reais? Quanto mais restaurantes fecharão e quantas mais lágrimas se escaparão?

Apesar de afectar a todos, esta crise vai ser drástica para as empresas menos preparadas, quer ao nível das suas competências de marketing e vendas quer ao nível da sua capacidade financeira. Todas aquelas empresas que têm no canal Horeca um pilar de sustentação do seu negócio, vão provavelmente sentir um maior impacto da crise. O sector dos vinhos com certeza que não ficará imune. As empresas a actuarem neste sector e que melhor se adaptem a contornar esta crise continuarão a apresentar crescimentos, as restantes provavelmente ficarão para trás. Obviamente aquelas com uma gestão profissional e que continuem a investir no desenvolvimento das suas Marcas, provavelmente deverão ser as que melhor se adaptarão. Isto quer dizer que não têm que ser necessariamente as maiores ou as mais fortes as que melhor se adaptarão. É a “selecção natural” das empresas e das Marcas. Espera-se pois que esta teoria evolucionista, se materialize, quando houver a retoma da economia em Portugal, em empresas melhores, mais preparadas e mais capazes, mas em menor número, no entanto estas e as suas Marcas terão mais share-of-market, maior notoriedade, maior experimentação e maior fidelização.

Manuel Rocha, Director-geral da PortuVinus Wine&Spirits, SA

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