Retalho mais ‘verde’: um negócio inteligente
O mundo está cada vez mais consciente a nível ambiental, e o mercado do retalho não é excepção: desde os retalhistas de grande dimensão até aos pequenos negócios familiares, todos estão a tornar-se mais “verdes”.
Multinacionais como a Tesco, Kingfisher, Starbucks ou Safeway já anunciaram o seu compromisso ambiental, reforçando a sua eficácia energética, oferecendo produtos sustentáveis, eliminando os desperdícios e reduzindo os gases que provocam o efeito de estufa. Pequenos e grandes retalhistas começam a instalar painéis solares e turbinas eólicas nos seus armazéns enquanto alargam a sua oferta de produtos sustentáveis.
Este investimento vale a pena. De acordo com um estudo IBM, realizado a 19 mil consumidores, os comerciantes que desenvolvem iniciativas focadas no cliente no seu negócio, conquistam mais fidelidade e um melhor desempenho face à concorrência.
São várias as razões para uma aposta “verde”, destacando-se as seguintes:
1) Desenvolver maior lealdade por parte dos clientes.
Um relatório recente do “The NPD Group – Green 2008: Consumer Attitudes and Behaviors” constatou que mais de metade dos consumidores consideram-se extremamente ou muito interessados em produtos amigos do ambiente. As mulheres (57%) parecem ter um maior interesse que os homens (47%) em produtos “verdes” e estão mais dispostas a pagar preços mais elevados por esses mesmos produtos.
As mulheres mostraram-se também mais preocupadas com a identificação dos ingredientes e dos conteúdos do produto (se são orgânicos, hipo-alérgicos ou se foram testados em animais).
2) Conservar energia faz sentido e ajuda a poupar.
Alguns retalhistas estão já a desenvolver acções para minimizar a energia necessária ao aquecimento, arrefecimento, iluminação e operacionalização das máquinas em lojas ou centros de dados. Por exemplo, a U.K. Co-op lançou um programa que permite que os equipamentos POS fiquem inactivos durante a noite, reduzindo assim cerca de 722 toneladas de CO2 e poupando mais de cem mil euros por ano.
3) Construir uma cadeia de fornecedores sustentável.
As empresas estão conscientes da relação entre uma cadeia de fornecedores mais “verde” e o aumento de eficiência e visibilidade. A General Motors é um exemplo, ao ter reduzido cerca de 9 milhões de euros os custos com o tratamento de resíduos, depois de estabelecer com os fornecedores o uso de contentores reutilizáveis.
De forma a reduzir a produção de carbono, os fornecedores usam bio-combustíveis, gasóleo e soluções híbridas para transportar os produtos dos armazéns para as lojas. Uma cadeia de fornecimento sustentável, para além da eficiência energética, deve assegurar a melhoria da qualidade dos produtos através da monitorização da sua expedição, da eficiência das instalações e da rapidez das recolhas.
4) Desenvolver uma embalagem mais inteligente.
A Sam’s Club, que redefiniu os seus pacotes de leite por forma a poder transportar maior quantidade em cada camião, ou as companhias de águas que remodelaram as suas garrafas de forma a serem mais leves. À semelhança da Europa, os retalhistas dos Estados Unidos da América, incentivam os seus clientes a adquirirem sacos de plástico reutilizáveis, deduzindo até 5 cêntimos por saco quando reutilizados numa outra compra.
5) Tornar-se socialmente mais responsável.
As empresas sentem, cada vez mais, uma pressão por parte do governo, grupos de influência, investidores, consumidores e até de possíveis colaboradores, para que tornem as suas operações, produtos e serviços mais responsáveis socialmente. De acordo com o CEO Study 2008, as empresas duplicaram o seu foco em assuntos ambientais. O mesmo estudo defende que os CEO do retalho planeiam aumentar o seu investimento na área da responsabilidade social corporativa em cerca de 49% nos próximos três anos.
Para os retalhistas, ser mais “verde” significa operar mais eficientemente, sobretudo no controlo do consumo de energia. Significa também uma aposta nos produtos sustentáveis, dando a possibilidade aos consumidores de apoiarem as marcas em que confiam e com as quais se sentem bem.
Responsabilidade social e consciência ambiental estão em tudo ligadas à construção de lealdade do consumidor, à melhoria da rentabilidade e à gestão de custos. Os retalhistas necessitam de reconhecer as iniciativas sociais e ambientais por aquilo que elas são – um negócio inteligente.
António Pedro Ribeiro, Senior Manager Consultant, IBM Portugal