Outras Opiniões

Primeira contracção económica global desde a II Guerra Mundial…

Por a 28 de Novembro de 2008 as 9:30

luis ferreira

por Luís Ferreira,

Os últimos dois meses foram responsáveis por uma alteração profunda do contexto económico e financeiro mundial. De um cenário de dúvida quanto à capacidade de a crise financeira influenciar negativamente o ritmo de crescimento mundial, passámos para um cenário de certeza. A questão que agora se coloca diz respeito ao tempo e profundidade das consequências desta que é a primeira grande crise global.

A revisão do crescimento mundial efectuado pelo FMI atesta perfeitamente este cenário:

Simultaneamente e para aumentar ainda mais o cenário de incerteza, esta turbulência ocorre numa altura em que estamos perante uma possível e profunda mudança politica nos EUA, que marcará a próxima década.

Nesse sentido, interessa não tanto fazer uma análise da crise que tem vindo a ser tão profundamente dissecada e disseminada, mas alargar a visão um pouco mais para o futuro, tentando descortinar as grandes tendências que poderão surgir. Isto porque, também esta crise vai passar. Este é um exercício puramente especulativo mas útil para ultrapassar a visão e os perigos do pensamento de curto prazo que tem assolado, numa escala diferente, todos os agentes económicos.

O actual contexto tem as características adequadas para o aparecimento da próxima grande tendência. A recente turbulência marcou o fim do ciclo das commodities e consequentemente dos mercados emergentes, ao mesmo tempo que finalizou o capítulo da bolha de crédito que vivemos nos últimos anos, e que foi alicerçada pelo mercado imobiliário. Desta forma, vivemos actualmente um contexto financeiro e económico sem liderança, em que a grande bolha sobrevivente está relacionada com o mercado de dívida soberano dos Estados desenvolvidos, exacerbada pelos recentes receios de um colapso financeiro. Após este período vai haver um valor considerável de liquidez que se encontrará órfão de destino, e que a determinada altura encontrará refugio na próxima grande tendência, alimentando-a.

Em primeiro lugar é necessário perceber que muito provavelmente , e após a proliferação de instrumentos financeiros complexos, cujo funcionamento nem os investidores mais sofisticados percebiam plenamente, teremos um regresso aos activos “tradicionais” como as acções e as obrigações.

Em segundo lugar, é necessário perceber quais serão as grandes tendências que poderão servir de catalisador para o crescimento económico. Desse ponto de vista interessa referir a relevância que as eleições americanas poderão desempenhar no caminho a seguir pela economia americana e mundial, tão diferentes são os pontos de vista de cada uma das candidaturas. Por exemplo, na candidatura democrata, há um aspecto que ganha uma relevância acrescida e diz respeito ao investimento que se espera realizar no âmbito das energias renováveis. Os democratas dão uma especial ênfase ao objectivo de criar 5 milhões de empregos no sector das energias renováveis durante os próximos 10 anos, ao mesmo tempo que possibilita diminuir a dependência energética americana face ao exterior. Esta é uma questão que vai para além do preço a que se encontra o barril do petróleo, já que tem um cariz marcadamente político e estratégico. Para isso, está planeado um investimento de 150 mil milhões de USD para servir de catalizador ao desenvolvimento do sector. A vontade politica, conjugada com o apoio da sociedade civil, e os investimentos públicos e privados são factores suficientes para iniciar uma forma diferente de desenvolvimento económico. É preciso não esquecer que os EUA, apesar do seu nível de desenvolvimento, são um dos países mais ineficientes do ponto de vista energético, o que representa um longo caminho a percorrer.

Este exercício tem uma dupla missão. Primeiro, alertar para o momento único que estamos a atravessar e que marcará a forma como o mundo irá crescer nos próximos anos. Segundo e principalmente, alertar para os perigos de se perder a perspectiva do longo prazo. Se é verdade que o curto prazo deva ser gerido de acordo com as circunstâncias, também é verdade que isso não pode implicar perder o objectivo estratégico. Existem oportunidades para além da visão turva que o sentimento do momento provoca e que só a capacidade de preparar o futuro pode desvendar.

Assets Manager and Analyst da LJ Carregosa

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