Outras Opiniões

Enfrentar a crise – parte II

Por a 16 de Maio de 2008 as 9:30

rui ferreira

Não se sabe ainda se a crise financeira atingiu o seu pico negativo, e é uma incógnita quando os bancos recuperarão a confiança uns nos outros. Por outro lado, enquanto há especialistas que defendem que o petróleo terá de voltar a curto ou, o mais tardar, a médio prazo a negociar a níveis mais razoáveis (cinquenta ou sessenta dólares por barril), os preços continuam a subir e outros já falam em duzentos dólares no final do ano.

Para agravar a situação, nos últimos meses ganha peso o fenómeno da agroflação, ou seja, a subida generalizada dos preços dos produtos agrícolas, motivada pela crescente procura oriunda quer dos países emergentes, cuja população vem melhorando significativamente as suas condições de vida, quer da produção de biocombustíveis, que se vêm perfilando como substitutos dos derivados do petróleo.

Estes fenómenos, associados à especulação nos mercados financeiros, mais concentrados nas commodities do que nos activos financeiros tradicionais, estão a ter efeitos devastadores nas bolsas das famílias e, consequentemente, na procura de bens e serviços. O Banco Central Europeu encontra-se assim numa encruzilhada sem precedentes, tendo de escolher entre baixar as taxas de juro directoras e correr o risco de agravar a inflação ou subi-las e asfixiar a economia. Entre a espada e a parede, tem ficado imóvel e assim se prevê que fique até final do ano, não alterando as taxas.

Tal como se dizia no artigo anterior, não tendo condições face à conjuntura para fazer mais, os gestores empresariais devem concentrar-se em fazer melhor e com custos mais baixos, aproveitando todas as oportunidades.

Potenciar recursos e rentabilizar a estrutura

Tem acompanhado a evolução tecnológica? Ou, melhor ainda, tem procurado a inovação? Investir em tecnologia e em mão-de-obra qualificada é fundamental para que a sua empresa acompanhe as melhores. Não é possível produzir hoje da mesma forma que há dez ou vinte anos atrás, erro que tem custado caro a muitas empresas portuguesas, incapazes de responder à concorrência asiática e da Europa de Leste. Processos renovados permitem produzir mais rápido, com maior qualidade, antecipar informação e actuar atempadamente, trabalhar novos materiais e oferecer produtos ou serviços diferenciados.

Não encare a tecnologia como gastos pretensiosos, mas antes como investimentos inevitáveis e fundamentais para o sucesso a médio prazo (sendo que o médio prazo é cada vez mais curto, tal a velocidade com que os ciclos se abrem e fecham nos nossos dias).

O mesmo vale para a formação, pois os tempos da mão-de-obra barata acabaram, não é possível batermo-nos com essa arma frente a chineses e indianos. É necessário ter recursos qualificados e actualizar permanentemente os seus conhecimentos, procurá-los nas melhores escolas e interagir com elas, dar aos seus colaboradores a oportunidade de expandir horizontes e incentivá-la.

Pronto para o desafio? É muito ténue a linha entre o aventureirismo e a ousadia, mas pode residir aí o segredo do sucesso. Há que arriscar sem ter medo de falhar, mas para tal é fundamental fazê-lo “com rede”, de modo a que um falhanço (indesejado mas sempre possível) não represente um desastre irreversível que condene o que levou anos a criar.

Aposte numa estrutura flexível, que lhe dê capacidade de responder às oporunidade do momento, sem passar o ponto de não retorno.

Entregar a sua logística a um operador externo, por exemplo, dispensa investimentos em armazéns que teriam de ser dimensionados para o crescimento ou numa frota de distribuição que dificilmente estaria sempre devidamente utilizada. Esse operador vai gerir a sua operação em conjunto com a de outras empresas, criando sinergias e utilizando melhor a capacidade instalada, o que lhe vai permitir oferecer um custo que dificilmente conseguirá obter com uma operação própria, ao mesmo tempo que lhe disponibiliza com rapidez o espaço adicional que possa necessitar se o seu projecto resultar.

Já o trabalho temporário, muitas vezes visto apenas como fonte de precariedade laboral, pode também desempenhar um papel relevante para todas as partes se utilizado dentro dos limites éticos e legais. Do lado do empregador, permite a referida capacidade de resposta sem comprometer o futuro, enquanto dá ao trabalhador uma experiência que lhe pode vir a ser útil no futuro, mesmo que o projecto não tenha seguimento.

São apenas alguma hipóteses, o fundamental é concentrar-se nas soluções e não nos problemas.

Rui Ferreira, Director Financeiro da Rangel Expresso/FedEx.Rangel/FedEx

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