Outras Opiniões

Especulação? … Fraca desculpa.

Por a 18 de Abril de 2008 as 17:00

alexandre mota

O mês de Fevereiro foi dominado pelos receios de recessão económica nos EUA e, simultaneamente, subida da inflação. Não se trata de uma situação normal, pois em termos de teoria económica é usual a associação de conjunturas recessivas a uma menor taxa de inflação e vice-versa. Esta ideia, sintetizada na “curva de Phillips”, decorre da seguinte mecânica económica: Quando o mercado de trabalho está com escassez de mão-de-obra relativamente às necessidades produtivas – o que acontece geralmente em períodos de expansão económica – há, devido à lei da oferta e da procura de mão-de-obra, uma pressão em alta dos salários e consequentemente uma subida do nível geral de preços (inflação); o reverso da medalha dá-se em períodos recessivos em que a menor procura de mão-de-obra pressiona em baixa os salários e consequentemente o nível geral de preços.

A “curva de Phillips” explica bem a dicotomia entre emprego e inflação, cabendo aos decisores económicos ponderar em que medida devem manipular as suas políticas orçamentais, monetárias e cambiais de forma a atingir os seus objectivos.

O presidente da reserva federal americana, Ben Bernanke, simbolizou esta dicotomia ao defender as actuais decisões de baixa da taxa de juro como necessárias para manter o nível geral de actividade económica, ou seja, salvar a economia da recessão. Adicionalmente, Bernanke deu a entender (e bem) que logo que a economia normalize e os sinais recessivos se afastem, o FED voltará a subir as taxas de juro. Até aqui tudo normal: a “doença” é a recessão e a cura é um “camião de notas” seguindo a tradição Keynesiana. Contudo, o problema é bem mais complexo. Para além das tensões recessivas e das ramificações negativas ao nível da escassez do crédito e confiança dos consumidores e empresários, a subida da inflação é cada vez mais uma certeza. Isto porque as perspectivas de abrandamento económico não se estendem a todo o globo e particularmente aos BRIC (Brasil, Rússia, China e Índia), que estão a sustentar a procura mundial. No caso particular da China, a procura de matérias-primas não se cinge apenas a novas infra-estruturas e aos materiais básicos (cobre, alumínio, zinco, ferro), mas igualmente a bens agrícolas necessários a melhorar a dieta alimentar de um povo que representa cerca de 1/5 da população do globo e também as suas necessidades energéticas. Trata-se, de facto, de um mega problema que não é novo nem foi imprevisível, apenas esquecido. Agora, enquanto os EUA curam mais uma crise de gula financeira, injectando dólares no sistema, até podem resolver o problema, mas pressionam em baixa o dólar ajudando assim a exportar inflação para muitos países que têm as suas divisas ligadas à moeda americana (entre as quais, ainda, a China). E fazem-no numa altura em que esses países já vivem o problema da inflação – utilizando ainda a China como exemplo, a taxa de inflação anual homóloga cifrou-se em 7,1% em Janeiro de 2008 versus 2,2% em Janeiro de 2007 e 1,9% em Janeiro de 2005! Concluímos voltando à teoria económica simples: quando as expectativas de inflação aumentam, os agentes económicos preferem comprar hoje mais barato do que amanhã mais caro. É o que está a acontecer nas matérias-primas. Especulação? Sim. Exagero? Muito provavelmente, algum. Irracionalidade? Desculpa para quem não comprou a tempo.

Alexandre Mota, Analista da Golden Assets

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