Outras Opiniões

Da Euforia ao Medo

Por a 14 de Dezembro de 2007 as 9:00

 alexandre mota
 

Se o leitor é um investidor focalizado no mercado português este artigo pode parecer-lhe um pouco anacrónico. Contudo, se os seus investimentos são globais, incluindo uma percentagem importante em empresas americanas, e lhe perguntam qual o sentimento que melhor caracteriza o mercado nos últimos meses, provavelmente dirá: “MEDO”. Se recuar aos 1º e 2º trimestres deste ano e lhe fizessem a mesma pergunta, provavelmente diria: “EUFORIA”.
A Euforia é um sentimento que nos permite não medir devidamente os riscos das nossas decisões, sejam elas financeiras ou de outro tipo. Nos mercados financeiros a euforia permite que se confundam previsões optimistas e poesia económica com certezas, relaxando os mecanismos de segurança. É este sentimento profundamente humano que permite a formação de bolhas especulativas e, conjuntamente com a ganância, permitiu que se empacotassem créditos de alto risco num embrulho muito bonito, vendido como produto imune a doenças financeiras.
Muitos investidores (e também profissionais) confundem variações anormais das cotações com excesso de euforia. É usual vender-se só porque está alto, sem questionar sequer os motivos. Nos nossos artigos anteriores referimos que a alta das cotações apresentava sinais de Euforia excessiva, não porque o mercado estava a subir muito, mas por outras razões. Para além da situação do crédito fomos alertando para a baixa volatilidade do mercado e também para a divergência entre as evoluções das cotações e o crescimento dos resultados das empresas. Em suma, era claro que muitos investidores estavam a jogar um jogo em que já não acreditavam muito, mas em que tinham a sensação que sairiam vencedores.
Em Portugal tivemos um exemplo típico de Euforia excessiva: as acções do BCP.
Durante 1 ano a cotação do BCP esteve “congelada” por uma OPA ao BPI que o mercado encarava como um custo para os accionistas do BCP. Finalizado esse dossier e recusada a OPA, as acções do BCP dispararam e fizeram-no ainda mais logo que começou a luta pelo poder no seio da administração do banco. Assistiu-se a um período de euforia em que quem comprava não acreditava no valor, mas sim na oportunidade de poder sair do jogo a tempo. Entretanto terminou a guerra pelo poder e as acções começaram a cair para perto dos seus valores normais.
O Medo é o sentimento exactamente o inverso. O Medo não nos permite estar devidamente atentos às oportunidades financeiras ou de outro tipo. Nos mercados financeiros o medo permite confundir previsões catastróficas com certezas, impedindo novos investimentos e potenciando desinvestimentos. É este sentimento, também profundamente humano, que amplifica as crises, mesmo que estas tenham algum fundamento.
Neste momento temos algumas situações de mercado que podem ser identificadas como bolhas especulativas (excesso de alta nas cotações) ou como crises amplificadas (excesso de baixa nas cotações). Vejamos sobre cada uma delas qual é a nossa opinião:
Petróleo (bolha especulativa?): Não. O petróleo é uma questão de oferta e procura e no longo prazo há escassez na oferta e uma procura crescente. É sempre possível uma correcção de curto prazo, mas parece-nos que nos próximos anos o petróleo fará quase sempre máximos e mínimos anuais superiores aos do ano anterior.
Dólar contra euro (Crise amplificada?): Sim. Faz sentido que o dólar desça mais, mas não contra o euro. O que tem acontecido é que a inflexibilidade cambial da China impede que se venda dólares contra yuans porque a China compra os dólares todos. O refúgio tem sido a venda de dólares contra euros e o resultado é um usd artificialmente baixo face ao euro.
Quedas das bolsas americanas (Crise amplificada?): Sim. Os exageros são especialmente notórios no sector financeiro e construção. Os spreads de crédito das empresas financeiras estão acima das empresas industriais, o que é um paradoxo. As acções americanas são uma boa oportunidade de investimento agora que o medo domina.
Alexandre Mota, Analista da Golden Assets

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