Outras Opiniões

FED “obrigado” a descer taxas de juro

Por a 19 de Outubro de 2007 as 8:00

No passado mês de Setembro o FED cortou as taxas de juro de referência em 50 pontos base (de 5.25% para 4.75%). A acção do banco central americano visa conter os riscos de contágio da crise do mercado de crédito e imobiliário ao consumo e crescimento económico. Adicionalmente, o FED refere que permanecem os riscos de inflação, deixando em aberto todas as possibilidades de actuação nas próximas reuniões.Sobre a decisão do FED, muito se opinou nas últimas semanas:

Uma corrente de opinião insiste que foi um erro porque cauciona más decisões financeiras, designadamente de algumas casas de investimento;

Outra corrente de opinião aplaude, porque tal decisão significa que o FED optou por controlar o pior dos males: uma possível recessão, mesmo que o preço a pagar seja uma inflação um pouco acima do desejável.

Neste contexto vale a pena recordar um excerto do que escrevemos nesta revista em Abril deste ano.

«…. o presidente da reserva federal americana persiste na ideia de que o maior risco económico é a inflação, que se mantém a níveis indesejáveis e que a crise no imobiliário está contida, não havendo riscos sérios de contágio ao resto da economia. Será assim?

Aparentemente não é bem assim. O que acontece é que o FED está a fazer uma gestão de expectativas procurando atrasar ao máximo a inversão da política, garantindo que a inflação está mesmo sob controlo antes de atacar os sinais recessivos. Esta obsessão pela inflação pode implicar mais dor para os mercados de activos, sejam eles acções, obrigações ou casas. O efeito destruição de riqueza pode levar a que o ritmo de descida de taxas, quando ocorrer, seja mais rápido e profundo.

Na zona euro as dúvidas são de outra ordem. Apesar das subidas de taxas de juro, não há sinais recessivos à vista, a não ser o potencial contágio de uma crise americana. As taxas de juro devem subir pelo menos até 4.00%, mas o ciclo parece-nos próximo do fim caso a nossa situação macroeconómica previsível se concretize.

Concluindo, em 2007 as taxas de juro devem começar a descer nos EUA e em 2008 na Europa».

A análise realizada em Abril foi confirmada pelos factos (pelo menos na parte do FED). Agora, resta saber o que acontecerá em termos de política monetária e quais as consequências no mercado:

Hipótese 1:

O FED não faz mais qualquer corte de taxas de juro adicional (ou apenas mais 1 para 4.5%), assegura-se que os riscos recessivos são diminutos, que as bolsas estão estabilizadas, que a crise do crédito está contida, e retoma o combate à inflação.

Implicações:

Novas subidas de taxas de juro em 2008; previsível recuperação do dólar num clima positivo para as bolsas, embora mais volátil do que nos últimos anos.

Esta hipótese, com as devidas adaptações, configura um cenário semelhante ao acorrido ao 1998. Nessa altura o FED cortou taxas de juro em finais do ano para prevenir um “credit crunch” e uns meses mais tarde voltou a subi-las para controlar a inflação.

Hipótese 2:

Se a economia não reagir aos sucessivos cortes de taxas de juro poderá ser necessário mais agressividade do que o pretendido (por exemplo fed funds nos 3%).

Para ilustrar este ponto de vista pensemos numa economia como uma empresa. Numa empresa a taxa rentabilidade dos activos deverá ser superior ao custo de financiamento desses activos. Só assim o crescimento da empresa será sustentável e lucrativo. Numa economia como a americana podemos aplicar o mesmo raciocínio: a taxa de rentabilidade dos activos (medida pelo PIB nominal) terá de ser superior ao custo de financiamento desses activos, ou seja, as taxas de juro (custo do capital).

O crescimento do PIB nominal americano ronda os 4.00 a 4.5% (incluindo factos e previsões) e na história recente o seu valor está muito próximo de 5%. Isto significa que, neste momento, a economia americana está a crescer abaixo do seu valor médio.

Com a yield curve positivamente inclinada e os spreads de crédito mais altos, baixar os fed funds para 4.75% poderá não ser suficiente, porque numa economia baseada em activos (casas, acções, etc) é preciso pagar contas a uma taxa inferior à sua taxa de rentabilidade desses activos.

Conclusão: A não ser que a economia americana acabe por recuperar rapidamente, poderá ser necessário proceder a mais cortes de taxas de juro.

Implicações:

Descida significativa das taxas de juro ao longo de 2007/8, previsível queda do dólar num clima muito volátil para as bolsas, que vão “implorar” ao FED cortes de taxas adicionais para sustentarem as cotações.

Esta situação assemelha-se mais ao ocorrido em 2001/2002, quando o FED procedeu a cortes de taxas sucessivos de forma a prevenir uma recessão.
Alexandre Mota

Analista da Golden Assets

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