Distribuição

Retalhistas devem repensar estratégias de crescimento

Por a 24 de Janeiro de 2007 as 16:52

Retalho positivo em Setembro

A situação económica das empresas e o aumento da concorrência estão a causar preocupações aos CEO’s do sector retalhista. Com modelos de crescimento tradicionais e o número crescente de lojas a não ser suficiente para aumentar os lucros, os retalhistas vão necessitar de novas estratégias de crescimento para enfrentar as tendências globais. Estes desafios são analisados num relatório anual da Deloitte intitulado “Global Powers of Retailing 2007”. O estudo, realizado em conjunto com a revista STORES, apresenta um ranking dos 250 maiores retalhistas a nível mundial baseado nas vendas, bem como dos 50 que mais cresceram, analisando igualmente os obstáculos com que os retalhistas se depararam para aumentar as suas vendas e os lucros, num ambiente cada vez mais competitivo.

A ansiedade em relação ao futuro tem levado muitos CEO’s do sector retalhista a não quererem separar-se dos fundos que as empresas acumularam ao longo dos anos. Perante a série de desafios com que são confrontados, como o preço do petróleo, o financiamento ao consumo e as pandemias, entre outros, é fácil perceber porquê. Mas pôr o dinheiro no banco é algo que faz sofrer os retalhistas.

«Os 250 maiores retalhistas mundiais assistiram a uma quebra do volume dos seus activos e da rendibilidade dos capitais próprios. Essa queda significa que é pouco provável que o crescimento acentuado do valor para os accionistas do sector, a que se assistiu nos últimos cinco anos, se mantenha.», aponta Ira Kalish, Consumer Business Director da área de Research da Deloitte do Reino Unido. «Será de esperar uma forte pressão no sentido de os retalhistas utilizarem os seus fundos para aumentarem o valor das empresas para os accionistas no futuro. O resultado final será um aumento das fusões e aquisições, uma maior consolidação e a necessidade de uma maior redução do endividamento».

A explosão do comércio livre a nível mundial tem aumentado o acesso a produtos fabricados em países em desenvolvimento como a Índia e o Vietname. Nos últimos 15 anos, os retalhistas tiveram ganhos substanciais com a importação de produtos a custos mais baixos para vender nas suas lojas. A China, o México, o Brasil, a Índia e o Vietname são alguns dos principais exportadores para países como o Reino Unido e os Estados Unidos. Mas as mudanças a nível empresarial e político sugerem que a situação pode estar a alterar-se.

«No futuro, o custo das importações pode aumentar por razões políticas e económicas e isso pode afastar os retalhistas. Espera-se que haja um menor acesso a produtos importados em zonas económicas como os EUA, o Japão e a Europa. Se se tornar mais difícil e dispendioso obter produtos noutros países, é provável que, a longo prazo, os retalhistas procurem fornecedores alternativos nos seus países, ainda que por um preço mais elevado», prevê Ira Kalish.

Outro ponto focado neste relatório prende-se com a estrutura etária da população mundial, que nos últimos anos, foi muito favorável para os retalhistas. Ajudou a manter os custos da mão-de-obra a um nível baixo e fez aumentar exponencialmente o consumo no comércio a retalho. No entanto, nos próximos dez anos, verificar-se-ão algumas mudanças importantes que fazem prever tempos difíceis.

A população com idades compreendidas entre os 50 e os 70 anos aumentará significativamente nos mercados mais desenvolvidos, o que fará desviar ainda mais o consumo de produtos para experiências e serviços. Por outro lado, o baixo crescimento da população entre os 20 e os 35 anos tornará difícil contratar pessoas à procura do primeiro emprego, enquanto a diminuição da população entre os 35 e os 50 anos de idade tornará difícil a manutenção de cargos de gestão de nível médio e superior.

«Ao contrário dos países desenvolvidos, não será difícil para os retalhistas encontrarem mão-de-obra nos países em desenvolvimento. As alterações demográficas dos próximos anos contribuirão para criar economias fortes nesses países, que serão mais dinâmicas e mais propensas ao risco e, por isso, crescerão muito mais depressa do que as economias dos países desenvolvidos.», refere Lawrence Hutter, partner da Deloitte do Reino Unido e Global Consumer Business Leader.

Os retalhistas têm de tomar consciência de que os consumidores estão atentos à sua actividade e à sua inércia no que diz respeito à responsabilidade social. Neste sentido, Huttler considera que «os retalhistas são, muitas vezes, mais lentos do que outros sectores a pôr a responsabilidade empresarial na ordem do dia, mas esta nova transparência poderá representar uma mudança. Os grupos activistas e as organizações não governamentais poderão usar – e em alguns casos já estão a usar – as novas formas de comunicação (como por exemplo os blogs com vídeo) para difundir más notícias ou comportamentos questionáveis». Por isso, «a mensagem para os retalhistas é bem clara: os consumidores estão cada vez mais conscientes das responsabilidades sociais dos retalhistas, que não podem correr o risco de ser alvo de propaganda por razões erradas».