Distribuição

Perspectivas 2005-2010

Por a 1 de Junho de 2006 as 14:00

Perspectivas 2005-2010

As perspectivas no cenário europeu da distribuição, de acordo com o Planet Retail, apontam para uma evolução sustentada dos principais grupos, com particular destaque para o Schwarz, detentor da Lidl, e naturalmente para o reforço da liderança do Carrefour e da segunda posição da Metro, que no entanto é claramente o maior operador na área não-alimentar. Alemães e franceses, com os britânicos da Tesco pelo meio, continuam a dominar o top 10.

Até 2010 prevê-se que o Carrefour mantenha a distância face à Metro na liderança do retalho europeu, evoluindo de vendas à volta dos 80 mil milhões de euros para os 100 mil milhões. Ou seja, em quatro anos o grupo francês poderá crescer cerca de 25%. O mercado doméstico continua a ocupar a maior fatia do volume de negócios, particularmente no formato hipermercado, mas a expansão internacional, ainda que mais selectiva ao nível dos mercados com rentabilidade, deverá ser o grande motor de expansão. Nessa altura, o negócio fora de portas deverá já ser maior do que o interno, contrariamente ao que se verifica actualmente.

Por seu lado, os alemães da Metro, que têm o seu core business, no conceito cash & carry, deverão aumentar as vendas em 20 mil milhões de euros, atingindo perto dos 80 mil milhões. Contudo, é de destacar que o grupo lidera claramente no ramo não-alimentar, que inclusivamente perfaz vendas superiores ao ramo alimentar. A facturação do retalho especializado, onde explora insígnias como a nossa conhecida Media Markt ou a Saturn, ascende aos 33 mil milhões de euros, contra 28 mil milhões de ramo alimentar.

Quanto à Tesco, muito concentrada no mercado de origem e sendo o único grupo que foge ao eixo franco-alemão no top 10 dos retalhistas europeus, deverá manter o terceiro posto na classificação, mas verá o grupo Schwarz aproximar-se perigosamente devido à acelerada expansão internacional. Os alemães, através do seu modelo discount, deverão ascender ao quarto posto em 2010, atingindo uma facturação próxima dos 60 mil milhões de euros, contra os actuais 40 mil milhões. Ficarão, na altura, a apenas cinco mil milhões da Tesco.

Os restantes operadores deste ranking que também se encontram em Portugal – casos da Auchan, Lidl e Leclerc – deverão ter crescimentos mais modestos, mas mesmo assim é de prever que a Auchan, actualmente na sétima posição, possa ultrapassar o grupo Edeka. Entretanto, nunca é demais referir que os líderes mundiais Wal-Mart, ainda que continuem muito centrados no mercado americano, deverão crescer significativamente, posicionando-se como candidatos a figurar nesta elite da distribuição no “Velho Continente”.

Proximidade marca pontos

A tendência, a que também se assiste no mercado nacional, é para o desenvolvimento de médios formatos de proximidade. Em Portugal, por exemplo, os pedidos para hipermercados no âmbito do novo regime de licenciamento são muito poucos, e mesmo os operadores que se especializaram nessa dimensão de loja, como a Auchan ou o Carrefour, consideram agora inverter a estratégia de expansão. Os franceses, por exemplo, já têm na sua posse a cadeia de desconto Minipreço. Assim sendo, os supermercados, a par das lojas de conveniência e do inevitável discount serão certamente os formatos que mais irão crescer nos próximos tempos. Neste último caso, e até 2010, espera-se que o conceito possa sofrer incrementos de 30% em número de lojas, atingindo mais de 45 mil unidades a nível europeu, quando actualmente são 35 mil, aproximadamente.

Os hipermercados – cerca de 8.500 hoje em dia – deverão chegar aos 10 mil, num ritmo bem mais moderado. Espera-se igualmente que os supermercados cresçam de 69 para 77 mil, enquanto o número de cash & carries e armazenistas deverá saltar de 2.000 para 2.400, no máximo. Curiosamente, indica o Planet Retail, o número de lojas de conveniência, já de si o maior com quase 75.000 unidades hoje em dia, deverá chegar às 80 mil. Ou seja, mais uma vez fica provado que o conceito de proximidade está claramente em alta no retalho europeu.

Contudo, se em número de lojas o cenário é o acima descrito, já no que diz respeito à facturação por formato a situação é diferente. De facto, o conjunto de lojas de conveniência, calcula o Planet Retail, factura actualmente pouco mais de 40 mil milhões de euros, valor que poderá evoluir para 53 mil milhões até 2010. Muito menos do que os hipermercados, que apesar do reduzido número de lojas em comparação com outros formatos são o conceito que mais factura. Ao todo, o volume de negócios está calculado em 322 mil milhões de euros, esperando-se que em 2010 ultrapassem já os 400 mil milhões.

Seguem-se os supermercados de proximidade, com 280 mil milhões actualmente e expectativas de chegarem aos 340 mil milhões, e as lojas de desconto, que facturam 120 mil milhões e deverão, dentro de quatro anos, atingir cifras na ordem dos 160 mil milhões. O negócio de cash & carry, calculado em 53 mil milhões, deverá saltar para 70 mil milhões de euros, de acordo com as previsões do Planet Retail.

Os grandes formatos

De acordo com o mesmo documento, o Reino Unido será o país onde os maiores formatos (hipermercados e unidades de média dimensão) irão crescer, muito em função dos investimentos previstos por parte da Wal-Mart, Tesco e Morrisons no país. São esperadas mais 440 unidades até 2010, sendo de longe a região europeia onde irá existir maior investimento neste formato de loja. Seguem-se Polónia (140), Itália (114), Roménia (112), Espanha (106), Alemanha (96) e República Checa (74). Portugal vem logo a seguir, com 73 grandes formatos previstos, o que dá uma ideia do desenvolvimento esperado para o País, mesmo que estes números possam não se verificar em termos exactos, uma vez que falamos de previsões a quatro anos e da incerteza inerente a esse facto.

A nível europeu é o grupo Edeka quem dispõe de mais lojas neste formato – ultrapassando 1.400 – mas o Planet Retail prevê que se venha a manter ou mesmo diminuir ligeiramente. A liderança, porém, não está em causa, uma vez que o segundo lugar pertence à Tesco, com 740 unidades que todavia poderão crescer até 950 em 2010. O grupo Schwarz salta de 655 grandes formatos (explorados maioritariamente sob insígnia Kaufland) para 875 ao mesmo tempo que Metro e Carrefour também deverão evoluir de forma significativa nestas dimensões de loja. Destaque ainda para a Wal-Mart, que tem neste momento 380 lojas e deverá atingir 470 em 2010. Os norte-americanos – líderes mundiais, nunca é demais dizer – estão apenas no Reino Unido e na Alemanha, no que diz respeito à Europa. Mas os planos de expansão internacional têm sido extremamente acelerados, pelo que existe a dúvida se ponderam a hipótese de avançar para mais algum mercado, entre os quais a Península Ibérica.

Ao nível da facturação neste formato, as contas já são outras. Neste indicador, lidera a Tesco, com 44 mil milhões de euros e podendo atingir 55 mil milhões dentro de quatro anos. O Carrefour é agora o segundo colocado, 41 mil milhões e perspectivas de chegar a 55, colando-se à Tesco, seguindo-se Leclerc e Auchan, que no entanto deverão evoluir em ritmos mais lentos. A Wal-Mart é quinta classificada, facturando 25 mil milhões e podendo crescer até 33 mil milhões. À frente da Edeka – recorde-se que é o maior operador em número de lojas mas está mais vocacionado para os médios formatos e não para os grandes – encontramos ainda Sainsbury, Morrisons e o Grupo Schwarz. A finalizar a lista estão os alemães da Metro, que obtêm um volume de negócios de 10 mil milhões de euros com as lojas de maior dimensão.

Supermercados de proximidade

O desenvolvimento desta tipologia de loja deverá ser mais acentuado na Europa Ocidental, particularmente nos nossos vizinhos espanhóis e em função do forte investimento com origem em grupos internacionais. São esperadas nada mais nada menos do que perto de 2.500 novas unidades no país, o que o coloca como o grande alvo de expansão. Contudo, também a Polónia deverá sofrer um forte incremento, com quase 1.000 lojas mais, enquanto Portugal também crescerá, desta feita com pouco mais de 300 unidades, refere o estudo do Planet Retail. À nossa frente, encontramos Reino Unido, Grécia, França e Croácia.

A Edeka, mais uma vez, lidera o ranking em termos de número de unidades exploradas, as quais chegam quase às 10.000. Esta posição foi reforçada pela aquisição dos activos da cadeia SPAR na Alemanha, em Abril de 2005, mas o Planet Retail adverte para o facto de as previsões apontarem para uma descida significativa do grupo até 2010, devendo na altura ter qualquer coisa como 8.000 unidades. Os operadores seguintes do ranking (Rewe, Ahold, SPAR no Reino Unido e Conad) deverão ter oscilações pouco expressivas, podendo aumentar ou diminuir o número de lojas num intervalo entre as 200 e as 300 unidades.

Já o Carrefour deverá ter mais 700 unidades, saltando do sexto para quarto posto em 2010. Os também nossos conhecidos Auchan e ITM (Intermarché), deverão aumentar cerca de 200 unidades, mantendo-se assim no top 10. A Casino, que ocupa o 10.º posto, deverá manter à volta das 1.700 lojas de proximidade. Este dado é importante uma vez que se fala do interesse do grupo português Jerónimo Martins em alguns activos dos franceses, nomeadamente na Polónia e precisamente neste formato de loja: a cadeia Just Leader.

Ao nível financeiro, os líderes deste formato são os nossos bem conhecidos Mosqueteiros, com um volume de negócios aproximado de 24 mil milhões de euros. O Carrefour é segundo, mas deverá aproximar-se pois a facturação de 22 mil milhões poderá evoluir para 26 mil milhões em 2010, enquanto o Intermarché deverá na altura facturar 27 mil milhões de euros. Seguem-se Rewe, também com aumentos previstos, Edeka, que deverá manter o negócio ou mesmo diminuir ligeiramente, e a Ahold, accionista do grupo Jerónimo Martins que perfaz vendas neste formato de 18,5 mil milhões de euros. Os holandeses deverão, dentro de quatro anos, chegar aos 21 mil milhões.

O maior destaque, todavia, deverá vir de Espanha, e nomeadamente da rede Mercadona. Actualmente no oitavo posto, os nossos vizinhos deverão saltar para o quinto lugar em 2010, fruto da quase duplicação do negócio, indica o Planet Retail. Hoje em dia, as vendas estão calculadas em 10 mil milhões de euros, mas dento de poucos anos deverão já estar nos 20 mil milhões.

Discount sempre a subir

Este é um terreno fértil do ponto de vista das macrotendências no sector da distribuição e onde os grupos alemães dão cartas. Apesar disso, é esperado que o Carrefour mantenha a sua agressividade no formato. Para além da Alemanha, onde o conceito nasceu e está mais desenvolvido, há muitos mercados emergentes por toda a Europa, os quais deverão ser alvo de forte investimento por parte dos principais operadores. O maior crescimento, estima-se, deverá ser proveniente do grupo Schwarz, que já lidera o segmento em número de lojas mas não em facturação.

São esperadas mais 1.100 unidades discount no mercado germânico, sensivelmente o mesmo número que deverá nascer na Polónia, onde, recorde-se, os portugueses da Jerónimo Martins lideram o mercado precisamente ao explorarem um conceito discount. França, muito por culpa da agressividade do Carrefour, deverá também aproximar-se de um crescimento próximo das mil unidades de desconto alimentar até 2010. Espanha, Grécia, Hungria, Itália, Reino Unido e Portugal são outros países que deverão sofrer forte evolução deste conceito, devendo nascer entre 400 a 500 novas lojas em cada um deles.

Apesar de deter o maior número de lojas (6.640 à data do estudo), o grupo Schwarz é o segundo operador discount pois factura 28 mil milhões de euros neste formato, enquanto a Aldi ascende a 32 mil milhões. É esperado que os detentores da Lidl, que também têm outros formatos, ao contrário do seu grande rival, possam atingir o primeiro posto também nesta vertente. Em 2010, deverão atingir 9.500 lojas e um volume de negócios de 43 mil milhões de euros, contra um parque de 8.000 pontos de venda da Aldi (hoje em dia são 6.600) e uma facturação a rondar os 40 mil milhões de euros.

O Carrefour é o terceiro classificado em número de lojas (hoje 4.200 que deverão subir para 5.200) mas ocupa apenas o quinto posto em facturação no formato, com um volume de negócios próximo dos 7,5 mil milhões de euros que poderá evoluir para 10 mil milhões. Já a Tengelmann, também presente em Portugal com a insígnia Plus, detém quase 4.000 pontos de venda e deverá juntar-lhes mais 700. Os alemães facturam 9,2 mil milhões de euros e poderão chegar aos 12 mil milhões.

Neste particular, teremos igualmente que destacar o grupo Jerónimo Martins. Na altura em que o estudo foi elaborado, os portugueses, apesar de não entrarem no top 10 da facturação, dispunham de 805 unidades Biedronka, todas localizadas na Polónia. O Planet Retail indica que em 2010 a “joaninha” terá já 1.300 unidades, mas o plano de expansão foi entretanto acelerado. As perspectivas apontam agora para cerca de 1.500 lojas naquele país.

Cash & conveniência

Na actividade grossista, o grupo Metro, que detém a Makro, lidera de forma absolutamente incontestada. Inclusivamente, deverá reforçar esta área durante os próximos anos, uma vez que, na maior parte dos casos, o formato cash constitui a porta de entrada em novos mercados. Nesse sentido, as actuais 461 unidades deverão evoluir para mais de 550, com o grupo a atingir valores na ordem dos 37 mil milhões de euros, mais 10 mil milhões do que no final de 2005. Todos os restantes operadores têm menos de 200 unidades, destacando-se apenas como operadores presentes no mercado português, para além da Metro, o grupo Carrefour, que ocupa o segundo lugar no ranking europeu deste formato.

As previsões apontam para que seja em Espanha que se verificará o maior crescimento em termos de número de unidades, as quais serão pelo menos mais 50 em 2010. O mercado polaco andará próximo, confirmando que existe uma clara tendência para o reforço significativo de quase todos os formatos neste país, seguindo-se Grécia, Itália, Roménia, Reino Unido e Portugal, mas desta feita com números muito mais modestos, à volta das 20 unidades mais até 2010.

No que diz respeito às lojas de conveniência, o principal foco de desenvolvimento estará no Reino Unido, onde deverão surgir mais de 2.500 unidades em apenas quatro anos. O segundo país ao nível das perspectivas de desenvolvimento, só para se ter uma ideia comparativa, é França, onde devem surgir mais 700. Portugal, refere o Planet Retail, encontra-se no fundo da tabela, com pouco mais de dez unidades previstas.

As principais gasolineiras, ainda que liderem o mercado, deverão todas baixar ligeiramente o número de lojas incluindo-se aqui a Total, Shell e BP. Inversamente, o negócio associado a grupo de distribuição parece estar em crescimento. Tanto a Casino como o Carrefour deverão aumentar o número de lojas de conveniência. Este último grupo, inclusivamente, lidera ao nível da facturação, com cinco mil milhões de euros que poderão crescer 20%, seguindo-se a Total, BP, Shell e novamente um grupo retalhista: os igualmente franceses da Casino.