FMCG Vinhos

Afinal temos boa “pinga”!

Por a 1 de Junho de 2006 as 14:00

Portugal recebeu durante três dias o Concours Mondial de Bruxelles. Este facto só por si já constitui notícia, uma vez que, na primeira vez que o evento saiu do país organizador, não viajou até França, Espanha, Itália, Estados Unidos da América ou Austrália, mas sim para este cantinho da Europa. Este facto vem demonstrar que Portugal possui, afinal, um papel a desempenhar no mundo dos vinhos a nível internacional.

Provados e classificados que foram mais de cinco mil vinhos, cabendo-me a difícil tarefa de, das 08.30 às 13.00 horas de Sexta a Domingo, provar mais de 50 néctares por dia, totalizando assim mais de 150 vinhos, o que diga-se, é demasiado para se avaliar em condições os vinhos a concurso.

No final desta árdua, mas recompensadora, tarefa cheguei à seguinte conclusão: Portugal produz excelentes vinhos. Não tenho qualquer problema em afirmá-lo e digo-o até com algum orgulho, uma vez que após a degustação e classificação dos vinhos a concurso (em prova cega), conhecendo-os somente depois de efectuada a prova, a desilusão instalou-se. Na minha mesa – composta por um luxemburguês, italiano, alemão, chileno e francesa – raros foram os casos onde os membros do júri se entusiasmaram com os néctares servidos.

Curiosamente e na opinião de todos os meus “companheiros de mesa”, foram os brancos que brilharam, possibilitando a degustação de verdadeiras preciosidades. Em relação aos tintos, a desilusão foi tremenda, rotulando de pobre a média geral dos “rouge” degustados.

Portugal destacou-se igualmente pelo número de medalhas conquistadas, batendo os seus principais rivais. Com 174 medalhas, quatro Grande Medalhas de Ouro, 66 de Ouro e 104 de Prata, 34% dos 516 néctares nacionais a concurso foram premiados.

Estes resultados só vêm confirmar a minha afirmação, aproveitando esta oportunidade para deixar a seguinte questão: afinal porque razão não conseguimos vingar internacionalmente? Uns apontam a falta de qualidade, outros a falta de volume, há os que referem a ineficácia da promoção ou a falta de dinheiro para a realizar. É verdade que Portugal não possui as verbas à disposição de países e produtores como os australianos, espanhóis, italianos ou franceses. Mas não posso deixar de ficar perplexo quando os responsáveis pelo País dizem não possuir verba para apoiar o sector vitivinícola, preferindo culpabilizar a fileira pela sinistralidade nas estradas nacionais, equacionando a possibilidade de sobrecarregar ainda mais os produtores com taxas para campanhas rodoviárias contra o álcool.

Se existe sector que possui expressão a nível internacional, é o vinho. Talvez valesse a pena equacionar uma aposta credível e a longo prazo por parte das entidades responsáveis deste País. Receio bem que daqui a uns anos possa estar a utilizar estas mesmas páginas para escrever, ou lamentar o fim de um sector que poderia ter sido um dos grandes embaixadores de Portugal em todo o mundo.