Distribuição

“Novo começo”

Por a 11 de Maio de 2006 as 18:13

Carrefour

O comunicado oficial do grupo Carrefour, dado a conhecer por ocasião da divulgação dos resultados internacionais dos líderes do retalho europeu, é claro quanto ao exercício de 2005: consistiu num «novo começo» em que a estratégia foi reorientada para o cliente e para o crescimento. «O grupo tomou decisões difíceis sobre a estrutura de gestão e política comercial», tendo por base um maior foco na rentabilidade dos negócios.

De facto, o grupo operou uma simplificação da estrutura de gestão e procedeu à alienação de alguns activos menos rentáveis, ao mesmo tempo que optava por reforçar posição em mercados onde conta com performances particularmente fortes. Em resultado, declarou a administração, «abrimos mais 1,5 milhões de metros quadrados e recuperámos quota de mercado alimentar em França, o que não acontecia desde 2000». As vendas evoluíram 2,5%, para 74,497 milhões de euros e os resultados líquidos antes da descontinuação de algumas actividades também cresceram 1,2 pontos.

Os líderes do retalho europeu e segundo maior retalhista a nível mundial, apenas atrás dos norte-americanos da Wal-Mart, consideram que em 2006 vão crescer ao nível da rentabilidade, consumados que estão os desinvestimentos no México, Japão, República Checa, Eslováquia e em alguns pontos de venda localizados em Espanha e no Brasil. A selectividade ao nível dos activos permitiu ao grupo, precisamente, concentrar-se nos negócios com maiores índices de rentabilidade, aspecto particularmente importante tendo em atenção a crescente pressão sobre o preço a que se assiste no mercado retalhista.

Para o ano em curso, o Carrefour conta abrir mais 100 hipermercados e um total de 1.000 novas lojas, com o objectivo de «preencher os mercados-chave». O investimento em preço, declarou ainda o grupo, continuará a ser prioritário, na medida em que a realidade actual do sector, concretamente através do desenvolvimento dos conceitos de discount, assim obriga. «O nosso critério de investimento nunca foi tão rigoroso como agora» referiu o grupo, ao mesmo tempo que frisava a intenção de acelerar os níveis de investimento para 2007 e 2008.

Considerando 2005 como um ano de transição, o grupo afirma ter criado a base para um novo começo e que «nunca esteve tão bem equipado par competir. As equipas estão motivadas e empenhadas e sabemos exactamente onde devemos melhorar, o que nos faz esperar um aceleramento em 2007 que deverá elevar os níveis de crescimento para os 10%». Para o efeito, conta com o foco nas necessidades do clientes e com uma estratégia de preço «não negociável» e definida localmente.

Durante o ano passado, o grupo foi particularmente prudente tanto no investimento como no desinvestimento. Neste último caso, como já foi assinalado, concentrou-se nos negócios que não traziam rentabilidade, enquanto o investimento teve como base de escolha a quota de mercado e o reconhecimento da marca. Entre estes, recorde-se, inclui-se a aquisição de 10 hipermercados à Modelo/Continente no Brasil, negócio celebrado em meados do ano.

Ao todo, o grupo investiu quase quatro mil milhões de euros, cerca de 25% mais do que no ano anterior. Foram inaugurados mais 1,5 milhões de metros quadrados, um crescimento de 50% face à área apresentada durante o exercício de 2004. Mas ainda mais importante foi o facto de o grupo se ter preparado para uma forte expansão para 2006 e anos seguintes, e em todas as frentes de combate. Quer isto dizer que os investimentos vão ser pensados à escala mundial, confirmando o que já aconteceu em 2005, onde a Europa foi alvo de mais 48% ao nível do capital aplicado em crescimento, as Américas 11% e a Ásia 14%. No país de origem, França, o investimento subiu 26%.

Diversificação

De acordo com a administração, a flexibilidade dos formatos explorados será o grande argumento para concretizar as oportunidades de crescimento, como aliás já aconteceu durante 2005. O departamento Dia, por exemplo, cresceu mais em 2005 do que havia evoluído nos cinco anos anteriores. Por outro lado, o desenvolvimento da insígnia Carrefour Express, no formato supermercado, tem sido a forma encontrada pelo grupo para capitalizar o nome do grupo de forma mais abrangente. A cadeia, que pratica os mesmos preços dos hipermercados, abriu 10 unidades em 2005 e contava já com vinte pontos de venda no final do primeiro trimestre do corrente ano, isto para além de o conceito estar a ser testado em Espanha. Já os hipermercados, foram alvo de um acrescento de área dividida irmãmente entre os grandes formatos e a média dimensão, o que espelha bem a actual tendência que se regista na evolução das grandes superfícies.

Outro aspecto particularmente relevante da actividade do grupo Carrefour foi a sua crescente presença internacional. O contributivo de França está agora calculado em 54%, quando em 2004 a percentagem ascendia aos 63 pontos. O resto da Europa significa agora 36 pontos percentuais, contra 30 no ano anterior, a Ásia 6% (em 2004 valia 4%) e as Américas quatro por cento, contra três pontos um ano antes. E isto acontece num cenário de desinvestimento em relação aos negócios com performance negativa.

A administração do grupo considera que estes resultados «reflectem a execução das decisões estratégicas» e sublinha que o grupo «pagou o preço em França que já sabia que iria pagar». A política comercial passou todavia por um reforço do portfólio internacional e pela preparação de um plano de crescimento orgânico mais acelerado, apesar da redução do endividamento e da manutenção dos indicadores financeiros mais importantes em valores semelhantes aos do exercício anterior.

Uma última palavra para o comportamento do primeiro trimestre de 2006, cujos resultados foram já avançados pelo grupo. As alterações parecem estar a surtir efeito. As vendas evoluíram 8,3% por comparação com igual período de 2005, sendo que em França registou-se uma evolução de cinco por cento em termos gerais e de 2,7% numa base comparável face ao parque de lojas. Os hipermercados cresceram 4,3% (2,7% também no like for like) impulsionados pelo crescimento das vendas alimentares em 3,2 pontos, ao mesmo tempo que a vertente não-alimentar decrescia 1,2%. Os supermercados cresceram 5,5% (3,2% no like for like), ao mesmo tempo que o discount aumentava 14,5%. No entanto, este comportamento do conceito deve-se na totalidade ao aumento do número de lojas, uma vez que numa comparação directa as vendas desceram 0,5%. Em comunicado, a administração do grupo reitera como estratégia prioritária a política de preço e acrescenta que mantém planos para abrir mais 1,5 milhões de metros quadrados durante o exercício.