Distribuição

Exemplo a seguir

Por a 11 de Maio de 2006 as 18:29

Aznar

José Maria Aznar veio revelar no 2.º Congresso do Comércio Moderno, organizado pela APED, como foi possível colocar Espanha entre as oito principais economias mundiais. Num país onde imperava a falta de confiança, a constante ameaça terrorista e o desemprego era considerado um flagelo, Aznar conseguiu, numa década apenas, transformar o país vizinho.

«Saber o que queria para o país e depois colocá-lo em prática”. Foi desta maneira que José Maria Aznar, ex-primeiro-ministro espanhol, tornou Espanha numa das mais importantes economias mundiais em apenas dez anos. Dito desta maneira, parece fácil, mas como revelou o antigo responsável pelo governo espanhol e ex-presidente do Partido Popular do país vizinho, “a nossa estratégia exigia tomar decisões que, para muitos, eram consideradas impopulares, mas que seriam de extrema importância para colocar Espanha no caminho do sucesso. No fundo exigia-se a tomada de decisões, ou seja, era preciso governar e bem para tirar Espanha da situação complicada em que se encontrava”.

Em 1996, ano de entrada em funções de Aznar à frente o executivo espanhol, Espanha encontrava-se mergulhada num clima de falta de confiança, tanto por parte dos empresários, bem como dos consumidores, envolta em escândalos burocráticos e governativos, ameaçada pelo terrorismo da ETA, desafio para o qual, na opinião de Aznar, “as respostas não eram adequadas”, com uma taxa de desemprego altíssima (aproximadamente 24%), no fundo, com uma situação económica comprometida, referindo o ex-primeiro-ministro, como exemplo dessa falta de sustentabilidade económica e financeira, o facto de “entre 1992 e 1993, a moeda espanhola ter desvalorizado cinco vezes, o que para uma democracia jovem como era e continua a ser a Espanha era de extrema gravidade”.

E o que queria José Maria Aznar para Espanha em 1996? “Transformar a economia, desenvolvendo-a e devolvendo a confiança (pedra basilar para o desenvolvimento de qualquer país) aos empresários e consumidores, tentar acabar com o terrorismo que constituía uma ameaça para todos os espanhóis, situar Espanha a nível internacional, conseguindo colocá-la entre as grandes democracias e economias do mundo. Tudo isto teria de ser alcançado no período de oito a dez anos, o que provocou algumas reacções menos concordantes e até bastante cépticas em relação ao nosso programa”, admitiu Aznar.

Ponto de ruptura

“Era tempo de agir”, referiu José Maria Aznar no 2.º Congresso do Comércio Moderno, adiantando que “tínhamos chegado a um momento em que Espanha não tinha capacidade para aderir ao Euro”, admitindo que “muitos não queriam, mas eu queria estar no Euro”. Considerando que a moeda única europeia era uma data histórica que Espanha não poderia falhar, “sendo obrigatório estar no primeiro grupo de adesão”, o governo espanhol aprovou, em apenas 20 dias, o maior pacote de liberalização dos últimos 50 anos, de modo a dar um impulso e estímulo de confiança à economia.

Iniciando fortes cortes na função pública, constatando-se que os gastos com o Estado nunca evoluíram acima do crescimento da economia, Espanha passou em apenas dois anos de sete para dois por cento de deficit e, no computo geral dos primeiros cinco anos, de sete por cento para uma situação de superávit. Para estimular a economia e criar um clima de estabilidade, “fundamental para a confiança”, o executivo espanhol liderado por Aznar implementou uma reforma fiscal que levou a duas baixas de impostos para todos os contribuintes: 1998 com uma descida de 10 pontos percentuais e em 2001 com nova diminuição de 12,5%. “A redução da carga fiscal para os contribuintes e, principalmente, para as PME´s foi fundamental para o relançamento da economia”, sendo esta medida seguida pela abolição do Imposto de Sucessão, assim como a possibilidade de se poder movimentar novamente as poupanças, o que até aí estava vedado, permitindo assim um aumento da movimentação de capitais e fortes investimentos na bolsa”, concluindo o agora presidente da Fundação de Estudos Sociais e Análises que “quem em 1996 era da opinião que ao baixar os impostos não iríamos criar condições para desenvolver a economia, em pouco tempo se apercebeu que estava errado”.

Além da reforma fiscal, também a questão laboral não foi deixada ao acaso, trabalhando o governo de Aznar em conjunto com sindicato e entidades patronais, de modo a possibilitar uma maior flexibilidade nas políticas laborais, “o que não é igual a precariedade”, admite o antigo responsável pelo executivo espanhol. “O facto é que Espanha possuía 12,8 milhões de trabalhadores em 1976, tendo esse número descido para 12,2 milhões em 1996. De 1996 a 2004 criámos seis milhões postos de trabalho, fixando o número da população activa nos 18,2 milhões”. Do ponto de vista da rentabilidade, Aznar veio revelar ao 2.º Congresso do Comércio Moderno que, em 1966, Espanha se ficava pelos 78%, fixando esse valor em 84%, em 2004, colocando-se como quinto país a receber mais fundos da União Europeia. Também do ponto de vista da imigração, Espanha abriu as suas portas, passando de 300 mil imigrantes (em 1996) para quatro milhões, em 2004.

No fundo, a liberalização que as políticas do governo de Aznar vieram trazer, proporcionaram não só uma maior dinamização da economia, fruto das privatizações, acabando desta maneira com alguns dos monopólios existentes, como garantiram “uma revolução de competência em território espanhol”.

Espanha no G8

As políticas implementadas pelo executivo de Aznar não tiveram, no entanto, só repercussões a nível interno. Também no palco externo, Espanha conseguiu afirmar-se como um dos principais players, afirmando o ex-primeiro-ministro que “foi fundamental uma maior abertura ao exterior. Não podíamos ter medo ou receio da globalização, uma vez que esta era um dado adquirido”. José Maria Aznar não deixou, contudo de lançar algumas farpas à situação actual vivida no espaço europeu, referindo que “esta Europa não cresce, porque não são cumpridas as várias políticas ao nível económico e financeiro e respectivas sanções. A estratégia de Lisboa não foi seguida e em vez de nos adaptarmos a estes novos tempos (globalização), preferimos o proteccionismo”.

Apontando como datas históricas para o desenvolvimento interno e afirmação externa da Espanha, 1960 marca um salto na economia do país vizinho, constituindo 1986 uma referência com a entrada na então CEE (Comunidade Económica Europeia), admitindo o antigo chefe de governo espanhol que o período entre 1996 e 2004 viu a riqueza nacional aumentar em 68%.

Reafirmando a posição de que é fundamental para o sucesso da Europa, esta ter uma visão construtiva e aproveitar o derrube da cortina de ferro, dinamizando os negócios no espaço dos agora 25, também “é verdade que a Europa não pode esquecer o seu carácter Atlântico e garantir boas relações com os Estados Unidos da América”, admitindo, para alguns de forma polémica, que “não faz sentido que países que respeitem os mesmos valores democráticos que nós não sejam integrados na NATO”, referindo-se ao Estado de Israel.

Quanto às relações entre Espanha e Portugal, Aznar foi bem claro ao reafirmar a sua profunda convicção de que “o sucesso de Espanha depende do sucesso e desenvolvimento de Portugal e vice-versa. Não faz sentido falar de Espanha e Portugal separadamente. Os dois países que formam a Península Ibérica possuem um capital que poucos países na Europa detêm: a ligação à América do Sul. Tanto Espanha, com os países hispânicos, como Portugal com a sua estreita ligação ao Brasil, bem como a África, poderão dinamizar os seus negócios, fazendo cada vez mais sentido falarmos da Ibéria e menos de Espanha e Portugal separadamente”.

Questionado sobre que conselho deixaria ao responsável pelo governo português, de modo a “copiar” a fórmula de sucesso adoptada em Espanha, Aznar não deixou de ser politicamente correcto, afirmando que “não me cabe a mim dar conselhos ao primeiro-ministro português sobre as políticas a adoptar no País. Espero sinceramente que as reformas que o governo português deseja implementar tenham sucesso e que levem Portugal a um desenvolvimento sustentado, de modo a fortalecer a sua posição na Europa, para, em conjunto com Espanha, afirmar a Península Ibérica no Mundo”.

A finalizar a sua apresentação, Aznar deixou a questão: “sendo Espanha a 8.ª economia mundial, quanto tempo faltará para fazermos parte do G8 (Canadá, EUA, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Rússia e Japão)?”. Pois bem, a resposta dada pelo próprio não adiantou uma data, mas “o facto de Espanha ter conquistado um lugar entre os países mais desenvolvidos e economicamente mais importantes e influentes no Mundo leva-nos a pensar que temos lugar, por direito próprio, a figurar nesse grupo”.