Transacções a alta velocidade

Por a 5 de Abril de 2006 as 11:11

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É o último grito de tecnologia em gestão de armazém, loja e produção: etiquetas com capacidade para reunir informação detalhada sobre o produto à qual estão associadas, reutilizáveis mas difíceis de reproduzir. Trata-se de um sistema que permite ler múltiplas etiquetas em simultâneo, assim como receber e carregar stocks num só passo. Conheça as vantagens e limitações da Identificação de Produtos por Radiofrequência

A Identificação de Produtos por Radiofrequência (RFID) pode vir a transformar o sector do retalho. O primeiro projecto implementado a nível da cadeia de abastecimento foi em 2004, por parte do grupo Metro, nos Estados Unidos, com soluções de software da IBM. Meses depois a empresa apresentou resultados, leia-se números, encorajadores: menos 18 por cento nas perdas de stocks, 15 por cento nas situações de ruptura de stock e um aumento de 17 por cento na eficiência dos processos de negócio.

O projecto-piloto envolveu 25 fornecedores e 20 centros de distribuição e lojas do grupo. Cerca de cinco meses depois, os centros de distribuição conheceram uma redução de 22 por cento no tempo de entrega dos produtos e de 80 por cento no tempo dispendido a validar os bens recebidos. Quanto às lojas, essas reduziram o tempo de entrega em 25 por cento e o tempo dispendido com a verificação da mercadoria em 75 por cento.

Fujitsu, IBM, SAP, Siemens, Zetes Burótica, Itautec e ADT são empresas que comercializam a tecnologia em Portugal, quer em termos de serviços de consultoria quer a nível de implementação e monitorização de projectos RFID.

Identificação automática

O RFID pode ser definido como uma etiqueta electrónica que contém uma antena de rádio, um sistema que processa e armazena informação e um código de identificação (EPC – Código de Identificação do Produto). A tecnologia permite identificar automaticamente «uma embalagem através do código de barras e associar a informação contida na etiqueta aos dados operacionais (ou de gestão) do artigo que lhe corresponde na base de dados da organização. Ou seja, a identificação automática é rápida, inequívoca e elimina erros», explica João Carvalho, Director da Unidade de Negócio de Retalho da Fujitsu. A principal diferença face ao código de barras tradicional é precisamente o facto de o «produto ser único, ter uma referência exclusiva» (ver quadro). Por outro lado, acrescenta o responsável da Fujitsu, a tecnologia RFID permite «conhecer todos os itens que existem num determinado espaço de forma automática».

As etiquetas «podem ser passivas ou activas, estas últimas têm a particularidade de incluírem uma fonte de energia que auxilia a transmissão do sinal para o leitor», elucida Nuno Gaspar, consultor de gestão da IBM. Por outro lado, estas não precisam de estarem à vista para serem lidas e devem colocar-se idealmente na origem do processo de fabrico, apesar de poderem ser aplicadas em qualquer ponto da cadeia de valor. Isto porque, uma das grandes vantagens para o consumidor é a segurança que a tecnologia oferece, sobretudo na área alimentar. Num exemplo prático: imagine que determinado produto não reúne condições para ser comercializado. Através das informações que a tecnologia permite agregar, os parceiros da cadeia de abastecimento sabem qual a origem desse produto, o seu percurso e a sua localização exacta.

Desta forma, podem retirá-lo imediatamente do mercado. Mas, como explica Cláudia Matias, da SAP, «as soluções inteligentes não resolvem por si só os problemas das empresas. O potencial máximo do RFID só será aproveitado se os dados que disponibiliza forem integrados nos processos de negócio da empresa e partilhados com a rede de parceiros de cada negócio».

O leitor de radiofrequência pode ser fixo ou móvel e deve ser colocado em pontos estratégicos que vão desde as portas do armazém e zonas de carga e descarga até aos lineares das lojas.

Quanto à distância que a etiqueta pode ter em relação ao leitor, esta «varia de alguns centímetros às dezenas de metros, dependendo da frequência, da potência de saída e da sensibilidade direccional da antena», explica João Coutinho da Zetes Burótica. Para exemplificar, o responsável indica que o sistema «HF é usado para aplicações de curto alcance e permite leitura até três metros. Já a tecnologia UHF oferece uma distância de leitura de 20 metros».

Um passo, várias tarefas

Segundo João Carvalho a mobilidade que caracteriza a tecnologia RFID é a sua grande mais-valia. «A capacidade para transportar as funcionalidades do sistema para o espaço operacional e simplificar a execução dos processos de negócio. A título de exemplo, as tarefas de recepção e carregamento de stocks podem ser executadas num só passo, com rigor e em tempo real».

Dentro do leque das vantagens que o sistema oferece aos retalhistas destacam-se «a redução significativa dos custos de transacção, associada ao decréscimo dos custos de trabalho, do volume de reclamações e trocas, a minimização dos roubos e a diminuição dos custos de inventário (até 20 por cento)», esclarece Nuno Gaspar.

No que diz respeito aos fabricantes, o consultor salienta a capacidade de estes «controlarem virtualmente toda a cadeia de abastecimento, assim como a possibilidade de produzirem à medida, ou seja, maior eficiência operacional». Por outro lado, um dos principais objectivos do RFID é por fim à ruptura de stocks pelo que o consumidor encontrará sempre nas prateleiras os produtos que procura.

Sérgio Filipe, responsável da Siemens, salienta a «adequação da oferta à procura através da eficiente gestão do stock», como principal benefício para os intervenientes da cadeia de valor. Ou seja, «maior disponibilidade (com níveis de stock baixos mas controlados) a baixo preço, graças à diminuição dos custos operacionais tanto para retalhistas como para produtores».

Ainda no que diz respeito às vantagens, a Fujitsu destaca a possibilidade de «ligar cartões de fidelização ao sistema e automaticamente ao cliente enquanto passeia o carrinho de compras pela loja». Assim como, «construir o perfil do cliente em tempo real e relacioná-lo com determinadas promoções», por exemplo. O facto de «os operadores de loja terem capacidade para receber e validar a entrada de mercadoria, realizar com maior frequência inventários e reagir com prontidão a situações correntes de gestão operacional» constituem outros benefícios apontados pelo director da Fujitsu. «Movimentar com maior eficácia produtos perigosos e combater a disseminação de produtos falsificados», são outras vantagens apontadas pela responsável da SAP.

Limitações a ultrapassar

Os produtos que contêm elevadas quantidades de água, pois esta absorve as ondas de rádio, assim como os metais podem ter interferência no reconhecimento dos produtos por RFID. Embora, segundo Sérgio Filipe, desde de que se tenha em conta «a influência electromagnética do metal, não existirá grandes limitações no material a identificar».

No que diz respeito ao preço das etiquetas, a IBM esclarece que nos últimos anos o custo unitário das etiquetas passivas caiu de 2 euros para 30 cêntimos. Desta forma, «é expectável que nos próximos dois, três anos cada etiqueta custe 5 cêntimos ou menos». No caso do equipamento da Siemens, uma etiqueta pode custar entre 2,15 euros e 9 euros, dependendo da aplicação. Já o preço do leitor, regra geral, varia entre 750 a 3.000 euros.

O retorno do investimento, como explica a Fujitsu, verifica-se a longo prazo. No entanto, «nessa altura, as empresas estão em posição de fornecer os mesmos bens que os concorrentes», mas desta feita com «menor custo, além de um serviço eficaz».

Em termos de segurança e privacidade ainda existem algumas dúvidas, uma vez que as etiquetas contêm informações que vão desde o número de identificação até aos dados sobre o produto. «É necessário prevenir o acesso não autorizado à informação e a adulteração ou mesmo duplicação dos dados registados na etiqueta», alerta o responsável da Siemens.

Um estudo levado a cabo pela empresa de consultoria Capgemini concluiu que um dos maiores receios dos consumidores relativamente à tecnologia é a perda de privacidade. «Mais de metade dos inquiridos (55%) mostram-se preocupados com o facto das etiquetas RFID poderem permitir às empresas monitorar os consumidores pela via da compra do produto, enquanto 59% teme que as etiquetas permitam maior liberdade na utilização dos seus dados por terceiros», pode ler-se no estudo.

Compatibilidade de sistemas

Actualmente, a tecnologia enfrenta algumas limitações. Como esclarece Nuno Gaspar, «as etiquetas RFID só transmitem dados caso haja sinal de um leitor que esteja posicionado a uma distância máxima de dois metros». Por outro lado, explica a Fujitsu, «é necessário definir regras para a utilização da tecnologia em espaço de loja». Ou seja, criar «um standard que normalize a identificação de produtos. Este passo é fundamental para que a tecnologia se massifique a médio prazo». Os standards são «regras comuns em relação a dados e componentes tecnológicos. Um exemplo de standards a seguir é o caso do EPC, o código que permite a codificação standard pelos fabricantes e retalhistas de modo a identificar os produtos ao mesmo nível da série», elucida a IBM.

Outra das grandes limitações da tecnologia passa pelo facto de as empresas terem implementado códigos de numeração que representaram grandes investimentos e que podem não ser compatíveis com os sistemas de codificação EPC.

No caso das frequências, a sua variedade também constitui uma limitação. Os sistemas RFID podem usar diferentes frequências de rádio, ou seja, as empresas podem necessitar de ajustes de frequência em diferentes pontos da cadeia.

Soluções à medida

Quanto à receptividade do mercado português ao RFID, esta verifica-se sobretudo nas áreas da Distribuição, Indústria e Consumer Package Goods (CPG). Mas, como explica Nuno Gaspar, «as empresas encontram-se em fase de identificação e avaliação da solução, isto é analisar de que forma a tecnologia pode ser aplicada e quais são as vantagens em termos de custos e de retorno do investimento». No entanto, acrescenta o responsável, «já existem empresas com soluções RFID implementadas, mas não são projectos exclusivos desta tecnologia».

No que diz respeito às soluções em termos de tecnologia RFID, estas variam consoante a empresa. A IBM «tem competências para conceber e implementar soluções RFID completas e integradas com múltiplas aplicações de negócio: desde a construção do business case (que sustenta o plano de negócio) à implementação e rollout de projectos-piloto». Para isso, a empresa oferece um «conjunto de serviços e soluções flexíveis, orientados para um rápido retorno do investimento».

A oferta da Fujitsu passa pela «construção dos chips das etiquetas, equipamentos receptores e software de gestão». Já a gama da Siemens divide-se em três áreas: produção (elevada quantidade de informação), logística (sistema baseado na ISO 15693, EPC Global e ISO/ICE 18000-6, ou seja diferentes tipos de etiquetas podem ser utilizadas em conjunto com este sistema) e, por último, localização (alcance até 300 metros em espaços abertos e 100 em edifícios).

A Zetes Burótica implementa soluções dos vários parceiros com quem trabalha, com sistemas activos e passivos nas várias frequências. «Na área industrial trabalhamos com soluções específicas e dedicadas especificamente à actividade do cliente, já no retalho com leitores fixos ou colocados em terminais portáteis», conta João Coutinho.

Por último, a solução RFID da SAP «reduz a necessidade de múltiplas soluções de integração de dados dos clientes, ao proporcionar a total integração de processos de dados RFID, de forma a optimizar o potencial e o investimento nesta tecnologia», explica Cláudia Matias. «A diminuição da necessidade de criar ligações ponto-a-ponto para partilha de dados RFID com os parceiros de negócio», é, segundo a responsável, a característica diferenciadora da oferta da SAP.

1 – Identificar e expedir com a Auto-ID Infrastructure Empresas podem criar etiquetas com código EPC, através da infra-estrutura de identificação automática, e colocá-las quer nos produtos quer nas paletes para posterior controlo e identificação.

2 – Expansão da visibilidade da empresa, métricas e relatórios Para aumentar a visibilidade dos processos de negócio e geração de informação no sentido de melhorar a gestão desses mesmos processos, a solução SAP será a Auto-ID Infrastruture, em conjunto com a componente de Gestão de Eventos.

3 – Integração imediata de mensagens ASN sem integração em back end Trata-se de ir além da simples identificação de itens. Deste modo, sendo o armazenamento e a gestão da informação cruciais para que se possa tirar maior proveito da tecnologia, a Auto-ID Infrastructure, o Event Management e o Exchange Infrastructure oferecem valor da informação que não é fornecida na fase de identificação, como por exemplo, dados sobre a produção e armazenamento, que incluem datas e prazos de validade, história de manutenção e localização.

4 – Integração total A essência do RFID reside na sua capacidade de integrar qualquer fonte de informação referente ao historial dos itens e fomentada por todos os utilizadores. Dessa informação real e imediata, as empresas podem aproveitar na íntegra as potencialidades da tecnologia RFID, para automatizar processos, ajustar o seu negócio ao mercado sem erros, ajustar a estrutura do negócio, e obter um rápido retorno do investimento. Neste caso, a solução inclui a Auto-ID Infrastruture, o Event Management, o Exchange Infrastruture e os adaptadores RFID.