Distribuição

JM atinge liderança

Por a 5 de Abril de 2006 as 10:25

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O grupo Jerónimo Martins ultrapassou pela primeira vez a barreira dos 100 milhões de euros em lucros, o que configura um recorde no seio daquele que, após a venda da Sonae no Brasil, é agora o maior operador de distribuição português. Se dúvidas ainda houvesse, as contas do último exercício vêm provar definitivamente a oportunidade das alterações estratégicas introduzidas em 2001, as quais permitem uma estrutura financeira sólida e capacidade de investimento para desenvolver os diferentes negócios.

O negócio celebrado entre a Sonae e a Wal-Mart no Brasil colocou o grupo Jerónimo Martins como maior operador de retalho alimentar português, uma vez que mantém intacta a actividade na Polónia, que por sinal corre particularmente bem. Esta vertente de negócio representa já 35% das vendas totais do grupo e 25% dos lucros, sendo a maior divisão no âmbito Jerónimo Martins se considerarmos cada insígnia de forma individualizada.

Num cenário em que a economia polaca evoluiu quatro pontos percentuais, é de destacar o crescimento de 13,4% nas vendas da Biedronka em moeda local (zloty), alavancadas pelo projecto de expansão que continua a bom ritmo (mais 84 unidades em 2005), e também o acréscimo de 5,4 pontos numa base comparável face ao número de unidades comerciais. Se fizermos o câmbio para euros, a evolução ascendeu a 27,3%. A operação na Polónia, de facto, corre particularmente bem: o parque de lojas atinge neste momento 817 unidades e durante 2006 deverá ultrapassar as 900. Inclusivamente, o grupo refez os objectivos iniciais, que passam agora por ter no país entre 1.500 a 1.600 lojas, contra o milhar anteriormente planeado.

Os portugueses são líderes de mercado na Polónia, explorando unicamente a rede discount Biedronka, mas o projecto passa essencialmente por consolidar a operação já desenvolvida. Alexandre Soares dos Santos, questionado sobre a intenção de o grupo avançar para outros mercados, nomeadamente a Leste e provavelmente na Ucrânia, afirmou que essa possibilidade está, de momento, colocada de parte. Outros formatos também não deverão ser hipótese, até porque os activos que o grupo já teve na Polónia (hipermercados e operação grossista) foram vendidos no âmbito da reestruturação estratégica.

Barreira psicológica

Em termos financeiros, o destaque vai claramente para o lucro, calculado em 110,4 milhões de euros (mais 19,3% do que em 2004), valor que constitui recorde histórico na Jerónimo Martins e que ultrapassa a barreira psicológica dos 100 milhões. As vendas ascenderam a 3,8 mil milhões de euros (crescimento de 9,5%), com uma contribuição de 1,3 mil milhões por parte da Polónia. O cash flow operacional atingiu 308,3 milhões de euros, ao mesmo tempo que os custos financeiros reduziram 8,5%. De salientar igualmente o fortalecimento dos capitais próprios e a redução da dívida em 115 milhões de euros (situa-se agora em 497 milhões de euros), apesar do investimento de 168 milhões de euros durante o exercício e da distribuição de dividendos aos accionistas, que ascendeu aos 45 milhões de euros. Para as contas de 2005, o grupo vai propor em assembleia-geral dividendos de 42 cêntimos por acção, revelou ainda Soares dos Santos.

No ano em curso, está planeado um investimento de quase 200 milhões de euros, metade dos quais a serem aplicados na Polónia. O montante será maioritariamente canalizado para abertura de novas unidades, ainda que estejam igualmente previstas algumas remodelações, como aliás já aconteceu em 2005. O grupo pretende abrir cinco Pingo Doce, dois Feira Nova e 84 Biedronka, remodelando paralelamente 14 Pingo Doce, 6 Feira Nova e 64 unidades da cadeia de discount polaca. Será também construído um novo centro de distribuição naquele país até final do ano. Em 2005, refira-se, foram inauguradas 91 novas unidades e remodeladas 89 lojas.

Estrategicamente, declarou Soares dos Santos, o foco continuará centrado na melhoria da eficiência operacional e no investimento em preço, nomeadamente a política de deflação à volta dos três pontos percentuais aplicada na cadeia Pingo Doce durante os últimos anos e, mais recentemente, na Feira Nova.

Ainda no mercado nacional, o negócio dos OTC’s, dadas as dificuldades operacionais, não tem sido uma prioridade para o grupo, mesmo que esteja em estudo uma parceria com a ANF para o mercado polaco. Já os combustíveis, são vistos como «um negócio interessante» para o qual o grupo aguarda resposta aos pedidos efectuados para instalação de postos junto de algumas das suas unidades comerciais.

Retalho nacional

Como se disse, a rede Pingo Doce procedeu a uma inversão estratégica que está a dar resultados muito concretos. A política comercial passou por uma deflação continuada à volta dos três por cento ao ano desde 2001, pela redução de sortido e crescente aposta na marca própria, para além de melhorias ao nível processual e na eficiência operacional. Isto permitiu um reposicionamento da insígnia perante o consumidor, o qual resultou num acréscimo de vendas de 4,6% em valor em 2005, correspondente a um aumento dos volumes transaccionados de oito pontos percentuais.

O próprio grupo sublinha que este desempenho «resulta de uma implementação bem sucedida da estratégia, com base numa oferta de valor aos consumidores que combina preço baixo, conveniência, um sortido de perecíveis de elevada qualidade em lojas próximas e agradáveis, e diferenciação, através da marca própria». Esta última, por exemplo, aumentou vendas em 45% durante o último ano, o que sustenta a alteração da política comercial «inspirada no modelo explorado na Polónia», reconheceu Soares dos Santos.

Quanto ao Feira Nova, segue as pisadas da Pingo Doce, tendo iniciado durante o último ano uma nova política de preços que também passa pela deflação. Segundo o grupo «o novo dinamismo permitiu aos mini-hipers consolidarem a presença no mercado e registarem um significativo crescimento das vendas like-for-like de 5,3% no último trimestre de 2005, bem como 2,2% no acumulado do ano». A empresa destaca ainda o facto de a operação de retalho em Portugal ter registado uma margem EBITDA de 9,7% das vendas «não obstante o ambiente competitivo e o plano de remodelações levado a cabo na Pingo Doce (13 lojas) e no Feira Nova (6 lojas), o qual implicou um período médio de encerramento de um mês por unidade».

Nesta insígnia, merece destaque o crescimento de 8% registado na venda de perecíveis e a evolução de 2% na área não alimentar, para a qual o grupo tem planos de desenvolvimento ambiciosos, entre os quais a constituição da Electric CO como uma empresa autónoma e a internacionalização das insígnias. Os conceitos estão a ser estudados e, no final do ano, declarou Soares dos Santos, «analisado o potencial de cada um, será definido o papel do retalho especializado no grupo».

Além disso, e após dificuldades até ao segundo semestre, o Feira Nova conseguiu inverter a tendência negativa, particularmente nos médios formatos, que cresceram 2,7% no terceiro trimestre e 5,3% nos últimos três meses do ano. Os hipermercados também assinalam luz verde nos dois últimos trimestres de 2005, mas em ritmos bem mais moderados, concretamente de 0,9 e 0,8%, respectivamente. Feitas as contas ao exercício inteiro, os hipermercados, confirmando a menor dinâmica deste formato no mercado nacional, registam uma performance negativa de 0,8%, contudo plenamente compensada pelo crescimento de 2,2% nos denominados mini-hipers. Os resultados da insígnia, para Alexandre Soares dos Santos, são «encorajadores face aos números positivos do final do ano».

Dificuldades na Recheio

Já a Recheio, evoluiu 2,2% no canal Horeca, mas acabou por ver o seu desempenho condicionado pelas dificuldades sentidas no comércio tradicional, decrescendo 2,4% em vendas durante o período em análise. A actividade grossista representa 15% do total de vendas do grupo e é neste momento a única área de negócio com contribuição negativa para os resultados. Apesar disso, existem elementos bastante positivos na actividade, nomeadamente a certificação para o sistema de segurança alimentar em todas as 21 unidades Recheio, a par da dupla certificação, em gestão de segurança alimentar e gestão ambiental, operada nos centros de distribuição Gestiretalho.

Finalmente, no âmbito da actividade doméstica, merece destaque a vertente industrial do grupo, que evoluiu 1,9% em vendas, o que «equivale a 4,5% numa base contabilística comparável» considera a administração. A indústria representa actualmente 6,3% da actividade do grupo, quando um ano antes significava 6,8%. Este dado reflecte acima de tudo a evolução dos formatos de retalho, em particular da Polónia, mas não faz o grupo deixar de se considerar «uma empresa de produtos de grande consumo», como fez questão de deixar bem explícito Soares dos Santos ao salientar que a Jerónimo Martins trabalha tanto a montante como a jusante.

Na vertente industrial, permanecem algumas dúvidas quanto à decisão da Unilever em relação à venda da divisão de congelados, que se espera estar concluída até final do ano. A este propósito, Soares dos Santos desdramatizou a situação – recorde-se que existe uma parceria entre os portugueses e a multinacional – afirmando mesmo que as lojas continuarão sempre a ter a marca própria. E, de facto, se atendermos ao crescimento de quase 50% nas vendas da marca Pingo Doce e também à representatividade da marca própria na Biedronka, a qual ascende a 60% do sortido, tudo indica que esta vertente continuará a ser um eixo estratégico essencial nas políticas comerciais implementadas no grupo.