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Verdes moderadamente positivos

Por a 17 de Março de 2006 as 16:26

Verdes moderadamente positivos

A Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) analisou recentemente o desempenho do mercado no ano 2005. Em termos de vendas, o Vinho Verde registou um aumento de 3,4%, para cerca de 54,4 milhões de litros, sendo este o quarto ano consecutivo em que se observa uma subida. Com a última colheita a ditar um decréscimo de 4,5%, a aposta passa por um incremento nas exportações.

«O Vinho Verde está a recuperar quota de mercado e volta a apresentar-se como um produto competitivo, capaz de assegurar postos de trabalho e riqueza exportadora». Esta foi a forma encontrada por Manuel Pinheiro, presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), para caracterizar a produção e o mercado no exercício de 2005. Apesar de ter consciência de estar longe de um período de euforia, o responsável pela Comissão dos Verdes admite ter «confiança no mercado. Precisamos de investir mais na vinha para garantir a melhoria contínua da qualidade e de reforçar a nossa estrutura empresarial para podermos ser mais profissionais e para abordarmos com sucesso a exportação», acrescenta.

De acordo com os dados disponibilizados pela CVRVV, as vendas dos Verdes subiram 3,4 por cento em volume no ano de 2005, fixando-se nos 54,4 milhões de litros, mais 1,8 milhões de litros que no exercício anterior. Analisando mais detalhadamente estes números, verifica-se que o branco mantém a liderança destacada nas vendas, registando uma evolução de mais de 2,5 milhões de litros, sendo juntamente com o rosado, os únicos dois tipos de vinhos a conhecer uma evolução, já que o tinto e o Regional têm comportamento inverso. Manuel Pinheiro salienta que «é claríssimo o efeito da crise. As vendas de vinho dão sinais positivos em volume, crescendo 3,4 por cento, mas os preços médios comprimem-se. Em contrapartida, é um período excelente para comprar bons vinhos a preço de saldo», admitindo que «quem fica a ganhar é o cliente».

Redução não preocupante

A apresentação “Vinho Verde – Vendas e Colheitas de 2005/Objectivos para 2006” revelou uma quebra total superior a 4,4 por cento na vindima de 2005 face à de 2004. A campanha actual totalizou 91,5 milhões de litros, ou seja, menos 4,3 milhões de litros que em 2004, colocando-a como a terceira maior campanha deste século, mas bem longe dos 128,3 milhões de litros alcançados em 2001/2002. Estes resultados, no entanto, não preocupam os responsáveis pela CVRVV, «bem pelo contrário. Face ao stock excedentário, é bem vinda», admite Manuel Pinheiro, salientando que «para um mercado que se situa entre os 60 e 70 milhões de litros, o ideal seria uma produção 10 a 15 milhões de litros acima desta e não 30 milhões».

Responsáveis por esta quebra na produção foram principalmente os Vinhos Verdes brancos e tintos, apresentando descidas de 5,05 e 5,36 por cento, respectivamente. No caso dos brancos, a redução significa menos 3,1 milhões de litros de vinho, ficando o total da produção ligeiramente acima dos 58,5 milhões de litros. Já nos tintos, a quebra de 1,5 milhões de litros, coloca a produção no ano de 2005 acima dos 27,7 milhões de litros, isto é, no conjunto o mercado irá receber menos 4,6 milhões de litros destes dois tipos de vinho.

As subidas ficaram a cargo do vinho rosado e do mosto, embora com evoluções muito díspares. Enquanto no mosto a subida de 3,5 por cento significa mais 140 mil litros, fixando o valor total acima dos 4,15 milhões de litros – a maior produção deste século -, a subida de 35 por cento registada no rosado, significa mais 261 mil litros, ultrapassando este tipo de vinho pela primeira vez, o milhão de litros. Neste caso, o presidente da CVRVV salienta que, «o aumento parte de uma base baixa e por isso o valor percentual é maior. Com efeito, há um renascer do mercado de rosé em Portugal e na exportação», embora Manuel Pinheiro admita não estar perante um «produto milagre, mas é bom ver um novo segmento de mercado a abrir». De referir ainda o vinho Regional que sofreu uma diminuição de mais de 11 por cento, fixando a sua produção nos 2,6 milhões de litros, ou seja, menos 330 mil litros.

Problemas a resolver

Apresentando uma área de vinha de 35 mil hectares e mais de 289 mil parcelas para 47 mil produtores de uva, chega-se rapidamente à conclusão que a média de área de vinha por produtor é inferior a um hectare. Se tivermos em conta o Estudo Porter, encomendado pela ViniPortugal ao Monitor Group e que traça alguns caminhos de sucesso para os vinhos portugueses, verifica-se que a situação na região dos Vinhos Verdes é, de facto, insustentável. O estudo elaborado pelo Monitor Group conclui que, para se ter alguma rentabilidade, serão necessários no mínimo cinco hectares e uma viticultura adequada e planeada. Manuel Pinheiro refere que «o aumento da área média de vinha é um objectivo, mas temos a consciência de que é um trabalho geracional. Mente quem anunciar que consegue emparcelar em menos de uma ou duas décadas». Este não é, contudo, o único problema que a Região enfrenta, já que com um vastíssimo número de marcas, o consumidor “perde-se” na hora de escolher um vinho. «Há empresas e marcas a mais. Estamos com 615 engarrafadores e mais de 2.000 marcas. O cliente vai-nos obrigar a corrigir esta situação e, das duas, uma: ou a corrigimos voluntariamente, ou a corrigimos sem alternativas», concluindo o presidente da CVRVV que «a escolha é realmente nossa».

Outro problema que a Região enfrenta diz respeito às existências que, de ano para ano, vão aumentando. Se, em 2003, estas se cifravam em quase 113 milhões de litros, o ano seguinte veio disparar este volume para perto dos 118,5 milhões de litros, com a actual campanha a agravar o problema, uma vez que o total das existências, de acordo com dados fornecidos pela CVRVV, se fixa um pouco acima dos 119 milhões de litros. Neste capítulo, Manuel Pinheiro aponta a exportação como a única solução viável. «O mercado nacional está a consumir um pouco acima dos 40 litros per capita/ano e vai diminuir gradualmente. É a mudança geracional: hoje já não se bebe vinho a todas as refeições. O mesmo se passa em todo o sul da Europa. Ora, face a isto, nem vale a pena saldar vinho no mercado nacional: a resposta certa é aumentar a quota de exportação».

Solução: exportar

Tendo ganho quota no mercado nacional, apresentando uma evolução que leva a Região a deter actualmente 16,8 por cento (em 2004 era de 16,1), o grande objectivo por parte dos Vinhos Verdes é, sem dúvida, conseguir aumentar os níveis de exportação. O presidente da CVRVV destaca, contudo, o investimento por parte da Comissão, bem como o das marcas e das próprias características do produto que se vem a impor pela sua personalidade e pela gradual melhoria da qualidade. «Verificamos com muita alegria que algumas das principais empresas do País escolheram as suas marcas de Vinho Verde para nelas fazerem fortes investimentos publicitários», dando como exemplo a Sogrape, Aveleda e Unicer.

O plano de marketing da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes para o ano de 2006 prevê um investimento global de 1,25 milhões de euros, divididos pelo mercado nacional (740 mil euros) e pelos mercados externos (512 mil euros). Poderá, no entanto, parecer estranho que para os mercados externos, o investimento seja menor do que o reservado para a vertente nacional, explicando Manuel Pinheiro que do orçamento de marketing da CVRVV será investido nos mercados externos «cerca de 40 por cento», dado representarem apenas 15 por cento das vendas. «É um sinal que queremos dar às empresas para as incentivar a buscar novos mercado. Portugal só tem dois vinhos que se distinguem de todos os outros no mercado mundial: o Vinho Verde e o Vinho do Porto», admitindo que «não podemos deixar de rentabilizar esta característica».

Enquanto o investimento em marketing a nível nacional terá como objectivos manter e assegurar meios eficientes de comunicação, bem como promover a Região dos Vinhos Verdes, gerar experimentação, incentivar a evolução qualitativa, potenciar a comercialização, aumentar a notoriedade (brand awareness) e colocar os Vinhos Verdes no top of mind, a nível internacional, as feiras e provas/degustações terão um papel fundamental.

Escolhidos como alvos prioritários aparecem países como a Alemanha, Brasil, Estados Unidos da América, França, Reino Unido, Angola, Canadá e Suiça, entre outros, ressalvando o presidente da CVRVV que a exportação será uma “tábua de salvação”, «mas o simples investir na promoção num dado mercado pode não ter efeitos (por muito investimento que haja), se paralelamente os produtores não garantirem importadores e distribuidores dos seus vinhos».

Uma espécie de “aviso” que, por muito que custe ouvir, é bem real, já que qualquer investimento em marketing e promoção por parte de qualquer entidade não terá qualquer efeito se os próprios agentes económicos não suportarem as apostas feitas pela Comissão. Exemplo disso mesmo, são as participações em feiras internacionais que terão de ser encaradas a médio/longo prazo, de modo a produzirem algum retorno e não numa lógica de participação única que terá pouca viabilidade num futuro próximo. Daí talvez, a aposta da CVRVV passe pela consolidação nos mercados em que já estão presentes (casos da Alemanha, Brasil EUA e Angola), em detrimento da abertura de mercados míticos como a China ou o Japão.